Laura em continuação
– Tenho um parente na Escócia – disse Sophia para mim enquanto deixávamos Londres – que não hesitaria, tenho certeza, em me receber.
– Devo ordenar ao rapaz que nos conduza para lá? – perguntei eu.
Contudo, caindo em mim no mesmo instante, exclamei:
– Ai de nós, receio que a viagem seria longa demais para os cavalos.
Entretanto, relutando em agir baseada somente no meu inadequado conhecimento quanto à força e às habilidades dos cavalos, consultei o postilhão, que revelou compartilhar totalmente minha opinião no tocante ao caso. Assim sendo, tomamos a resolução de trocar os cavalos na cidade seguinte e viajar em posta pelo restante da jornada.
Quando chegamos à última estalagem na qual precisávamos parar, localizada a poucas milhas da casa do parente de Sophia, redigimos a ele, não querendo impor-lhe nossa companhia inesperada e sequer considerada, um bilhete muito elegante e bem escrito contendo um relato de nossa desamparada e melancólica situação e de nossa intenção de passar alguns meses com ele na Escócia. Tão logo havíamos despachado essa carta, de imediato nos preparamos para segui-la em pessoa, e já íamos entrando na carruagem com tal propósito quando nossas atenções foram atraídas pela entrada de um coche coroado de quatro cavalos no pátio da estalagem. Desceu dele um cavalheiro consideravelmente avançado em anos. Diante de sua primeira aparição, minha sensibilidade se viu prodigiosamente afetada e, mal eu pudera fitá-lo pela segunda vez, uma simpatia instintiva sussurrou ao meu coração que ele era meu avô.
Convencida de que eu não podia estar enganada em minha conjectura, naquele mesmo instante saltei da carruagem na qual acabara de entrar e, seguindo atrás do venerável estranho até o recinto ao qual ele havia sido conduzido, caí de joelhos perante o cavalheiro e lhe roguei que me reconhecesse como sua neta. Sobressaltado, e tendo examinado atentamente minhas feições, ele me levantou do chão e, lançando seus braços de avô em volta do meu pescoço, exclamou:
– Reconhecer-te! Sim, querida semelhança de minha Laurina e da filha de Laurina, doce imagem de minha Claudia e da mãe de minha Claudia, de fato te reconheço como a filha de uma e a neta da outra.
Enquanto com tamanha ternura ele me abraçava, Sophia, atônita com minha precipitada partida, entrou no recinto à minha procura. Mal foi vista pelo olho do venerável fidalgo, este exclamou com todos os indícios do assombro:
– Outra neta! Sim, sim, percebo que você é a filha da menina mais velha de minha Laurina; sua semelhança com a formosa Matilda o proclama em medida suficiente.
– Ah! – disse Sophia –, assim que contemplei o senhor, o instinto da natureza me sussurrou que éramos em algum grau aparentados... Só não tive a pretensão de determinar se o senhor seria meu avô ou minha avó.
Ele a cingiu contra si e, enquanto ficavam abraçados com tamanha ternura, a porta do aposento se abriu, e um jovem belíssimo apareceu. Notando sua presença, Lord St. Clair sobressaltou-se e, recuando alguns passos com mãos ao alto, disse:
– Outro neto! Que felicidade inesperada! Descobrir tantos de meus descendentes no espaço de três minutos! Esse, tenho certeza, é Philander, o filho da terceira menina de minha Laurina, a amável Bertha; falta somente, agora, a presença de Gustavus para completar a união dos netos de minha Laurina.
– E eis aqui ele – disse um jovem gracioso que naquele instante adentrou o recinto –, eis aqui o Gustavus que o senhor deseja ver. Sou o filho de Agatha, quarta e mais nova filha de sua Laurina.
– Vejo que você é, de fato – respondeu Lord St. Clair. – Mas, digam-me – continuou ele, olhando temerosamente na direção da porta –, digam-me, acaso tenho eu outro neto neste estabelecimento?
– Nenhum, meu senhor.
– Então lhes darei sustento a todos sem mais delongas. Eis aqui quatro cédulas de cinquenta libras cada uma. Peguem-nas e lembrem-se de que cumpri o dever de um avô.
Ele no mesmo instante saiu do recinto e, imediatamente depois, do estabelecimento.
Adieu,
Laura