Nuvens escuras significam dinheiro no bolso

É a inocência que enrola a corda no próprio pescoço

Hongjoong continuou rindo e trocando olhares com Yeosang.

ㅡ Ele também disse que tu e um cara chamado Wooyoung se infiltraram em uma embarcação inimiga e mataram todos os tripulantes com um gás venenoso. Roubaram cento e poucos cilindros de raios frescos.

ㅡ Eu lembro dessa, Jongho também tava junto… ele vai gostar de conhecê-lo, ele tem instinto de mamãe. ㅡ Yeosang tragou o cigarro e resmungou para Hongjoong. ㅡ E as ordens, capitão?

ㅡ Deixe que façam o trabalho por nós, navegue ao redor da nuvem e apenas monitore o radar. Diga aos homens para prepararem as armas. 

Yeosang balançou a cabeça e saiu da sala. Mingi o seguiu com os olhos. O homem era estranho.

Alguma preocupação deve ter passado pelo rosto de Mingi sem que ele percebesse porque Hongjoong se aproximou para lhe dar um tapinha dócil no ombro.

ㅡ Somos piratas, princesa, tu não pode esperar muita coisa de nenhum de nós ㅡ ele resmungou e, por um momento, seus olhos pareciam compassivos, mas assim como chegou rapidamente se foi. Tão rápido como se nunca tivesse existido nada ali além da malícia congênita.

ㅡ Levanta.

O Capitão o ajudou a vestir o cinto de segurança e a máscara, sempre ostentando um sorrisinho como se soubesse de algo que Mingi desconhecia.

ㅡ Vem.

Os corredores do planador eram estranhamente silenciosos, talvez fosse pelo baixo número de tripulantes. Umas sete ou oito pessoas, Mingi não tinha certeza.

Enquanto caminhava, Mingi percebeu uma curiosa vibração no ar. Ele parou e olhou para as paredes ao seu redor, e se aproximou para encostar o ouvido em uma delas. Era um chiado. Não havia pausas nem oscilações no som, apenas tocava como um motor em trabalho constante.

ㅡ Qual o problema? ㅡ Hongjoong se virou para encará-lo quando percebeu que não estava mais sendo seguido.

Mingi franziu as sobrancelhas.

ㅡ Tem uma coisa… achei que fosse uma vibração, mas é um chiado. Está correndo pelas paredes. ㅡ Ele cutucou a parede com o dedo e encarou o Capitão. ㅡ Já estive em planadores antes e sei que eles não fazem isso. Quando foi a última manutenção da máquina?

Hongjoong piscou e então arregalou os olhos, gargalhando. Sua risada retumbou como o único sinal de vida no meio do silêncio da embarcação.

ㅡ Guri, tu é mesmo uma coisinha bem interessante… ㅡ Hongjoong esfregou o dedo na sobrancelha esquerda, pensativo. ㅡ Isso são os raios guardados na sala do cofre. Eles pulsam dentro dos cilindros e fazem um ruído, mas é tão baixo que só conseguimos ouvir quando chegamos perto deles.

Ele lançou um olhar para Mingi.

ㅡ Pelo menos pra nós funciona assim… Você parece ter uma audição bem sensível.

ㅡ Não é perigoso guardar tanta energia vermelha assim?

De repente, o medo de uma explosão deixou Mingi zonzo. Suas pernas pareciam estranhas e as paredes do corredor se contorciam, indo e vindo diante de seus olhos como se estivessem se aproximando para tentar esmagá-lo.

Mingi olhou para trás com o rosto apoiado no ombro, sem virar o resto do corpo. Ele puxou o ar. Em algum lugar, no interior daquela maldita embarcação, havia dezenas de cilindros prontos-

Uma mão em seu ombro o puxou de volta. Hongjoong estava na sua frente, cara a cara, olhos cravados nos seus.

ㅡ Não vai explodir ㅡ o Capitão disse e o puxou para baixo para que ficassem mais próximos. ㅡ Não vai explodir. Preste atenção, não vai explodir! O raio não consegue quebrar o cilindro sozinho, ele precisa de uma brecha. A batida tem que vir de fora para dentro. Entendeu? Não vai explodir. Eu sei o que estou falando, estou nessa vida há quase duas décadas.