Depois de ter levado um ultimato dos meus pais, me mudei pra Los Angeles para estudar cinema numa universidade próxima a Hollywood. Mas não era como se muita coisa houvesse mudado, quer dizer, eu tinha um apartamento próprio minúsculo em Beverly Hills e precisava aproveitar meus últimos dois dias antes de ser amarrado nas rédeas de um sistema corrupto.

Então estava ali, num bar aparentemente hétero que tocava muito Britney Spears e Madonna. Futuramente, viria a tocar Lady Gaga. Não contente com a música que eu obviamente curtia, pelo fato de não ter noção alguma de como as pessoas reagiriam a ver um homem como eu, com aspectos homossexuais e com muita falta do que fazer, dançando Oops I Did It Again, resolvi ficar como espectador.

Mas isso não me impedia de flertar com alguém, e meus olhos logo se encontraram com os dele. Billy. Uma beleza natural, não aristocrática ou robusta demais para frequentar um lugar como aquele, seus olhos eram castanhos e muito marcantes, seus fios morenos caíam sob sua testa levemente bronzeada de forma graciosa, como se tivesse os arrumado com cuidado antes de sair de casa, mesmo que aparentemente não ligasse.

Eu me perguntei o quê estaria fazendo ali, mas quando me aproximei, a resposta ficou clara.

Com passos descontraídos, me dirigi até seu lado no balcão onde pedi um Blood Mary para mim. A mesma bebida que a dele.

- E aí. - Olhei ele, me sentando num daqueles bancos altos e avermelhados que remetiam às boates de luxo (cabarés, diga-se de passagem) dos anos oitenta. Uma estética brega que eu achava divertidíssima. Aquele tom de vermelho carmesim como o sangue falso utilizado em Suspíria, era tão anos oitenta quanto patins, a cor roxa e faixas na cabeça.

Ele, pouco interessado, olhou para a própria bebida antes de murmurar um "Oi." e erguer o rosto para terminar o drink.

- Quero mais um. - O rapaz falou ao bartender.

- Por minha conta! - Exigi, atraindo os lindos olhos castanhos dele pra mim. Dessa vez, com o cenho franzido como quem dissesse "Não se atreva".

- Eu posso pagar pela minha bebida.

- Sei que pode.

- Então pare.

- O quê?

- Pare de fazer isso. Tentar pagar pela minha bebida.

- É só uma bebida. - Assegurei, quase inseguro do rumo que a conversa estava levando.

- Pare de insistir, portanto.

Abri um sorriso.

- Eu não vou parar.

Seus olhos fitaram meu sorriso. Quase tive certeza de que ele era um odontologista pelo tanto de tempo que ficara encarando meus dentes.

Ou meus lábios, agora fiquei confuso.

- Você é irritante.

- Muita gente me diz isso.

- Bom, é porque elas estão certas.

- Você também não é nada fácil.

- Só não quero que um cara qualquer pague bebida pra mim num bar.

- Por que não?

- Porque não..? Você é esquisito.

- Que curioso.

- Uhm?

- A maioria dos caras com quem eu flerto normalmente aceitam as bebidas que eu pago.

Os olhos do rapaz se ergueram até meus olhos, cada vez parecendo querer mais arrancar a minha língua fora com as próprias unhas e quebrar todos os meus dentes numa distribuição parcial de socos pelo meu rosto por causa do meu sorriso crescente.

Stop Calling Me Your BunnyWhere stories live. Discover now