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- Estávamos esperando por você. - Uma mulher fardada de polícia falou comigo. - Ela está lá dentro. Não para de falar em você e na garota.

- Quero vê-la. - Falei, respirando fundo. Ela assentiu e pediu que eu a seguisse.

Para falar a verdade, eu estava um pouco nervoso e o ódio estava começando me cegar. Eu vim pensando todo o caminho até aqui numa forma de conversar com ela, entender seu lado e talvez... perdoá-la. Eu sabia que ela não merecia meu perdão, o perdão da Bru, mas eu acho que seria a decisão certa a se tomar, para que a Bru descansasse em paz.

Caminhei pelos corredores, vendo diversas celas diferentes, com presos. Todos me analisaram quando passei por ali, talvez curiosos.

- Fique aqui. - Ela disse, abrindo uma porta. Entrei e me sentei num cubículo, esperando ela chegar.

Esperei por cerca de três minutos, até ela aparecer. Para falar a verdade, eu nunca tinha vista aquela garota tão feia como ela estava. Vestia aquele traje tão clichê que era usado nos filmes; os cabelos estavam assanhados e pareciam sujos, os olhos cansados e deprimidos, e o rosto cheio de olheiras e espinhas. Seja lá o que tenha acontecido, ela não estava passando bem, e tudo que eu conseguia pensar era numa forma de fazê-la
sofrer e se arrepender todos os dias por ter feito aquilo com a Bru, que não fazia mal a ninguém.

Ela sequer conseguiu olhar na minha cara. Abaixou a cabeça e se sentou. De onde eu estava, pude sentir o odor de vomito e algo mais. Meu estômago se embrulhou imediatamente.

- Virei quando acabar. - A mulher disse e se retirou, enfim.

Abri a boca diversas vezes tentando formular alguma frase, tentando arrancar a verdade dela. Eu não conseguia nem olhar para ela, sabendo que aquelas mãos usaram uma faca que perfurou quase todos os órgãos da Bru. Eu queria vomitar cada palavra, mandá-la
para a puta que pariu, para o inferno, mas não o fiz.
Fiquei olhando, observando, tentando entender, achar uma resposta boa o suficiente que me desse consolo.
No mais, ao ver que ela ficaria calada, decidi começar.

- Você acabou com a minha vida. - Comecei. - Arrancou meu coração de mim da pior forma! Olhe para mim - Murmurei, sentindo cada gota de raiva em mim. Queria matá-la, usar uma faca e perfurar cada órgão do seu corpo. - Olhe para mim, porra! - Dei um murro na mesa, fazendo um barulho irritante que a assustou. Levemente trêmula, ela me olhou pela primeira vez. O queixo tremia tanto, que senti pena dela. - Por que você fez aquilo? Você matou uma pessoa. Uma pessoa inocente, que não fazia mal a ninguém!

Olhando em meus olhos, ela respondeu da pior forma possível:

- Ela queria o que era meu. - E sorriu. Algo dentro de mim gelou por completo. Aquela garota era muito fria. - Eu avisei a ela, falei para não entrar em meu caminho e agora espero que ela esteja no inferno!

- Sua vagabunda! - Xinguei. - Pro inferno vai você, sua assassina de merda. Você a matou. Vai apodrecer nessa cadeia pelo que depender de mim. Espero nunca mais olhar para a sua cara novamente. - Falei.

- Eu queria tanto você que me deixou cega de raiva. - Jey disse, cruzando as mãos algemadas em cima da mesa. - Só queria que você me enxergasse, mas como era possível se você só tinha olhos para a demônia da Bruna McLean? - Ela me olhava friamente. - Ela tomou você de mim, acabou com a minha vida. Vinha pensando numa forma boa e dolorosa o bastante para matá-la e fazê-la sofrer até a morte. Foi muito bom ver o sangue espirrando, ela gritando e chamando por você...- Engoli em seco. Ela estava começando pegar pesado comigo e acho que não suportaria ficar ali muito tempo mais. - Sabe qual a decepção? Chamou tanto por você e você não pôde salvá-la porque é um fracassado de merda! Amei ter feito parte daquela cena toda.

- Já chega! - Me levantei da cadeira e olhei bem para ela, enraivecido por ter ouvido palavras tão duras e asquerosas. - Eu vou levar esse testemunho para o delegado. Daqui você não saí mais!

- Por mim...- Deu de ombros. Ela não se importava se estava presa ou não, não ligava para as algemas em seus pulsos.

Ao olhar para ela, entendi o quanto aquela garota era perturbada da cabeça. O sorriso debochado, o jeito de agir com frieza mesmo depois de ter matado uma pessoa.
Ela era uma psicopata. Daquela idade ela não sentia nada, não sentia remorso por ter matado a amiga, não sentia pena de mim, não sentia nada.

Era uma pessoa sem sentimentos. Matou por seu bel trazer.

- Olha aqui, eu vou embora...- Dei de ombros. -... não voltarei mais. Sabe, a bíblia fala sobre o perdão. 70x7 você já ouviu falar? Eu vou te perdoar porque meu coração é bom, o coração da Bru era bom, mas não porque você merece! A sua atitude mostra o quão podre você está por dentro, precisando de uma ajuda especifica. - Ela me encarou em silêncio. - Você a matou, uma pessoa tão inocente, e por mais que seja difícil... eu te perdoo por isso. Jamais conseguiria seguir minha vida sabendo que carregaria esse fardo tão pesado comigo. Quero que saiba que te perdoo mesmo por ter feito com que meu mundo desmoronasse. Eu perdi alguém que tanto amava por sua culpa. Olhe para mim... espero que a culpa, o medo, a angústia, o sofrimento da Bru possam te acompanhar pelo resto dos teus dias e que você sofra tanto, mas tanto, que vai desejar a morte e não a encontrará.

Com isso, abri a porta e sai. Não ousei olhar para trás, mas estava sabendo do peso das minhas palavras.

Tinha sido uma decisão tão difícil, mas eu fiz por mim, pela Bru, por nós dois.

•••
Seguinte...

O Garoto Do Ônibus || Concluído ✔️ Where stories live. Discover now