── Não precisa ter medo, número sete. É só mais um teste, como fazíamos antes, agora para garotas grandes como você. ─ Ele disse com um falso carinho, mas ela acreditou, sempre acreditava.
O corredor chegou ao fim depois de ela contar cinquenta e sete passos, e então uma porta, igualmente pesada e de aço, se abriu, revelando uma salinha desconhecida aos seus olhos. Havia uma maca em um dos cantos, ao lado, uma mesinha de metal sustentava um aparelho que ela nunca tinha visto. Mais ao centro, uma mesa maior, também de metal, acompanhada por duas cadeiras.
O aparelho fazia um zumbido constante, mesmo sem ter luzes ligadas, um inseto parecia estar preso lá dentro. Era maior do que qualquer outro aparelho que já havia visto, grande demais na mesinha e barulhenta demais, claramente não tinha sido feita para alguém do tamanho dela. Tudo nela parecia sério, definitivo. Não havia nada suave, nada que parecesse feito para ajudar. Só metal, fios e silêncio entre um som e outro.
Ela sabia, mesmo sem entender como, que aquela máquina mandava mais nela do que qualquer adulto naquela sala.
A garotinha foi levada até a maca alta. Precisou da pequena escada para subir e, ao se deitar, sentiu o lençol frio sob o corpo. Manteve os olhos presos ao teto, contando as luzes uma a uma, procurando formas nas rachaduras como se pudesse transformá-las em desenhos. Fazia tudo possível para não ouvir o que tanto falavam dela. Até que sentiu um toque em seu ombro e não teve outra escolha senão erguer o olhar, devolvendo-o ao do pai.
── O doutor Kelvin vai colocar os aparelhos em você, os mesmos de sempre, e depois vamos usar um choque bem leve para ativar suas visões. Acha que consegue fazer isso? Não vai demorar. ─ O homem disse mantendo seu tom calmo, a mão no ombro dela sempre fazendo suas mãos tremerem.
Ela assentiu, ciente de que não seria leve, nem rápido, e que iria doer. Ainda assim, assentiu, porque não havia para onde fugir. Preferia se agarrar àquelas mentiras, mesmo que precisasse repeti-las para si mesma, a tentar entender tudo e acabar perdendo o pouco que ainda tinha.
Doutor Kelvin colocou os aparelhos em sua cabeça raspada, o metal dele também gelado contra a pele quase sem cor da morena, que logo começou a medir suas ondas cerebrais. Outra máquina marcava seus batimentos cardíacos e então um mordedor de borracha foi colocado em sua boca, protegendo seus dentes, ainda de leite, dos espasmos causados pelo choque. Seus pulsos e tornozelos foram presos à maca com cintos de couro, apertando até deixar as mãos e os pés formigando.
Não fechou os olhos enquanto esperava a onda de eletricidade preencher todo o seu corpo pequeno, mas respirou fundo, imaginou todas as flores que desenharia depois dali e da gelatina azul do almoço. Ela sentiu e viu quando duas hastes metálicas, protegidas com o que parecia uma toalha, foram colocadas contra suas têmporas, prontas para serem presas à pele.
Quando o primeiro choque veio, foi diferente de tudo o que imaginava.
Tudo ia além da dor aguda em sua cabeça, era o corpo inteiro esquecendo como funcionar ao mesmo tempo. Um impacto súbito, invisível, atravessando-a por dentro, fazendo seus músculos se contraírem sem permissão. O ar parecia ser arrancado de seus pulmões, como se respirar tivesse sido temporariamente proibido. O som desaparecia primeiro, mesmo com um grito abafado, infantil, rasgando sua garganta frágil. Depois vinha a luz, branca demais, forte demais, explodindo atrás dos olhos fechados. O coração batia rápido e errado, e ela não sabia se o tremor vinha da máquina ou dela mesma.
No começo, as imagens não viravam nada. Eram só pedaços misturados no meio da dor: corredores compridos, barulhos altos como gritos de ambulância, luzes vermelhas piscando, algo correndo rápido demais. Ela não entendia o que estava vendo, e a primeira coisa que pensou foi que estava morrendo. Ali mesmo. Que não ia mais brincar na sala do arco-íris, nem ganhar balinhas por bom comportamento.
JE LEEST
𝗕𝗢𝗬𝗦 𝗗𝗢𝗡'𝗧 𝗖𝗥𝗬 : 𝗌𝗍𝗋𝖺𝗇𝗀𝖾𝗋 𝗍𝗁𝗂𝗇𝗀𝗌 𝖿𝖺𝗇𝖿𝗂𝖼 ੭
Fanfictie،،̲ ﹕𝐀𝐐𝐔𝐄𝐋𝐄 𝐄𝐌 𝐐𝐔𝐄... 𝅄 ⁀ 𝗈 𝗊𝗎𝖾 𝗉𝖺𝗋𝖾𝖼𝖾 𝗎𝗆 𝗌𝗂𝗆𝗉𝗅𝖾𝗌 𝖽𝖾𝗌𝖺𝗉𝖺𝗋𝖾𝖼𝗂𝗆𝖾𝗇𝗍𝗈 𝗇𝗈 𝖽𝗂𝖺 𝟨 𝖽𝖾 𝗇𝗈𝗏𝖾𝗆𝖻𝗋𝗈 𝖽𝖾 𝟣𝟫𝟪𝟥 𝗆𝗈𝖻𝗂𝗅𝗂𝗓𝖺𝗋 𝖺 𝖼𝗂𝖽𝖺𝖽𝖾 𝖽...
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