Hate You

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Hate You

O relógio marca quase duas da manhã. Acabei de chegar em casa depois de um dia exaustivo, preenchido por uma série ininterrupta de ensaios. Está uma noite chuvosa e fria. Uma noite tempestuosa a ponto de ser quase sombria e eu estou cansado pra valer.

Entro no apartamento equipado com vista de toda Seul e sinto um vazio substancial me  invadir, assim que piso os pés aqui. Isso tem sido corriqueiro. Há quase três meses eu tenho vivido essa tensão. Um vazio tão profundo que chega a ser desesperador. Os móveis sãos os mesmos, os sofás creme, organizados com perfeição no centro da sala espaçosa. As cortinas do mesmo tom que eram as suas favoritas. Você me pedia para abri-las e ficava observando por um instante. Talvez o balanço mítico que ela costumava fazer em noites como esta,  te envaidecia. Ou a beleza do contraste que é  sentir que está no topo do mundo. Você adorava essas coisas. Adorava sentir que estava no controle de tudo. Talvez eu consiga entender o significado de tudo isso, ou talvez eu fingia não entender, só para te colocar mais uma vez como a garota ambiciosa que você sempre foi.

Apesar de achar um desejo bobo, estranho até, eu não discutia. Só queria ter a chance de olhar para você e te ver sorrindo daquele jeito menina de ser. Presunçosa, mas linda.

E então sinto raiva, raiva por me lembrar disso. Por ainda ser capaz de sentir o seu cheiro impregnado  em cada canto desta sala. Por ainda ser capaz de ouvir o som da sua risada preso nessas paredes. Sinto raiva por ainda pensar em você assim, por ainda sentir o meu coração doer todas as vezes que seu perfume me vem a memória. Me odeio por ter te dado tanto poder sobre mim.

Então me lembro da gente, sentados aqui, nesse mesmo sofá, jogando conversa fora, em um dia tranquilo e comum. Minhas risadas, as suas risadas. Seu corpo quente encostado no meu, enquanto eu te enchia de bobagens só para te fazer sorrir cada vez mais. Suas mãos delicadas apoiadas no meu peito, me dando carinho, sentindo a minha pele quente e meu coração batendo forte por você. Os beijos que dávamos, o carinho que trancávamos. Você sempre tão receptiva, sussurrando palavras de desejos e prazer. A língua macia acariciando a minha. Seus cabelos negros caindo por cima dos seus seios delicados, e eu os arrumando para que pudesse te ver melhor. E então nos amávamos, bem aqui nessa mesma sala vazia. Nossos corpos em sintonia, corações acelerados, respirações descontroladas e sentimentos a flor da pele. Deus, como eu adorava sentir os  seus anseios! A sua necessidade quase incontrolável de me sentir por inteiro. Ou o meu desespero quase insano em fazer de você minha única maneira de respirar!

Eu dependia tanto disso, não é? Talvez esse tenha sido o início da minha queda: depender de você. Depender desse amor. Depender das suas loucuras e da minha maneira de absorver tudo dentro de mim quando estávamos juntos.

Solto um palavrão inaudível e caminho alguns passos, tentando recuperar meu juízo de uma vez por todas. Preciso tomar um banho. Preciso sentir que minha cabeça ainda está no lugar, mas nem nessas horas sou capaz de me acalmar. Não consigo mais ficar sem pensar por uma perspectiva que não te envolva. Ah, se eu pudesse te esquecer! Eu estaria melhor do que nunca. Viveria a minha vida, cantaria as minhas músicas sem  relacionar as letras delas com você. Eu sorriria de verdade. Beberia com os meus amigos normalmente, sem precisar adiar um única momento sequer, por causa do medo que sinto de demonstrar o quanto ainda machuca.

Retiro as roupas de um jeito um pouco agitado e emburrado. Eu sou assim, essa era uma das suas reclamações. Você dizia que eu era mimado e, ao mesmo tempo, me mimava, logo depois dizia que odiava o modo como me comportava quando estava irritado, mas eu não posso evitar. É como eu ajo, como consigo expressar o quanto me odeio, o quanto te odeio por ter me deixado desse jeito.

Adentro o box e ligo o chuveiro. A água quente é como uma nuvem fofa por todo o meu corpo. A respiração é mais leve, mais tranquila. Ergo um pouco a cabeça, afim de que a água escorra bem pelos cabelos. E a sensação de conforto, ao mesmo tempo que vem, vai, porque até essa sensação me lembra de quando você estava nos meus braços. Você também está aqui, cravada nessas paredes. Seu corpo molhado escorregando no meu, em um desses nossos banhos matinais, e os noturnos também. Seus gemidos entre meus lábios, enquanto  suas unhas cravava nos meus braços, principalmente o braço esquerdo, fechado de tatuagens. Seus dentes puxando os meus lábios e o piercing. E mais uma vez, eu dentro de você, te fazendo minha.

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⏰ Última atualização: Mar 28 ⏰

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