════ capítulo um

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QUANDO A AULA TERMINOU, Líder acabou seguindo San, que também a incentivou a ir com ele para o intervalo, pegando algo para comer no pequeno bar que oferecia lanche para todos, entrando na fila.

- Muita gente costuma pedir duas porções para não vir aqui depois, sempre é controlado e só podemos pedir três ao dia. Um que é o pequeno almoço, aí eles anotam se querem as duas porções para guardar, aí tem a de agora, e à tarde dão mais uma. Você também pode pedir fruta depois de jantar, antes do horário de recolher, eles dão sem problemas.

-A diretora me falou sobre isso, mas não tinha entendido muito bem a que horas eram. Muito obrigado por me falar.

- Sem problemas. Pode até já me considerar um amigo. Não sou de fazer amigos tão facilmente, mas gosto de ajudar as pessoas novas. Sou o representante da turma, aliás, preciso manter o meu título. Mas claro que não é só por isso que estou te ajudando.

- Claro, eu compreendo. Não se preocupa. Com certeza votarei em você nas próximas eleições. Já vi o quão boa pessoa você é e quer ajudar os outros.

- Ah, que isso, tem outras pessoas que possivelmente podem ser eleitas. Quem elege são os professores. Nós votamos em cada turma. Por acaso, me surpreendo que só durante dois anos que estou aqui, que não fui. Mas as vezes sou elegido de última hora. Mas corre tudo bem. Se você for um excelente aluno, acredito que vai me passar.

- Dizem que sou, mas não sei se conseguiria isso. Mas vamos ver, não é mesmo?

- Acredito nisso! - Chegando a vez deles, pegaram as porções de comida para lancharem, indo para o pátio interior, sentando num banquinho. - Bem, você pode comer lá dentro, mas é bastante confusão porque muita gente fica lá mesmo sem comer. Na cantina é onde almoçamos e jantamos e ali é o resto das refeições. Eu, por mim, gosto de comer aqui, porque a estas horas mal tem ninguém gritando por aí. Um internato para garotos é sossegado quando tem aulas, mas quando chega os intervalos...

- Nas escolas públicas também é assim. Não sei se já estudou, mas acho que é bem pior.

- Eu estive, mas com a separação dos meus pais a minha mãe me colocou aqui. Por um lado é bom, é só garotos. E assim não tenho que mentir para a minha mãe quando sair daqui que eu gosto de garotos.

- Você...

- Sim, os da nossa turma sabem, mas não contam. Temos um contrato em cada turma. O que acontece na turma fica na turma, o que acontece fora, acontece fora. Somente podemos partilhar se for permitido. É assinado e tudo. Mas é claro que alguns cochichos. Se descobrirem, são punidos. Não é atos que este é o melhor internato.

- Se não fosse, eu não estaria aqui. - A conversa se corrompeu por uns instante pois outro garoto da turma deles os interrompeu e convidou para irem para a área onde tinha brinquedos, que mesmo sendo as pessoas mais novas usando - já que os meninos mais novos tinham dez anos e tinham horários diferentes para não estarem com os valentões mais velhos assim como os na pré adolescência, mas ainda assim poderia se encontrar. - Podemos ter treze anos, mas ainda podemos andar num baloiço de vez em quando, não? E ainda está vazio! Líder, se quiser, eu te empurro. Você é tão pequenino que eu quero te empurrar!

- Claro. Eu amo baloiços. Posso só saber seu nome? Eu esqueci, desculpa.

- Yang Jeongin. Sub-delegado! Primeiro ano sendo Sub-delegado então vou dar o meu melhor! - Quando o menino sorriu, Líder notou que ele tinha aparelho dentário, mas que ficava bem camuflado. - Vamos?

- Vamos aproveitar mesmo. Ainda somos uma parte de crianças, então devemos nos divertir. Muitas vezes vou para a sala de brinquedos também. Amo colorir livros de pintar. - San fala conforme caminhava para a área onde tinha uma área de brinquedos. Líder sentou-se logo num dos baloiços, sendo empurrado por Jeongin.

- Sala de brinquedos? A sala onde a diretora disse que poucos de nós iam pôr ter lá os mais novos? - San também andava no baloiço, respondendo com o maior sorriso já visto naquele dia pelo garoto.

- Esse mesmo! Se não tivermos aula, podemos ir para lá. É bem raro, mas aproveitamos a todo custo! Tem de tudo lá! Mesmo os mais velhos vão para lá também! Temos que aproveitar, sobretudo para quem não teve uma infância boa, ou que teve de passá-la aqui. Saímos daqui adultos, mas nunca saímos sem a nossa criança interior. Eu acho bom dos professores explorarem isso de nós. E olhe, mesmo sendo todos rapazes, aquele local é o mais organizado que tem. A biblioteca também. Mas temos um horário específico para ir neste momento, pois os mais velhos estão já já entrando nas provas finais.

- Nossa eu oiço falar dessas provas. Minha mãe está neste país há muito tempo, e acabou fazendo para conseguir arranjar trabalho, já que ela tinha estudado fora, mas não tinha a escolaridade obrigatória, só o nono ano. Mas conseguiu fazer a prova e ter trabalho depois de me ter. Ela não conta que não tem a escolaridade obrigatória. Eu sei porque eu ouvi ela falando com a irmã.

- Nossa, minha mãe tem tudo. Bem, se não tivesse mão estaria aqui, mas não é como se eu quisesse saber do maldito dinheiro dela. Quero que ela vá para um sítio. Mas acho que todos são assim aqui. - Jeongin diz, é San concorda.

- E seu pai?

- O meu pai é empresário. Sou como vocês. Não quero saber do dinheiro deles. Apenas quero sair daqui quando tiver que sair e se Deus quiser, eu mudo de país. Não quero estar com meus pais.

- Nossa. Parece que não sou o único. Meus pais podem ter o dinheiro que quiser, mas eu não gosto deles. Eles nunca quiseram saber de mim. Tive que cometer coisas horrendas na escola para que eles ligassem para mim, mas acabei aqui, mas é bem melhor. Quero que eles vão para um sitio, sobretudo a minha mãe! Ela é uma má mãe. Nem eu conseguia fazer o que ela fez ao meu pai mesmo ele não sendo um bom pai.

- Deixa-me adivinhar. Ela começou a namorar com outro?

- Namorar? Ah, Líder. Você é tão ingénuo assim? Temos treze anos, pode falar logo que traiu, fez sexo com outro homem.

- Eu acho sexo uma palavra muito feia. Traição eu... Não gosto de falar sobre.

- Parece que não lidamos bem com o significado dessa palavra. Eu fui o traído, mas foi com amizade. Bem, é uma longa história e podem achar muito boba. Mas explica porque eu consegui me assumir com tão pouca idade assim.

- Ah, mas agora quero saber! Sabe, San, gostar de garotos ou gostar de garotas é normal. Não somos perfeitos. Tipo, as mulheres também são umas feras e devem também gostar de feras! Tenho uma amiga que ela estava gostando de uma menina, e as duas eram as próprias feras. Se odiavam tanto. Quando consigo falar com a minha mãe, por mais que não goste dela, eu tenho sempre que perguntar como está a nossa vizinha, por mais comentários muito homofóbicos que eu receba dirigidos a ela. Eu sempre peço para ela parar, porque lembro de você.

- Não sei qual o problema da sociedade. O importante não é ser feliz? - Líder acaba soltando, parando o baloiço. - Se o importante da vida é ser feliz, porque as pessoas não facilitam? Porque simplesmente não aceitam como nós somos e nós deixam viver à nossa maneira? - Por mais que eles não soubessem seu caso e jamais fossem descobrir, ele se surpreendeu quando um garoto que era das turmas mais velhas - pois percebeu pelo seu livro na mão - lhe respondeu.

- Porque o ser humano é o pior monstro da Terra. Ser feliz para ele é ter que seguir regras, quando no final, ninguém é feliz. Mas também a vida é injusta, não pensem que ser feliz também é fácil. Tem coisas que são difíceis para a etapa da vida ser a felicidade. Mas também, vocês são crianças, não sabem de nada.

- Nós temos treze anos! - Jeongin disse, e San se levantou do baloiço.

- Crianças. Não sabem de nada da vida e pensam que podem falar.

- Não se meta nas nossas conversas de "criança" - San diz, fazendo aspas - então! - O garoto apenas ri, saindo daquele local. - Eu definitivamente odeio aquele adolescente. Jung Wooyoung, pode guardar esse nome na lista de rapazes mais insuportáveis desta escola. Ele é horrível. Não tem um pingo de sentimento. Sério, não se mete com ele, Líder. Ele não merece alguém tão fofo como você falando para ele palavras tão educadas.

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⏰ Last updated: Feb 25 ⏰

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Através das aparências | jung wooyoungWhere stories live. Discover now