O Colecionador de Segredos ✾ JOTAKAK

✾1. a leitura às escondidas na biblioteca de Morioh

— Vocês ficaram sabendo da fofoca que anda circulando pela escola? Aquela sobre aquele garoto baixinho da nossa sala, Koichi Hirose...

— O Nori nem gosta de fofoca, Rohan. O que houve?

— Aquele garoto, daquele tamanho, anda se pegando com a Yukako depois da aula, acredita? Minhas fontes me disseram que eles estavam no maior amasso no telhado da escola ontem. Bizarro.

Rohan parecia ter um fascínio enorme em falar e saber mais sobre a vida dos outros, era um pouco doentio às vezes, mas não nego que uma fofoca inocente caía bem de vez em quando. Infelizmente aquela não era tão boa ao ponto de tirar a minha atenção do desenho que eu fazia enquanto o jogo do time de basquete da Escola Budogaoka jogava, então meu melhor amigo falhou na missão.

Felizmente, minha atenção estava toda voltada aos traços que eu rabiscava discretamente, tentando não deixar que ninguém visse. Meu caderno de rascunhos era praticamente um tesouro guardado a sete chaves e se caísse nas mãos erradas, eu estaria frito. Descobririam dois segredos meus numa paulada só. Então era melhor sempre estar atento.

— Eu disse que o Nori não gosta de fofocas, ele nem se interessou, viu? O que você anda desenhando aí, hein? Vai dizer que é uma versão hiper sensual do Jotaro de novo.

Imediatamente fechei minha cara e olhei para meu outro amigo, Josuke, como se eu pudesse fuzilá-lo com meus olhos. Aqueles dois, Rohan Kishibe e Josuke Higashikata podiam ser as pessoas que eu mais amava no mundo e adorava estar com eles, mas ambos sabiam muito bem como me tirar do sério, principalmente quando o assunto era Jotaro Kujo.

— Se você puder, por favor, parar de falar merda, eu agradeço. E que coisa nojenta você falar algo do tipo sendo que ele é seu parente! Eu não desenho versões sensuais do Jojo... Ele só me inspira para os meus personagens, droga!

Rohan e Josuke se olharam imediatamente e eu fui motivo de chacota, tendo em vista suas risadinhas de quem não me levava a sério. Ei, eu não fazia esse tipo de coisa, ok? Jotaro Kujo sempre foi uma ótima inspiração para os personagens que eu desenhava, ele era exatamente o tipo de cara que eu imaginava em um romance bem meloso do jeito que eu gostava — isso se você levar em consideração de que eu era apaixonado por ele desde o jardim de infância.

Isso me leva a falar sobre os meus dois segredos. Eu, Noriaki Kakyoin, guardava duas grandes coisas comigo que eu não podia contar a ninguém que não fosse meus pais, minha prima Ryoko e meus dois melhores amigos. A primeira coisa era mais difícil de se manter em segredo, por isso me demandava um esforço descomunal: Eu era completamente apaixonado por Jotaro Kujo desde que éramos crianças e eu simplesmente nunca cogitei a possibilidade de reciprocidade porque tinha certeza de que ele era hétero. Além do mais, com o passar dos anos, nós nos afastamos muito por conta de interesses e ciclos sociais opostos. Claro, eu andava com dois patetas açucarados iguais a mim e Jotaro, que jogava no time de basquete, estava sempre com aquele grupo meio... detestável de atletas e pessoas mais populares entre os alunos da Budogaoka. Não tínhamos mais nada em comum desde que saímos do jardim de infância, apesar dos meus sentimentos permanecerem iguais por todos esses anos. E já que eu tinha que me conformar em viver assim, eu o desenhava constantemente, o que me leva ao meu segundo segredo: Eu era mangaká da editora Kadokawa desde os meus dezesseis anos, assim como Rohan, mas não podíamos deixar que isso vazasse de forma alguma, pois seria muito ruim se soubessem que nós éramos as cabeças por trás de obras famosas sendo estudantes.

Era um pouco triste ter que esconder esse fato sendo que eu via, todos os dias, diversos alunos com volumes dos meus mangás, lendo e amando o que eu escrevia, mas não podia me revelar sendo o autor. Claro que eu entendia que isso era uma questão de confidencialidade e para evitar vazamentos, mas seria bom ser reconhecido por meu trabalho às vezes.