#12 Pequena Eu

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"Estou bem aqui
Será que ninguém pode me ver?
Alguém pode me ouvir?
Aqui! Aqui!

Sinto-me invisível
Uma existência indiferente
Parece impossível
Tentar fazer parte dessa gente

Se isso vai seguir
Então desisto
Podem continuar a fingir
Que não existo

Vou me encolher nesse canto
Fingir que perdi todos os sentidos
Não vejo. Não ouço. Não sinto
Não toque na minha caixa de vidro"

Houve um tempo, em que eu era eu.

Era um eu mais despreocupado, mais falante, mais amigável. Mas esse "eu" infantil, obviamente, não se manteve intacto.

Olhando para o passado, posso notar as diferenças entre aquela garota e a mulher de agora. Posso notar de onde vieram as raízes de seu comportamento atual. Posso lembrar dos sussurros, das risadas, dos olhares, os insultos e da sua raiva. Percebo como aos poucos se escondeu em uma caixa, se tornou tão pequena, tão insignificante que parecia invisível para o mundo. Ela reprimiu seus sentimentos até se convencer que não tinha nenhum. Ela vagou por um tempo em um lugar muito escuro.

Mas, aos poucos, surgiu uma luz. Apareceu com o tempo, e passando os anos foi ficando cada vez mais forte e iluminando a escuridão. A garota teve que fazer uma escolha, e ela escolheu sair correndo em direção a luz. Ela decidiu se levantar, quebrar aquela maldita caixa. Por que ela que deveria ficar trancada?

Não foi algo de um dia para o outro, não foi fácil, mas ela estava cansada de se esconder. Ao sair ela pôde ver de onde vinha aquela luz, escutar outras vozes, sua própria voz. As experiências ruins tinham nublado seus sentidos, os insultos cegaram seus olhos, os risos tinham ensurdecidos seus ouvidos. Mas agora ela podia ver, ela podia ouvir.

Quando digo que sinto falta do meu "eu", é falta de poder agir daquela mesma maneira, ser mais livre como um dia fui, mais feliz, mais inocente. Mas faz parte de viver, é inevitável criar uma "casca" para o mundo, uma que dificilmente se abale, ser alguém que não se rebaixe, não deixar que pisem você.

Penso que precisei passar por algumas situações para criar um casca mais grossa, mas sei que lá no fundo essa garota ainda vive, pois vejo vislumbres dela em alguns momentos. Eu não a perdi, apenas estou protegendo seu coração do mundo.

Amarelo ReversoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora