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Lilith acordou atordoada, sua cabeça latejava e seus olhos doíam. Ao seu lado, a Deusa Hala sorria.

"Acordei," Lilith murmurou, tentando se orientar. "Você disse que me levaria onde eu precisava ir, mas não quero ir sozinha."

"Medo?" Hala perguntou, ainda sorrindo.

"Preocupação," Lilith corrigiu.

"Ok, digamos que você possa trazer alguém," Hala concedeu.

"Então traga," Lilith insistiu.

"Lilith, você está na boca do umbral. Está no umbral que eu tomo conta, você só entra aqui com projeção astral ou..."

"Morta," Lilith completou. "Umbral só atrai almas cruéis ou pecadores, ou seja, todos seres vivos da Terra," ela sorriu ironicamente. "O que significa que você não pode trazer Uzuriel?"

"Posso," Hala afirmou. "Sou uma deusa, lembra? Posso quase tudo. Mas por que ela?"

"Maze é uma demônia, não vai querer retornar aqui, acho que a única que topará passar pelo processo será ela, Uzuriel."

"Deixa comigo," Hala disse, desaparecendo momentaneamente.

Quando a deusa nórdica do inferno reapareceu, Morana estava com elas e sorriu ao ver Hala.

"O que faz aqui?" Morana perguntou.

"Ordens de Lilith," Hala anunciou. "Ela está bem, mas precisa de ajuda. Quem de vocês topa morrer e dar uma volta no umbral?"

Uzuriel se levantou, apesar de estar um pouco machucada.

"Eu," ela disse.

"Claro, quem é você?" Hala perguntou.

"Uzuriel," Morana interveio. "A arcanja," ela sorriu. "Maze e Isobel não querem ir?"

Elas permaneceram em silêncio.

"Ariel?" Hala questionou.

Também não houve resposta.

Uzuriel se entregou de corpo e alma para a deusa nórdica e desapareceu.

No umbral, Uzuriel viu Lilith e a abraçou. Hala entendeu a escolha por Uzuriel, mas permaneceu quieta.

"O corpo atual de vocês está protegido por outro deus," Hala sorriu. "Agora vamos?"

"Só uma pergunta," Uzuriel indagou. "Por que uma arma poderosa se esconde aqui?"

"Não aqui," Hala corrigiu. "Está em outra parte do umbral, posso guiá-las até lá, ou podem ir sozinhas."

"Guiar," Lilith pediu. "Estou me sentindo muito mal aqui."

"As almas de vocês são puras, então é óbvio que se sentiriam mal aqui. Por isso vou guiá-las mesmo que não quisessem."

Hala amarrou duas correntes, uma em cada punho delas, e as levou pelo umbral.

O umbral da deusa nórdica era frio, congelante, sem sol nem lua, o céu sempre escuro. As árvores não tinham folhas, os troncos eram secos, o chão gelado como neve. Não havia água, nem fogo, apenas escuridão. No entanto, havia gritos, gente lutando com espadas, coisas voando.

"Meus monstros," Hala disse, sorrindo. "Eles cuidam do local deles com muito cuidado."

"Isso é horrível," Uzuriel comentou, olhando as almas.

"As almas podem sair daqui quando quiserem," Hala explicou. "Só precisam se arrepender do que fizeram e pedir uma segunda chance. As almas bondosas têm permissão para entrar quando um deles pede isso. Aí são socorridos e pronto."

"Mas não vejo ninguém pedindo," Uzuriel observou.

"Eles não querem," Lilith disse. "Isso é o que se aproxima da vida terrena deles. Eles têm medo do que virá. Preferem sofrer uma eternidade do que admitir seus próprios erros. Acham que serão condenados..."

"Ela está certa," Hala concordou. "Somos entidades, deuses antigos. Cada deus do submundo cuida de um umbral. Eu cuido deste, o umbral dos nórdicos," ela sorriu. "Eles vivem aqui e acham que podem tudo. É triste analisar e cuidar disso."

"Não é não," Uzuriel argumentou. "Isso te deixa forte."

"Não minto, me deixa," Hala admitiu. "Mas as almas são sempre as mesmas. Vikings, brutamontes."

"Não vêm só nórdicos para cá?" Uzuriel perguntou.

"Não. É o umbral dos nórdicos, mas não há só nórdicos. Homens que morreram em guerras vêm sempre para cá. Não importa se defendiam ou atacavam outro, se morreram em guerra vêm para cá. Se morreram sendo policiais ou qualquer coisa que tenha a ver com guerra, vêm sempre cá. E aí eles ficam assim, brigando um contra o outro."

"Posso perguntar quantas almas saem daqui?" Uzuriel quis saber.

"Uzuriel," Lilith interveio. "Melhor não saber dessas coisas."

As duas continuaram a andar com Hala, observando ao redor. O pouco clarão que tinham vinha da batalha das espadas contra espadas, dos disparos das armas. Os monstros da deusa nórdica voavam sempre em cima, prontos para fazer qualquer coisa.

"Sabe, me deram a missão de levá-las até o outro umbral. Porém, fico com dó, por que as duas?"

"Dó?" Uzuriel questionou. "É uma honra defender o mundo assim."

"Uzuriel querida," Hala começou. "Você não entende..."

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Lilith (Completa)Where stories live. Discover now