A mudança

34 8 6
                                    

Agora com Rodolffo formado estamos num impasse.  Queremos voltar para a fazenda mas não queremos deixar os avós.

Da aldeia até à fazenda, é pelo menos um dia de viagem.  Não dá para ir e vir as vezes que quisermos.

Hoje era mais um domingo de visita.

Carolina brincava com o triciclo no meio das àrvores de fruto.  Dizia que era o trator dela e andava a lavrar a terra.

Rodolffo e Juliette estavam de vigia sentados na traseira da casa com os avós.

- Vocês precisam vir morar connosco. - disse Juliette.
Não podem ficar aqui sózinhos e agora não podemos vir todos os domingos.

- Não,  filha.  Aqui é a nossa terra.  Foi aqui que vivemos a vida toda e é aqui que temos raízes.

- Mas avô, nós não queremos ficar separados muito tempo.

- Venham visitar-nos quando puderem.  Eu prometo que vamos lá passar um tempo, mas abandonar a nossa casa, isso não.

Bem argumentámos, mas sem sucesso.

Ficou combinado virmos uma vez por mês e eles irem ficar lá um mês por ano.

- Em todo o caso ainda preciso resolver algumas coisas do meu trabalho antes de partir definitivamente,  disse Rodolffo.

- Que trabalho? -  questionou o avô.
Agora és doutor, não precisas desse trabalho.

- Avô.  Não posso simplesmente largar tudo de um dia para o outro.  Os clientes merecem consideração.   Foi com eles que eu contei durante este tempo todo.

Vou passar todo o serviço para o meu colega.

- É.  Tens razão.  Não podemos ser mal agradecidos.

- Temos que ir.  Voltamos daqui a uns dias quando estivermos de viagem.  Talvez fiquemos um dia ou dois para matar as saudades que vamos ter.

- Cá vos esperamos.  Boa viagem.

Passaram duas semanas e acabámos de chegar à fazenda.

A caminho, conforme tínhamos combinado, parámos na aldeia e ficámos sábado,  domingo e segunda.

Na despedida foi um choro geral.

Até Carolina chorou ao ver o pai chorar também.

O meu pai não cabia em si de contente.   Já  tinha preparado o nosso quarto e também o da neta, que encheu com todo o tipo de bonecas e brinquedos.

Tínhamos um banquete à nossa espera, mas estávamos cansados e suados da viagem.

Como já eram 18 horas, dei um banho em Carolina e depois fui eu tomar com Rodolffo enquanto o meu pai mimava nossa filha.

Fomos jantar.  Carolina já estava sonolenta.  Terminou o jantar já de olhos fechados.

Acomodei-a no seu quarto e voltei para a sala a tempo de ouvir meu pai dar um abraço em Rodolffo e dizer:

- Obrigado por não me guardares rancor por tudo o que falei.

Esperei uns segundos e entrei naturalmente.

- Bom.  Vocês estão cansados e amanhã é dia de trabalho.  Vou dormir e vocês façam o mesmo.
Boa noite meus filhos.

- Boa noite, pai.
- Boa noite.

Rodolffo estava recostado na cabeceira da cama quando Juliette saiu do banheiro e se sentou ao seu lado.

- O que é que meu pai tanto agradecia?

- Porquê?

- Ouvi o final da vossa conversa.  Foi sem querer.

- Ah!  Aquela culpa de sempre.  Ele faz questão de sempre pedir perdão.   Eu já superei faz tempo.  A prova é que estou aqui na casa dele.

- Ele é assim, mas eu nunca vi ele ter esse comportamento com ninguém.   Foi só contigo.  Teve medo por mim.

- Medo de quê?

- Amor, a geração dele foi criada com menos tolerância.  O pobre geralmente não convivia com o rico, o negro com o branco, senhores com empregados.  Era assim, errado mas era, e só podemos educar as nossas crianças para não fazerem igual.

- Sempre sensata a minha mulherzinha.   Vem cá.

Rodolffo rodou sobre Juliette beijou-a apaixonadamente.

- Vamos dormir.   Estamos ambos cansados.

- Ah não!  Tu vens com essa cara lavada, pões o pirolito na boca da criança para ela provar e depois não deixas comer?  Sacanagem.  Ajoelhou?  Tem que rezar.

Rodolffo soltou uma das suas gargalhadas e beijou-a de novo.

Menina bonitaWhere stories live. Discover now