🩸: um segredo a mais, um segredo a menos

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As horas passaram voando diante dos olhos angustiados de Frank.

Ele se lavou, trocou de roupa e colocou a cabeça na parede por alguns minutos antes de decidir abrir a porta. Seus amigos estavam lá embaixo, não confraternizava com eles desde que Gerard deu-se a liberdade de zanzar pela casa como se a mesma fosse sua.

Se fosse humano, diria que estava tendo um ataque de pânico naquele instante, mas talvez fossem só os nervos. Ele não sabia diferenciar. Caminhou trêmulo pelo corredor e desceu a escada até a sala; Pete estava sentado no chão, de olhos fechados e com a cabeça serenamente apoiada sobre a perna esquerda de Mikey, que acariciava seu couro cabeludo gentilmente enquanto lia para ele.

"Onde estão os outros?" Perguntou de repente, quebrando o clima ameno que enfatuava o ambiente. Nenhum dos dois se moveu, Mikey continuou com os olhos pregados no livro, embora nada mais dissesse, a outra mão intacta na cabeça de Wentz foi parando de se mover aos poucos. A lareira ligada dava à sala um ar aconchegante. Alguma sinfonia da qual Frank desconhecia tocava no pequeno gramofone.

"Gerard saiu com Timmy." Foi tudo o que ele disse em resposta, levantando o olhar brevemente para fita-lo obliquamente. Pete fez o mesmo.

"Eles-eles o que?!" Deu mais alguns passos até que sua mão segurasse o arco de entrada com força. "Para onde?!"

"Não faço ideia, mas você já sabe que Gerard tem uma inclinação forte à desordem, eu te disse isso semanas atrás. E Timmy..." Ele colocou um marcador e fechou o livro com delicadeza. "Timmy também teve sua época." Pete sorriu contidamente, com uma mão sobre os lábios. "Talvez ele esteja revivendo suas antigas paixões humanas." Frank ficou plantado ali feito um palerma. Gerard mal havia chegado, e já estava levando seus amigos consigo em seu abraço de serpente. Um nó se formou em sua garganta. "Eles têm uma mente...revolucionária. Se é que você me entende."

"Uma mente revolu-" Não terminou de falar, tudo parecia muito obtuso e absurdo para ele. "O que esta dizendo? Que eles pretendem implantar uma ditadura do proletariado aqui?" Queria rir, mas não conseguia.

"Ditadura do proletariado. Pff." Pete revirou os olhos. "Que proletariado? Você já viu algum vampiro trabalhando alguma vez na sua vida? Somos preguiçosos ambulantes. Roubamos dos humanos quando bem queremos. Não é sobre isso. É outro tipo de revolução, menos importante, talvez, para a humanidade."

Frank cruzou os braços. "Me explique."

Wentz ergueu a cabeça e se levantou, indo até a outra poltrona, onde se sentou. Mikey, por sua vez, cruzou os dedos como um pensador arcaico e sinalizou para que Frank se sentasse a sua frente, o que ele prontamente fez. "Quase tudo já lhe foi dito sobre nosso governo. Sobre como atraem humanos para caçar vampiros dissidentes. Isso não existia antigamente. Mas com o fim das monarquias - início das repúblicas, dos presidencialismos - um grupo de vampiros decidiu formar seu próprio governo, ou oligarquia, chame como quiser, e expandi-lo ao redor do globo. Clãs deixaram de ser abrigos e passaram a agir como pequenas cidades, um registro é necessário para viver, para não ser identificado e caçado. É quase como se os não identificados estivessem em um estado perpétuo de criminalidade." Ele se levantou e colocou o livro deitado na estante, de modo que pudesse pegá-lo para ler mais tarde. "Nem todos os vampiros concordam com isso. Gerard, bem, você pode imaginar. Os outros, como eu, Pete, nós simplesmente nos resignamos. O que podemos fazer?"

"Gerard acredita que pode fazer algo, ele mantém contato com muitos vampiros insatisfeitos. Isso é tudo que me foi dito." Pete se levantou também. Mikey foi atrás dele furtivamente pelo corredor do térreo, para o quarto de Wentz. Era quase como se não quisessem ser notados, embora estivessem fazendo isso bem ali na sua frente. "Mas...vamos ser sinceros, nunca vai acontecer. Falta organização, devo dizer, política."

my sweet vampire † frerardWhere stories live. Discover now