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Um dia desses eu li no jornal que a adrenalina é capaz de transformar qualquer um em um super humano.

Basicamente, ela deixa seu corpo em total e completo estado de alerta. Seus sentidos estão mais aguçados, seus reflexos mais rápidos, seus vasos sanguíneos são contraídos e o sangue corre mais veloz, gerando oxigenação no cérebro. Suas pupilas se dilatam para melhorar a visão, seus músculos se tornam mais flexíveis e até a porra do seu fígado produz mais glicose, gerando energia.

Como ter uma descarga de adrenalina? Entre em desespero, fique entre a vida e a morte, pule de paraquedas. Ou, no meu caso, seja desesperado naturalmente.

Eu julgava minimamente preocupante a forma como eu saí de casa, entrei em um táxi e cheguei no hospital em questão de minutos, uns trinta ou quarenta — ser o super homem não me dava o poder de fazer o trânsito correr mais rápido.

Eu nem pensava, me movia no automático, aflito. Falei com a enfermeira na recepção com tanta afobação que me trouxeram uma água; ela perguntou seu nome completo, e eu travei, depois perguntou se eu era parente ou tinha contato com um familiar, e eu me irritei. Depois de muita insistência e de ter xingado uma geração inteira da mulher mentalmente, me disseram onde ele estava.

— Louis? — chamei, entrando em uma sala com dezenas de leitos.

— Oi, Harry! — ele acenou, sentado em uma maca, e eu finalmente soltei o ar que nem sabia estar prendendo.

— O que houve com você? — perguntei, me aproximando, correndo os olhos por todo seu corpo. — Você está bem? O que aconteceu? Eu vim o mais rápido que pude, mas você sabe como essa cidade é!

— Ei. — Louis chamou, a voz calma como de costume, aveludada, e colocou uma mão para trás, apoiando o corpo. — Eu estou bem. — disse, e tomou um gole do seu suco de caixinha. — Só quebrei o pé... e abri o queixo. Mas foi só uma partezinha do pé...

Senti os músculos de meu rosto se retesarem em pavor e olhei para baixo. Um de seus pés estava envolto em uma bota ortopédica cinza e curta, que acabava no meio de sua panturrilha. Subi os olhos, abaixando a cabeça para olhar seu queixo, o qual tinha um curativo. Louis levou pontos! Pontos no queixo! E usava uma bota! Não uma bonita como as que eu namorava numa vitrine há mais de uma semana, aquelas eram botas bem não-bonitas!

— Ai, meu Deus! — comecei a respirar com dificuldade, sacudindo as mãos no ar com nervosismo. — Você quebrou o pé?! Como assim?? Ai, meu Deus... O que vamos fazer agora? — andei para um lado, tentando organizar os pensamentos. — Acha que vai conseguir trabalhar? — Mas não esperei por sua resposta. — Ai, meu Deus?? Que porra de dia foi esse?? — sussurrei para mim mesmo, andando para o outro lado. — Ai, desculpa por ter xingado, foi sem querer. Não era pra você, Deus. Ai, meu Deus... E agora? O que vamos fazer ago-

— Harry. — Louis chamou, e eu me virei pra ele rapidamente, pensando que podia estar precisando de algo. Ele estendeu uma mão na minha direção e tocou meu braço com a ponta dos dedos, fazendo menção de me puxar para perto, mas eu estava longe demais para que conseguisse fazê-lo. — Relaxa. Estou bem.

Eu o olhei como se fosse louco. Louis costumava ser sério, sensato, e vê-lo com uma botina acolchoada, tomando suco no canudinho e com um curativo no queixo era... chocante. Como ele tinha arrumado aquilo? E como conseguia se manter tão odiosamente calmo?

Respirei fundo, correndo as mãos por meus cabelos com certa força, sabendo que isso os bagunçaria mas nem ligando no momento.

— Você está de pijama? — Louis perguntou quando eu abri a boca pra falar.

meet me in the hallway  * l.s *Where stories live. Discover now