Prólogo - Uma introdução

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Já faz dois meses.

Balanço no banco de trás do carro, observando a estrada de terra junto do ambiente árido.

Mesmo depois desse tempo, o que mudou? Eles ainda continuam fazendo experimentos, pessoas continuam a morrer.

Há poucas árvores espalhadas pela terra seca. Casas ao longe tremem junto do ar quente, subindo do chão em violentas ondulações. Essa é uma das áreas que foram destruídas, até hoje a terra não se recuperou totalmente.

Uns meses atrás, eu estava lutando contra o que pensava ser loucura. Chutava ser esquizofrenia, alguma doença mental que me fazia delirar. Porém, todos os meus delírios se realizavam.

Caso eu visse um cachorro dando cambalhota, alguns minutos depois isso acontecia. Até hoje me lembro da mulher na academia colocando mais peso do que aguentava e quase se machucando feio…

Mas, ao menos, com essas visões eu conseguia impedir esses desastres. Essa mulher hoje está bem. Ainda indo na academia, tomando mais cuidado também.

Nessa terra seca, pessoas parecem se reunir ao longe numa espécie de poço, usando baldes e roupas curtas, provavelmente torrando de calor. Estamos no sertão, numa das regiões mais pobres de nosso querido Brasil e, agora, no domínio de Palmares.

Ao menos, na disputa. A D ainda não desistiu daqui.

Como nova membra do grupo, vim tentar ajudar eles a estabilizarem o local e acabar com a miséria daqui. As pessoas aqui estão sendo usadas como cobaias para os experimentos de despertados artificiais, basicamente humanos que conseguem utilizar a energia do mundo mas, não sendo naturais, são instáveis e podem romper a qualquer momento.

Romper é uma palavra bonita para morrer.

–Aqui é o sudeste? –O comentário da minha colega quase analfabeta me faz rir, desviando um pouco o meu foco nessa situação miserável. Sequer preciso olhar para trás para vê-la me fuzilar com um olhar mortal.

As luzes e sombras dançam, formando os olhos castanhos dela, com leves tonalidades em vermelho, focando conforme o seu semblante fica sério. Pelo meu dom, capaz de mostrar tudo o que acontece perto de mim agora ou alguns minutos no futuro, vejo a pele escura de Raissa corar um pouco, deixando suas bochechas levemente rosadas, o que a faz ajeitar o cabelo preto e ondulado até os ombros, basicamente sua ação de nervosismo.

–Não entendi a graça.

–Raissa, estamos literalmente no nordeste… É pro OUTRO lado. –O motorista define com um leve deboche. Mesmo sem tirar os olhos da planície, consigo ver claramente o sorriso no rosto dele no banco à minha frente, também sendo mostrado pelo meu dom.

Eu sou uma despertada, uma humana que consegue sentir e usar a energia do mundo, chamada aura. Por isso, meus sentidos são totalmente diferentes dos… Dos humanos comuns. A forma que vi Raissa, agora emburrada, foi pela energia.

–Não leve pro lado pessoal. –Gabriel, o motorista, define novamente. A ironia transborda e não consigo evitar de rir uma segunda vez, vendo-o desviar os olhos claros para o espelho da camionete, olhando para mim conforme o sorriso surge em seu semblante.

Ele, um jovem assim como eu, também é um membro dos Palmares. Contudo, diferente de mim, o colega possui alguns anos de vantagem na instituição.

Observo-o por alguns segundos, gostando de ver seu sorriso. A pele branca dele cintila com sua aura, deixando a camisa branca de basquete levemente brilhante. Seu cabelo cortado na lateral possui uma tonalidade marrom, um pouco clara, além de ser volumosa para cima.

Até hoje me surpreendo o quão forte ele é, seu corpo é simplesmente muito mais definido que os dos outros estudantes ou membros. Apesar de estar nos seus 18 anos, Amaral é de longe um dos caras mais fortes que já vi. Admito, também é um dos mais bonitos.

–Ignore eles. –Ao lado de Amaral e na frente de Raissa, que volta os olhos para o dono da voz, a última pessoa na caminhonete olha para trás, voltando seu corpo para a mulher. A correntinha de ouro com uma cruz move-se e chama a minha atenção. O item, contradizendo com a pele parda dele, mais escura, para perto de seu ombro e o seu rosto é voltado para nossa querida colega, ainda furiosa. –Você aprendeu a ler em menos de um mês, isso é incrível. Pegue o papel de pauta e leia o que você escreveu.

–Tá… –Voltando a atenção para a bolsa, ela pega algo nela e Campos ajeita seu óculos redondo e cinza no nariz. A barba, incompleta perto do queixo mas cheia dos lados, dá a impressão dele ser mais velho do que realmente é. Com plenos dezoito anos, bigode quase completo, um semblante sério e relaxado ao mesmo tempo, esse cara me faz pensar num senhor de quarenta ou cinquenta anos as vezes. –Esperai, aquilo dali é um monstro?

Tiro os olhos da planície, voltando-os na direção que Raissa, apontando para o vidro de seu lado, mostra uma estranha nuvem preta.

–Mudar de rota? –Amaral questiona, provavelmente temendo a conclusão.

–Sim. –A caminhonete vira e seguro na beirada da porta. Raissa agarra no banco a sua frente e Campos sutilmente a segura com sua aura, manifestando-se em leves tons azuis pelas costas dela conforme invadimos alguma propriedade deserta, indo diretamente para a nuvem preta, exalando ondas de aura. –Preparados para outra luta contra Kaijus?

–Quem for ferido vai lavar as roupas. –Declaro sorrindo ao, ativando meu dom, ver Raissa com um corte no braço.

–ISSO É TRAPAÇA! –Ela protesta, já imaginando que usei minha habilidade e não consigo evitar de rir.

De toda forma, é hora de fazer o que viemos fazer.

Colocar ordem e, de quebra, precisar lidar com monstros chamados membros da D.

Mundo Distópico - Esperança do Amanhã Where stories live. Discover now