Capítulo 2

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- Seraphina! – Levanto meu tronco rapidamente ao escutar minha mãe gritar meu nome. Sim, eu sei. Um nome peculiar, eu diria, mas no lugar onde eu moro, nomes peculiares são bem-vindos.

- O que foi? – Grito de volta manhosa.

- Temos que colher logo os morangos antes que você chegue tarde na sua escola. – De novo? Eu e minha família não somos bem o tipo de pessoa que possui inúmeras terras e um castelo enorme para ser desfrutado. Mas, nós vivemos bem assim e nunca passamos por fome ou dificuldade do tipo, somos privilegiados por isso.

- De manhã cedo, mãe?

- Exatamente, agora venha. Você não quer se atrasar para a tão esperada aula de combate ou de defesa, não me recordo do nome.

- Aula de defesa por combate, por mais que seja um nome grande, é tão difícil de ser lembrado? – Pergunto pegando uma cesta para serem colocados os morangos.

- Ah, querida, no meu tempo isso nem existia.

- É sempre a mesma frase... Na sua época não existia magia e nem mesmo fadas indo para a minha escola. Porém, já estamos em 1910 e agora, pelo menos nessa parte do mundo, conseguimos aprender sobre qualquer tipo de coisa. - Por mais que estejamos num tempo "moderno", parece que estamos nos anos 1800s, por exemplo o rei e a rainha ainda governam o reino, pelo menos é melhor do que estar no meio dessas inúmeras revoluções que estão acontecendo, uma das vantagens de a parte do nosso mundo ser protegido por magia. Aqui gostam de chamar o mundo dos humanos de A Terra de Lercas, palavra que aqui tem um ar de deboche, de que a pessoa não vale muita coisa, é que nem um xingamento mesmo.

- Quando eu era adolescente, a nossa terra era aberta e não precisávamos escondê-la. – Aff, enfim adultos. Meus pais não gostam do fato de vivermos em um outro tipo de mundo, o Império Místico, ou a Terra Forjada. Apenas alguns humanos são escolhidos para vir a este lado do mundo, ou seja, nós e algumas outras pessoas. Me lembro como se fosse ontem da casinha velha que foi meio que o nosso "portal" e um campo enorme que ficava perto da região, esse lugar é a base para que saibam se você realmente merece ou tem a coragem para participar da Terra Forjada. Eu mereci, meu pai mereceu e minha mãe também.

Bem, mas não é porque você mora aqui que tem poderes, ou é um troll ou uma fada ou tem poderes flamejantes, às vezes você só nasceu privilegiado vindo de um berço de ouro e cresceu treinado para ser alguém na vida, mas acabou se tornando um idiota. Um exemplo? Darian Adrastus, O Arrogante. Muito bom no que faz, menos em sua personalidade. Ele é do tipo uma garota por noite. Mas, eu não quero estragar meu dia e perder meu tempo falando muito do querido príncipe, isso é trabalho para ele.

- Mãe, eu vou ir me trocar, tá?

- Pode ir, se lembre de dar um beijo em mim e no seu pai antes de ir.

- Tá. – Fecho a porta do meu quarto e abro meu armário para pegar uma blusa branca de botões casual assim como meu corset, pego uma calça preta para me movimentar melhor, uma bota preta e a coisa mais preciosa do mundo para mim: minha bolsa de couro que apesar de possuir um tamanho normal talvez caiba o mundo inteiro dentro, acho que ela tem fundo infinito, mas eu gosto de pensar que não é verdade e que o feitiço que está no meu livro mentiu. Checo se tudo nas minhas malas está pronto e fecho a porta do meu quarto. – Tchau, mãe e pai que eu amo muito. – Falo antes de dar um beijo na bochecha dos dois, pegar uma maçã, meus livros, minhas malas e sair de casa. Quão clichê, né?

- Finalmente! Achei que estava doente!

- Nossa, Aylin! Você que não aguenta um momento sem mim. – Abraço minha amiga de lado enquanto sorrio para passarmos na casa de Sebastian, também meu melhor amigo.

- Sem dúvidas! – Aylin Delight é minha melhor amiga, muito animada, por isso é muito difícil ficar triste ao seu lado. É loira de cabelos lisos, olhos castanhos claros e de estatura normal. Por mais que ela seja muito alegre, também é muito ingênua por isso é mais fácil que as pessoas quebrem o seu coração. Somos totalmente diferentes, ela é como a luz que minha noite precisa e eu sou a calma que o reluzente brilho dela precisa. Aprendemos muitas coisas juntas, eu a amo muito. Desviando de assunto, agora estamos indo para a casa de Sebastian para finalmente irmos à escola.

- Nesse ano foram rápidas para me buscar.

- Haha, muito engraçado. – Falo fingindo ficar com raiva dele. Sebastian Delacroix é definitivamente o tipo de amigo que você sempre vai ter apoio, cabelo castanho e cacheado, possui maravilhosos olhos verdes escuros e obviamente já foi um dos garotos que eu já amei, no caso eu ainda o amo, mas não do jeito romântico, pelo menos não depois de ter descoberto que ele gosta de homens.

- Seraphina obviamente se apressou. A querida não queria chegar tarde no primeiro dia de aula. – Escuto um voz familiar falar atrás de nós enquanto andávamos. Adivinhe quem é... Leonid Victorian com seu sorriso pretensioso, também irmão gêmeo de Cassandra Victorian, ambos nossos amigos.

- Nossa, o que vocês fazem ultrapassando essas bandas da região? – Me viro brincalhona para falar com eles, já que sua família era poderosa tanto no ramo político como financeiro. Por isso, amamos brincar com os dois sobre como eles são filhinhos de papai. Eu apenas recebo sorrisos em resposta.

- Nós vamos ou não? – Escuto Aylin perguntar.

- Sim! – Responde Cassandra. Com isso, pego o braço das duas e junto com os meus de cada lado para sairmos andando na frente deixando Seb e Leo para trás.

- Alguma novidade, Cass? – Pergunto olhando para os olhos cinzentos da garota e para seus longo cabelo preto. Solto um breve riso, pois Leonid tem as mesmas fisionomias que ela, sendo apenas a sua versão masculina. Leo também possui cabelo preto com uma mecha azul na frente, olhos azuis invejáveis e orelhas pontudas, uma das vantagens de ter nascido nesse mundo. Viu, não é porque um pessoa vive nesse mundo que a cor da pele é amarelo neon e possui feições estranhas. Se bem que ter rosa escuro ou um azul mais claro como meu tom de seria muito legal!

- O usual, essas férias foram as piores. Como os humanos conseguem viver nesse lugares nojentos? – Ela fala e eu apenas rio porque me lembro de quando estávamos no seu enorme quarto conversando sobre o dia em que seu pai a levou para a Terra de Lercas. Disse que entrou num banheiro químico e ele estava muito podre! Em resumo, ficaram olhando para os coitados como se fossem presas e eles os predadores, os humanos já são muito ridicularizados naturalmente por nós. E com "nós" eu quis dizer comigo também; assim que eu me junto com essa espécie de criatura mágica, eu recebo o nome de ilharne. E sou grata aos deuses todos os dias por esse nome não ser um referencial para nos zombar ou algo do tipo; por mais que algumas pessoas e criaturas às vezes façam isso.

- Pelo menos agora voltamos e todos estão juntos, né? – Aylin pergunta buscando afirmação.

Mesmo que tenha demorado para que chegássemos com nossas enormes malas, eu agradeci mentalmente quando de longe vi o enorme castelo da escola, claro que não era do tamanho dos aposentos do rei e da rainha, mas aguentava hospedar uma incrível quantidade de alunos. O Colégio Magus que traduzido do latim significava Mago, se eu não me engano o nome foi dado devido um grande mago que fez obviamente alguma coisa grandiosa que eu não me lembro..., enfim, vou guardar o papo de história para a aula em si.

- Bem-vindos! – Disse Sebastian sarcástico fingindo alegria enquanto lia uma enorme faixa que tinha no começo do portão. – Eu sinceramente tenho pena dos que não sabem o inferno que é dormir aqui todos os dias.

- Ah, vai, não é tão ruim. – Cassandra insiste.

- Não é ruim para vocês três que tem um quarto enorme e as três são amigas. Eu divido o quarto com um menino tão desinteressante que nem o nome dele eu lembro, e é tudo culpa do Leonid que quis dar uma de ricaço e ficar com um quarto só pra ele. – Todos riem, afinal Leonid fala que apenas quer privacidade, bobagem.

- Acredite, é melhor do que ter que pedir todo dia para Cass guardar as roupas dela. – Eu falsamente reclamo. Para falar a verdade, somos sortudas de dividirmos o dormitório juntas. Cassandra tem dinheiro o bastante para compara o quarto plus, Aylin o quarto um nível abaixo do plus e eu o normal, mas optamos por ficarmos juntas, e como uma vantagem, o dormitório fica ainda maior quando é dividido com três pessoas, ainda bem que aprendemos a não ocupar tanto espaço.


Memórias vingativasWhere stories live. Discover now