Laura para Marianne
Na condição de filha da minha mais íntima amiga, creio que você tem o direito de conhecer minha infeliz história, que sua mãe tantas vezes me pediu para contar.
Meu pai era um nativo da Irlanda e um habitante de Gales; minha mãe era filha ilegítima de um fidalgo escocês com uma cantora de ópera italiana – nasci na Espanha e recebi minha educação em um convento na França.
Tendo alcançado meu décimo oitavo ano, fui chamada de volta por meus pais a meu teto paterno em Gales. Nossa mansão situava-se numa das partes mais românticas do Vale de Usk. Embora meus encantos estejam agora consideravelmente abrandados e um tanto prejudicados pelos infortúnios enfrentados por mim, fui linda outrora. Contudo, por mais adorável que eu fosse, as graças de minha pessoa eram as menores das minhas perfeições. De cada talento habitual a meu gênero eu era soberana. Quando no convento, meu progresso sempre havia excedido minhas instruções, meus conhecimentos haviam se mostrado prodigiosos para minha idade, e eu logo ultrapassara minhas mestras.
Em minha mente, centravam-se todas as virtudes que podiam adorná-la; ela era o rendez-vous de todas as boas qualidades e todos os sentimentos nobres.
Meu único defeito, se de defeito podemos chamá-lo, era uma sensibilidade tremulamente vívida, demasiado atenta a cada aflição de meus amigos, meus conhecidos e, em particular, a cada uma de minhas próprias aflições. Ai de mim, como isso mudou agora! Embora meus próprios infortúnios, com efeito, não causem menor impressão em mim do que jamais causaram, agora, no entanto, nunca sinto nada pelos infortúnios de outrem. Meus talentos também começam a desvanecer – não consigo nem cantar tão bem nem dançar com a mesma graciosidade de outrora – e esqueci completamente o "Minuet Dela Cour".
Adieu,
Laura