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  "Olho para a folha em branco. Apoio meu lápis no papel e encaro fixamente o vazio a minha frente, esperando para ser preenchido pelos meus pensamentos. Inspiro e expiro. O tique taque do relógio soa alto demais para os meus ouvidos.

  Estou encarando esse papel a pelo menos 5 minutos e ainda não me movi, ainda não escrevi uma única palavra. Ainda me pergunto por que faço isso. Para quem eu escrevo? Por que eu escrevo? Do que adianta escrever?

  Não é a primeira vez que me pergunto isso e tenho certeza de que não será a última. Mas não existe um porquê. Escrevo simplesmente por escrever. É como olhar para dentro de si e depois reler e reler para tentar entender o barulho na sua cabeça, para só então perceber que não são apenas sons sem sentido, são seus pensamentos e sentimentos derramados nessa folha, esperando para serem ouvidos e organizados. 

  Um barulho forte se inicia e vejo gotas de chuva baterem com violência contra a minha pequena janela. Suspiro e encaro novamente o papel. E fico aqui, por segundos, minutos, horas. Fico aqui a noite inteira. Desejo ficar com esse silêncio por mais tempo, muito mais tempo.

  Quero me misturar com a paisagem, quero que essa janela abra e as gotas da chuva toquem o meu corpo, que lavem todos os meus pensamentos e pecados. Quero que o vento me leve, me destrua e consuma aos poucos, que me quebre em pequenos fragmentos e que me carregue para longe. Quero explodir em milhões de pedaços e desaparecer.

  Mas só posso ficar aqui e encarar esse espaço em branco, sonhando com as cores que me foram tomadas, desejando tomá-las de volta.

  E então começo a escrever. "

Amarelo ReversoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora