Aqui jaz um detetive que mais parecia um vigarista.

— Shaw. — Strike olhou para seu relógio. — Veio voando, foi? — Ironizou.

— Quando os deuses chamam... — Demétrius fez uma leve reverencia.

— Estamos montando uma força-tarefa e queremos que você a lidere. — A superintendente apontou com a cabeça para a bagunça que era o pub destruído. — Vai saber mais dos detalhes daqui a pouco.

— Não sei se consigo compreender, ma'am. — Não gostava nem um pouco dos rumos daquela conversa.

— Que parte de que você saberá mais dos detalhes, você não entendeu? — Ela sibilou. — Queremos que você lidere a caçada a quem fez isso! — Strike apertou seu ombro direito e Demétrius teve que se abaixar para não sentir a dor do movimento. Queria saber o que sua querida superintendente tomava nas horas vagas. — Você foi o único nome aprovado entre a MI-5, MI-6, a Interpol e a ONU.

— O que as nações unidas tem a ver com um crime em território britânico? — Tentou ocultar a tremedeira nos lábios e nas pálpebras. Não gostava nada daquilo. E seu nome foi aprovado em questão de horas! Que rapidez era essa?

Algo estava errado nos bastidores.

— É o que você deve descobrir. — Strike lhe olhou de canto de olho, de forma suspeita. — Eu quero saber por que você é o queridinho do pessoal lá de cima. Tem algum tio ou parente influente que eu não saiba?

— Não... — Ele realmente não sabia. Se tivesse, ela achava mesmo que ele seria detetive-inspetor? — Então o que aconteceu aqui?

— Siga-me. — Ela meneou a cabeça para que ele a seguisse. Como um fiel escudeiro, Demétrius o fez. — O mercado negro do Dragon's Breath era investigado há séculos. O MI-5 e a Interpol faziam vista grossa devido às mercadorias que corriam pelos corredores, agora destruídos.

— Sim. — Ele tinha ouvido falar sobre isso. — Em vez de fechar de vez o mercado, com ele aberto você descobre e identifica os principais jogadores do submundo londrino. Compradores, vendedores, receptadores. — Adorava essa inteligência, que deixava os outros fazerem o trabalho para você. — Sempre gostei...

— Você não tem que gostar de nada. — Aparentemente a querida superintendente não gostava de ser interrompida. Tomou o tom azedo de sua voz como evidência clara. — Segundo nosso querido MI-5, aqui ocorreria uma transação. Uma venda de um vírus polimórfico capaz de atravessar qualquer criptografia do mundo. Alguém decidiu não pagar por isso ou interromper a transação, mas tenho minhas dúvidas.

— É claro. — Mascarou o deboche em um tom sério. Era evidente que algo deu muito errado a julgar pela destruição do pub. Evitou um comentário sarcástico, ao menos na frente da superintendente. Sua reputação com ela não era das melhores.

— Os circuitos internos de televisão foram apagados. Recuperamos alguns discos-rígidos, mas os técnicos não estão confiantes em recuperar dados. A criptografia do site, que só existe no Tor, é de outro mundo. Vai demorar um pouco para conseguirmos alguma pista por esse canal.

— E as ruas? — Meneou a cabeça para a entrada. — As câmeras dos becos e vielas? As caixas-pretas?

— Nisso tivemos sorte.

Tanto ele quanto Strike vestiram as luvas de látex previamente dadas pelos médicos legistas assim que caminharam pelo local. Seguindo as marcações que os peritos criminais fizeram e vendo uma pilha de corpos espalhados por quase todo o térreo, o primeiro e até o segundo andar, Demétrius se impressionou com as execuções sumárias próximas à porta.

O ChacalWhere stories live. Discover now