Capítulo 12

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O cheiro de chuva invade minhas narinas, e mesmo estando de olhos fechados o breve clarão vindo da janela revela que estou na cama de Gael, algo que me tranquiliza. Levo minha mão a testa forçando minha mente a se lembrar dos últimos acontecimentos, não faço ideia de quanto tempo fiquei desmaiado e muito menos por que desmaiei, mas pelo visto tivemos êxito no final.

Preciso parar de desmaiar aleatoriamente por ai.

Abro os olhos captando e digerindo as memórias do dia anterior, porém meu coração dispara automaticamente ao encontrar Gael deitado ao meu lado. Ele ressona baixinho e sua expressão é quase angelical, também parece em paz e totalmente confortável mesmo estando quase fora da pequena cama que nos sustenta, como alguém tão grande quanto ele conseguiu se enfiar aqui?

Agora entendo de onde o cheiro de chuva vem.

Observo seu rosto e volto a me lembrar do nosso beijo, aquilo pareceu tão diferente, tão intenso e tão certo que o fato de não estarmos nos beijando agora mesmo parece errado. Seu toque não me causa mais pânico, sua presença não me espanta, sua respiração tranquila é reconfortante e sinto que nada seria capaz de me machucar no momento, pois com ele estou totalmente protegido.

Levo minha mão até seu rosto acariciando-o suavemente, finalmente fomos capazes de admitir nossos sentimentos, mas o que vem a seguir? O que fazemos agora? As preocupações surgem, porém logo se dissipam no momento em que percebo que é dele que estou falando: Gael me guiará nesse novo impasse assim como fez até chegarmos no agora, e saber que posso contar com alguém como ele me trás confiança.

Tudo ficará bem no final, disso eu tenho certeza!

Ao checar meu corpo, percebo que tudo parece estar bem novamente e, para ser sincero, me sinto completamente descansado. A sensação é boa e trata-se de algo que eu não sentia há dias, não sabia que precisava tanto descansar até de fato descansar. No momento, o peso que paira sobre minha consciência é a única dor que sinto, como pude chegar aquele estado? Como pude fazer isso comigo mesmo?

Como pude, por puro descuido, arruinar o que poderia ter sido um dos melhores dias da minha vida?

— Êpa! Foi mal, não sabia que já tinham acordado.

Só pode ser brincadeira.

Poderia ser Clarice interrompendo mais um dos meus inúmeros bons momentos, poderia ser uma galinha aleatória voando ou até mesmo um infectado sedento por destruição, mas o universo resolveu mandar justamente a única pessoa que eu não gostaria de ver nem pintada de ouro.

— Fala baixo, ele ainda está dormindo. — digo, sentando na cama com cuidado. — O que pensa que tá fazendo aqui?

— Clarice me pediu pra ver se vocês estavam bem, eu até tentei recusar, mas ela acha que manda em mim. — Héctor responde, com seu maldito sorriso torto. — Como se sente, Lara Croft?

Ele me entrega um copo de água que, a princípio, tento recusar, porém minha garganta está seca então acabo aceitando a oferta.

— Muito bem, na realidade. — respondo, tomando um gole. — Pelo menos até ter sua maldita presença em um espaço tão apertado.

— Tem medo do que é capaz de fazer na minha presença, não é? Eu sei que sou irresistível, e nem tente negar!

Após ouvi-lo, minhas suspeitas se confirmam: não há nada que me preocupe mais do que morrer antes de vê-lo cair da escada e quebrar o pescoço com a queda.

— Nem me fale, você não tem noção de como tenho que me controlar pra não socar sua cara. — digo, o encarando com firmeza. — Já deu Héctor, vou esperar Gael acordar e descer, pode ir.

MATTEOWhere stories live. Discover now