Capítulo 1

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Oito horas da noite.

Encaro os números exibidos na tela do meu computador. O cansaço finalmente vence, e espreguiço meu corpo, que mantive em uma posição desconfortável durante todo o dia.
Quero ir embora, mas sei que preciso entregar o projeto no dia seguinte, nas primeiras horas. Eu poderia até postergar a entrega, já que não é tão urgente, mas preciso de resultados. Sou novata e, obviamente, estou vivendo o pesadelo de ter que provar para as demais mulheres que compõem o meu setor de que não sou apenas um rosto bonito. A beleza pode vir agregada a vários pesadelos e precisar provar nossa capacidade é um deles.

O escritório está vazio.

Os funcionários já foram embora. Sou a única que tem uma missão para o dia seguinte. O prédio funciona 24h, e não é preciso ter um responsável pela abertura e fechamento. A portaria cuida de tudo.

Com exceção da luz da minha sala e da diretoria, as outras estão apagadas.

Quero ir embora. Meus ombros queimam com a tensão e a dor incômoda mexe com meu sistema nervoso, mas não posso ir. Encaro o projeto que estou desenhando: é uma verdadeira obra de arte! Coloquei todo o meu conhecimento em uso e quero que as vadias invejosas babem no resultado e que o meu chefe entre em delírio com o meu trabalho.

O.K, é esperar demais que meu chefe delire, já que Houston não se impressiona com facilidade, mas quero impressioná-lo. Meus pensamentos voam. Paro de pensar no projeto e observo a luz acesa na sala no final do corredor.

Quero que Houston se impressione porque ele é alguém que merece ser impressionado. Desde o nosso fatídico encontro no refeitório, em que eu despejei café quente em seu paletó, sinto seu olhar de ódio sobre mim, e claro, eu amo a sensação de ser desprezada por um homem bonito.

Estou acostumada a ter tudo o que quero. É muito fácil. Tudo que quero eu consigo. Basta um olhar e dois minutos de conversa e o sexo oposto está de quatro para mim. Mas eu amo, literalmente amo, quando sou rejeitada por alguém que eu desejo.

Um distúrbio psicológico? Talvez, mas não vem ao caso.

Estamos sozinhos. É tentador. Meu lado masoquista grita para que eu vá até sua sala e ofereça ajuda — ele tem uma pasta abarrotada de projetos empacados com a prefeitura, e eu poderia facilmente arrumar um jeito de liberá-los —, mas, sei que seria muito ousado, até para mim.

Mal nos conhecemos e também estou na folha de pagamento dele.

Houston é retraído e ninguém sabe sobre sua vida pessoal além de seus amigos tão ricos quanto ele, e sua aura de mistério é o que atrai vagabundas como se ele fosse o açúcar e elas as formigas.

A razão é óbvia: as mulheres querem domínio e poder de forma rápida e fácil. A maioria esmagadora sonha com um homem que as manterá em um pódio inalcançável sem que elas precisem mover um dedo. Não desejam um homem, desejam um escravo de suas vontades e caprichos.

Bom, seria hipócrita em dizer que gosto de me matar de trabalhar por um mísero salário, ou que não gosto do bem-estar que o dinheiro me proporciona, mas também posso afirmar que não faço parte da maioria esmagadora. Eu não qualifico as pessoas pelo que possuem, e sei que os homens que me rodeiam sentem isso, e talvez seja mais um dos motivos que faz com que elas caiam de quatro tão facilmente.

Mas, para o desgosto deles, sou inalcançável.
Meus padrões são altos: estão alinhados ao meu fetiche em inteligência e caráter.

Para mim, um homem só é bonito quando sua sabedoria reluz como um diamante polido, que brilha mesmo de longe, em ocasiões inusitadas. Gosto de mentes poderosas, que podem dominar tudo e causar destruição. A sabedoria é poder, e eu amo o poder que um homem sábio pode exercer sobre mim.

Prazer, HoustonDonde viven las historias. Descúbrelo ahora