2. Questão de Fé

107 18 384
                                    

Terezinha levantou-se
Levantou-se lá do chão
E, sorrindo, disse a ele
Eu te dou meu coração

O primeiro encontro com Lucas foi indescritível para Tereza. Sua mente de esgrimista era incapaz de recriar a magia contida naquele simples prosear. Sabia apenas reproduzir golpes, a arte do corpo em movimento. A dança dos hormônios dentro das artérias, só podia sentir. E já era muito. Como todas aquelas emoções couberam dentro dela? Pensava que a esgrima e a pressão pela vitória eram intensas. Ah, tolinha... 

Seu acompanhante também parecia encantado e isso a deixou suscetível ao charme dele. Jamais chegara perto de uma situação daquela. Queria aproveitar ao máximo. Lucas, outrora, era apenas um fã com um crush nela. Porém, isso mudaria logo se dependesse de Tereza. 

A voz dele era viciante. Podia ouvi-la eternamente. Naquele papo animado, parou de se remoer pela recente eliminação nas Olimpíadas e conseguiu encontrar a paz. Voltou a ser aquela Terezinha de antes, quando a obrigação de vencer era menor que a de se divertir. E como se divertiu! 

Era cedo demais para declarações apaixonadas. Contudo, secretamente, imaginavam quando não mais seria. Ambos estavam animados em continuar se vendo e não poderiam negar ter sentido atração. Despediram-se já com o próximo encontro marcado. 

Enquanto retornava, Tereza agradeceu à Santa Joana D'Arc por lhe apresentar Lucas. Um rapaz maravilhoso daquele só poderia ser um presente divino. É, talvez ela não fosse tão parecida com seu ídolo. Joana fizera voto de castidade e Tereza ficou ainda menos disposta a fazer um depois daquele dia. 

As saídas continuaram frequentes. A pressão pela vitória era aliviada com a presença de Lucas. Diante dele, Tereza era livre para mostrar falhas. Ele lembrava o que a atleta já fizera e que uma derrota não acabaria com sua meta de popularizar a esgrima. Era importante valorizar o presente, sem se martirizar pelo futuro. 

Nesse contexto, quiseram oficializar algo. Tereza nunca teve namorado, então fez questão de falar com seu pai e com a mãe de Lucas. Desse modo, ficou muito animada quando o rapaz a convidou para comer na casa dele. 

– Mãe, você não vai acreditar! Olha quem está aqui: Tereza de Jesus, a esgrimista! – Ele falou radiante. Queria gritar ao mundo quem era sua convidada. – Pena que o pai não pôde estar aqui para conhecê-la também... – Lamentou.

– Quanta sorte ter cruzado com ela! Não sabia que morava aqui... Seja bem-vinda! – Sorriu para a convidada, que foi cumprimentá-la. 

– É justamente por viver aqui que comecei a acompanhá-la. Um pouco de nativismo faz bem, não é? – Acrescentou Lucas. 

– Não nasci aqui, mas já estou há oito anos. É uma boa cidade realmente. – respondeu Tereza. 

– Enfim, é uma honra recebê-la. Não faz ideia de como Lucas é seu fã. Acredita que ele fez uma estatueta sua? – A mãe se afastou e trouxe uma figura de argila. Tratava-se de um esgrimista, mas era impossível identificar quem, devido ao uniforme esportivo. Tereza precisou crer que era ela. 

A atleta pegou a estatueta e a analisou mais a fundo. Lembrava-se de Lucas comentar que era oleiro, porém jamais imaginou estar entre suas criações. Sentiu-se honrada e realizada, pois ao menos um brasileiro aprendeu a apreciar esse esporte milenar. 

Esperava que ele moldasse esse relacionamento incipiente para algo bonito, como fez com a estatueta. Assim, a figura de argila deixaria de representar uma atleta e representaria uma companheira de anos.

– Fiz quando você foi bronze no mundial do ano passado. – Lucas estava animadíssimo. Lembrava as emoções sentidas, o encanto com a majestosidade da atleta. E ela estava ali do lado, disposta a dar-lhe uma chance... era demais para seu serzinho. 

Questão de FéOnde histórias criam vida. Descubra agora