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“Se você ver outra pessoa que parece ser idêntica a você, saia correndo e se esconda.”

inspirado inicialmente em Mandela catalog e no filme de terror psicológico “Sorria”.

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Em um fim de tarde com o céu ainda claro por conta do sol, que já estava de saída, o tempo era frio e calmo, sem muita movimentação nas ruas. Em sua casa aconchegante e não tão grande, Donna estava fazendo algo para comer na cozinha, atenta para não se cortar com a faca que usava enquanto o disco de vinil soava na sala.

— “Stars shining bright above you...”

Donna cantava juntamente da música lenta que soava, era uma música antiga, mas não deixava de ser boa. Tinha um gosto peculiar para músicas.

“Night breezes seem to whisper I love you.”

Ela girou andando até a geladeira, o volume da música não estava tão alto, já que seu irmão mais novo Jake estava dormindo em seu quarto no andar de cima. Seus pais haviam viajado com seu irmão pequeno Stan e os dois estavam sozinhos, tinham idade o suficiente para estarem sozinhos é claro, e Donna como irmã mais velha, ficou responsável de cuidar do seu irmão que precisava logicamente de companhia pela sua deficiência.

— “Birds singing in the sycamore tree.”

Ela cantarolou novamente, pegando uma geleia e fechando a geladeira, voltando até o balcão que preparava um sanduíche. Até que ela ouviu alguns toques na janela atrás de si, sorriu por um momento, achando que era seu namorado Javon. De fato, o garoto tinha uma mania de aparecer nas janelas sempre que os pais da garota não estavam, gostava de surpreender a namorada. Mas dessa vez não era ele.

— “Dream a little dream of me..”

Ela olhou pra trás na expectativa de que fosse ele, mas assim que olhou para a sua janela viu uma figura sorridente, de aparência familiar. Era quase como olhar no espelho, era ela alí, mas não parecia ao mesmo tempo. Os fios de cabelo bagunçados, o rosto um pouco distorcido e um sorriso imenso, além de olhos profundos e sem vida, totalmente vidrados. Donna encarou a figura sem entender, como poderia ser tão parecida com ela? E aquilo permanecia com o dedo na janela, dando toques como se estivesse chamando a garota para abrir.

— Que porra...?

“Say nighty-night and kiss me~”

A primeira coisa que a garota pensou foi em se armar, ela desviou o olhar da coisa por alguns segundos só para pegar uma faca, mas assim que olhou para a janela novamente a coisa já havia sumido. Não fazia sentido, estava alí a segundos atrás e de repente sumiu, ela olhou ao seu redor e aparentemente estava sozinha, baixou a guarda e largou a faca. Se virou voltando a fazer seu sanduíche pensando no que havia acabado de ver, era ela alí, mas não totalmente.

“Just hold me tight and tell me you'll miss me.”

Enquanto estava de costas para a entrada da cozinha, a garota ouviu a porta da casa abrir de alguma maneira, mas de qual maneira? Afinal, a porta estava trancada. Ela não moveu um músculo por segundos, mas assim que se virou para olhar pra trás a coisa estava em sua frente, e em estantes ela usou contra a garota a faca que ela havia pegado antes para se defender.

“While I'm alone and blue as can be..”

Ela empurrou a coisa que caiu no chão batendo a cabeça em um móvel, a garota com a pouca força que lhe restou no corpo depois de ser machucada, se esticou até o fogão e pegou uma frigideira, jogando na coisa. Ela conseguiu lhe fazer um pequeno corte na testa, que logo escorreu sangue e se levantou zonza, indo pra cima da garota. Segurando em suas braços na tentativa de manter a coisa longe dela, a garota empurrou ao chão a criatura que continuava sorrindo, e caiu no chão também.

“Dream a little dream of me.”

De fato, seja lá o que fosse aquilo, era rápido, bem mais rápido do que Donna conseguia ser. Se levantou com raiva mas sem tirar o sorriso do rosto e foi pra cima da garota, subindo em cima dela e colocando uma mão em seu pescoço, apertando para que ela ficasse sem fôlego. Tapas e empurrões fracos não adiantaram naquele momento.

“Star fading but I linger on dear (Oh, how you linger on)”

Se esticando novamente na tentativa de salvar sua própria vida, a garota agarrou a frigideira e puxou atingindo ela com tudo na cabeça da coisa, que caiu para o lado.

“Still craving your kiss (How you crave my kiss.)”

O chão já estava avermelhado com tanto sangue enquanto a garota rastejava na tentativa de sair da cozinha, para salvar a si e o seu irmão.

— JAKE!

“Now I'm longing ‘til dawn dear~”

A coisa se levantou com pouca força e agarrou os pés da garota que gritou com ódio.

— NÃO ENCOSTA EM MIM PORRA!

“Just saying this (Give me a little kiss.)”

Chutando o rosto da coisa com toda a força que ainda tinha e tentando levantar do chão com dor, lágrimas escorrendo pelo rosto e um pânico tomando conta do seu corpo. Ela viu a coisa se levantar como se seus machucados na cabeça não fossem nada, ela mancava andando em direção a garota, tentando finalizar o que já havia começado.

— Não! Não- não não não NÃO!

“Sweet dreams ‘til sunbeams find you..”

[...]

A janela do quarto de Donna se abriu, Javon entrou pela janela mesmo e depois a fechou, olhando em volta e vendo que a namorada não estava alí. Olhou para o gato da garota que estava dormindo antes dele entrar alí, que o encarou com ódio e lhe mostrou os dentes, voltando a dormir.

— Oi pra você também, Sammy.

Acenou para o gato e foi até a porta, ouvindo uma música lenta e um pouco baixa ele deduziu que talvez ela estivesse na cozinha ou na sala. Abriu a porta sorridente e saiu do quarto, descendo as escadas.

— Donna?

“Sweet dreams that leave all worries behind you...”

O som suave da música foi ficando ainda mais alto na medida em que o garoto descia as escadas, pulou de lá assim que sobraram dois degraus. Ajeitou seu casaco já que queria que sua namorada o visse no seu melhor jeito.

“But in your dreams whatever they be.”

Mas assim que olhou para a cozinha ele viu a garota jogada no chão completamento sujo com respingos e manchas de sangue, a adrenalina andou sobre seu corpo e ele entrou em estado de choque. Talvez sua namorada agora estivesse morta, talvez a coisa tivesse cumprido seu dever, talvez... mas só talvez. Talvez a garota ainda estivesse com vida. Ele não sabia, e a coisa já havia sumido.

— Donna...?

“Dream a little dream of me.”

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𝐒𝗈𝗋𝗋𝗂ɑ oυ 𝐌𝗈rrɑ - 𝟏𝟗𝟕𝟖.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora