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A FORTUNA DA FAMÍLIA González acumulava-se há gerações, o longo histórico de advogados com o renomado sobrenome era muito respeitado na bolha da pequena elite uruguaia. Com o casamento de seus pais, a família González vestiu uma estética excêntrica e consumista, difundida a partir do estilo de vida camp de sua mãe. Ao longo de sua vida, frequentara poucos de seus incontáveis bailes, nestas ocasiões, sua mãe preferia mantê-la em casa sob os cuidados das babás, algumas das festas serviam para arrecadar fundos a caridade, outras apenas para gastar uma quantia exorbitante para comemorar nada em especial.
AO CONTRÁRIO DE CARMEN, seu pai sempre fazia questão da presença de Martina nos grandes salões de baile e se, mesmo após sair de casa, ainda era convidada para as festas, era por sua causa. Embora odiasse com todas as suas forças essas comemorações falsas, não deixaria de ir a esse baile, pois ainda prezava pelo amor e consideração de Juan González. Sua carreira de atriz era motivo de desentendimentos dentro do núcleo familiar, era a única filha de seu pai e esperavam que colaborasse para os negócios da família, mas Juan lhe dera a liberdade de trilhar seu caminho sozinha e assim o fazia, decisão esta que tomara sem nenhuma ajuda financeira dos pais devido a desaprovação de sua mãe.
RELÂMPAGOS PREENCHIAM o céu e uma brisa gelada anunciava que em breve a chuva chegaria para refrescar toda a cidade de Montevidéu. Sentada em um banco na beira da calçada, Martina esperava pelo carro de Enzo, para seguirem juntos rumo ao baile da família González. Os rabiscos do céu atraíam toda a atenção da jovem, que, desde pequena, apreciava esse tipo de clima, mas desviou seu olhar do céu ao escutar alguém estacionando próximo a ela. Observou Enzo descer do carro e caminhar em sua direção, seus trajes elegantes o assemelhavam a um príncipe da Disney.
— Boa noite, senhorita. — Brincou, deixando beijo carinhoso em sua mão.
— Olá, senhor! Aonde vai assim tão elegante? — Observou o rosto de Enzo ganhar leves tons de vermelho.
— Eu estou indo fazer um manifesto contra a elite — começou —, e você?
— Pretendo tomar os meios de produção, mas só depois de umas taças de vinho — disse, dando de ombros.
