Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Já estava de pé quando a pesada porta de aço se abriu, empurrada pelo mesmo homem engravatado de sempre. Os cabelos grisalhos, impecavelmente penteados, contrastavam com o sorriso ensaiado, daqueles que nunca alcançava os olhos. Estava pronta para levar a garotinha até a sala no fim do corredor. A sala que alimentava seus pesadelos, que a mantinha acordada à noite, pior, até, do que o quartinho escuro onde era jogada sempre que desobedecia.
Agora estava sentada na cama, uma estrutura de metal, um colchão fino demais com um lençol usado como cobertor. As paredes, brancas e frias como as de um hospital, ela imaginava, já que nunca estivera em um, pareciam sugar qualquer vestígio de calor. Mantinha as pernas dobradas contra o peito, vestindo a camisola de sempre. O ar tinha cheiro de produto químico, incomodando suas narinas, e a lâmpada branca no teto iluminava tudo sem piedade. No canto do quarto, uma câmera observava, registrando cada segundo da sua rotina.
O número sete cravado em seu pulso parecia coçar só de sentir a presença daquele homem, sentir suas mãos estranhamente quentes sobre seu rosto e cabelo escuro raspado, acariciando como qualquer pai faz com sua filha. Sempre fechava os olhos diante daquele mínimo carinho, o único que receberia por muito tempo, agarrando-se à ilusão de que vivia uma infância comum, como a de qualquer outra criança.
Mais duas figuras adentraram o cômodo, vestindo jalecos e segurando pranchetas, falando sobre como ela parecia bem para os próximos testes e já era grande o bastante para avançar uma fase. Estavam sempre falando por ela e nunca, realmente, perguntando diretamente para a garota se estava bem para testes ou se já era grande o bastante. Como podia saber se é crescida como dizem quando nem sabe a sua própria idade?
Seu pai apertou as mãozinhas geladas e trêmulas e sorriu mais uma vez. Nunca foi boa com expressões faciais, mas ela conseguia entender o recado sem dificuldade. Estava na hora.
Levantou-se da cama devagar enquanto o quarto girava ao seu redor, os pés descalços alcançaram o chão, tão frio quanto o restante do ambiente, fazendo sua nuca arrepiar e calafrios percorrerem-lhe o corpo. Os dois médicos saíram à frente, seguidos por ela e pelo homem engravatado. Ela segurava a mão dele com força, sem saber ao certo se apenas fingia coragem, ou se o medo era real.