capítulo 03

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14 de dezembro, de 2010.

  Hoje vou jantar na casa dos Bahng's mais uma vez, vai ser de comemoração ao Christopher ter conseguido a medalha de primeiro lugar na competição de natação.
 
  Mas Christopher não parecia estar muito animado para a competição nos últimos dias, ele estava com tanto medo dela.

  Isso me fez pensar se Christopher realmente gosta de nadar, e fazer essas competições. Ando pensando muito nisso.

  Sentada na messa de jantar, olhando minha comida – que concerteza não iria comer tudo – enquanto escuto senhor bahng se gabar pelo filho ter conseguido a medalha de primeiro lugar.
 
  Christopher parecia tão longe de seus pensamentos, de cabeça baixa mas sem um ponto fixo para olhar.

- Filho. - senhor bahng fala.

- Sim, pai? - ele responde saindo de seus pensamentos.

- Vai lá mostrar a sua medalha para a Laura e as crianças!

- Ok. - ele se levantou e me olhou. - Vamos?

- Claro. - me levantei também.

  Chamamos meu irmão e os irmãos de Christopher para ir junto com a gente, então entramos no quarto dele.

- Nossa! Quantas medalhas. - falei assim que vi uma enorme parede com várias medalhas penduradas.

- É... - ele falou baixo, quase inaudível.

- São quantas medalhas?

- Não sei, são mais de cinquenta. - ele parecia não gostar de falar sobre o assunto.

- Christopher, posso te perguntar uma coisa?

- Pode.

- Tú gosta de nadar, de fazer essas competições?

- Gosto... eu acho. - eu o olhei, sabendo que aquilo não era uma resposta válida, e ele também sabia. - Na verdade não sei, eu naci já fazendo isso.

- Nunca pensou em saber se gosta?

- Nunca. - ele ficou em silêncio enquanto ainda me olhava.

- Então deveria. - falei me virando para olhar as medalhas novamente. - Deveria saber oque gosta e não gosta.

- Tá bom, vou fazer isso.

...

  No outro dia, de noite Christopher bateu na minha janela, e fomos para os balanços novamente.

- Eu não consegui parar de pensar se eu realmente gosto de nadar e fazer essas competições, e a resposta, é não. Eu não gosto, acho que nunca gostei, sempre fui obrigado a fazer isso. E acho que vou continuar ser obrigado.

- Não acha que pode mudar isso? Fazer oque quiser? Sei que parece difícil, e inposivel, mas nunca vamos saber sem tentar.

...

19 de março, de 2011.

  Dias, semanas e meses foram passando.

  O Natal e o ano novo passaram, agora é 2011. Meu aniversário passou e agora tenho 13 anos.

E agora parece ser uma rotina Christopher aparecer na minha janela.

  As vezes nem desabafamos, só conversamos. Mesmo que quando desabafamos um com o outro, eu sinto que não consigo me abrir completamente com ele. Não que eu não fale nada do oque eu estou sentindo, mas sabe, é tão difícil.

  Queria conseguir conversar com ele como ele conversa comigo. Talvez se eu conseguisse fazer isso, eu não teria me machucado, de novo.

  Esse é meu problema, desconto as minhas emoções, e dor no meu corpo. Se eu conversasse com Christopher, ou volta-se a fazer oque eu gosto, talvez isso não aconteceria.

  Mas agora estou sentada no chão do meu quarto, vendo meu braço com cortes escorrendo sangue, e caindo sobre as minhas pernas e escorrendo até o chão.

  Não dói, alivia. Alivia sentir dor física em vez de emocional. Me faz por aqueles breves minutos, enquanto ainda dói, pensar na dor em meu braço, e não no meu coração.

  Ver a cor avermelhada escorrer e sujar tudo, é um refúgio que talvez me faça sumir.
 
- Laura?! - e ali estava Christopher, pulando a minha janela, entrando no meu quarto e correndo em minha direção. Ele segurou meu braço com cuidado, e o olhou se segurando para não chorar.

  Era isso que eu não queria, esse olhar, e ainda vindo dele.

- Tudo bem, vai ficar tudo bem. - ele falou me olhando, como se quisesse mostrar conforto, e que estava ali, comigo.

  Eu comecei a chorar, eu não queria mas foi mais forte que eu. Christopher me abraçou, e pela primeira vez me senti em segurança.

- Desculpa... desculpa.

- Não pede desculpas, não é sua culpa. - ele me abraçou ainda mais forte. - Eu tô aqui, tá bom? Se quiser me falar oque aconteceu, pode me falar. E se não quiser tudo bem, eu ainda vou continuar aqui.

- Christopher... eu não aguento mais, eu só quero ir embora. Eu não aguento mais viver. Por que é tão difícil continuar bem, até eu conseguir fugir daqui? Dos meus pais? Dessa cidade?

- Eu não sei, e eu queria muito saber. Mas a gente vai conseguir fugir daqui, como tú sempre diz. A gente vai conseguir. - ele falou olhando em meus olhos. - Entendeu? Vai dar tudo certo. - concordei com a cabeça, quero muito acreditar nele, muito. - Vou cuidar dos seus cortes, já volto. - ele falou se levantando e indo em direção ao banheiro, com muita cuidado para não acordar meus pais e meu irmão.

  Logo ele voltou, e cuidou dos meus cortes. Ele ficou comigo por horas, mesmo a gente não tendo conversado, só ficado ali, um do lado do outro, até eu pegar no sono.

...

  Christopher não falou nada, e nem tocou no assunto sobre aquela noite. E eu agradeço muito, não saberia como reagir se ele perguntasse.

Melancolia - Christopher Bahng Where stories live. Discover now