• três •

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DIAS ATUAIS

Não parecia real aquele bilhete em minhas mãos, não esperei muito antes de o amassar e o atirar no lixo mais próximo antes de segurar Noah em meus braços. Jamais estaria pronta para lidar com as emoções que aquelas poucas palavras causaram em mim, preferiria engolir tudo a me desfazer, nesse momento. O que importava que Harry pudesse me encontrar? Ele não poderia fazer nada, Noah sequer estava registrado com seu nome e depois de me acusar de trai-lo, eu não permitiria sequer que ele fizesse um teste de DNA se quisesse provar que Noah é realmente seu filho. Ele não faria mal algum para si mesmo nem para mim, ao me encontrar aqui. Talvez nem se incomodasse em sair de Londres para me atormentar.

Tentei esquecer isso enquanto via Noah brincando com os ursos de pelúcia que vieram naquela caixa. De alguma maneira, parecia que ele sabia o dia do aniversário de Noah, coisa que apenas as pessoas mais próximas a mim aqui da cidade sabiam, e Primrose também. Talvez minha irmã tenha lhe dado alguma pista do meu paradeiro, mas duvido muito que isso tenha acontecido. Já faziam quatro anos e meio que eu havia saído da casa que era metade minha, com um carro que também me pertencia mas que abandonei no aeroporto, Harry deveria estar mais do que satisfeito sem minha presença por perto. Poderia aproveitar suas noites depois do trabalho com seus amigos, beber e se drogar a vontade. E não teria filhos. A vasectomia não era um método contraceptivo com cem por cento de garantia, mas talvez ele fosse consciente disso agora. Depois que o álcool saísse de sua cabeça.

Mesmo depois desses quatro anos e meio, ainda não consigo entender porquê ele havia agido daquela maneira. A agressividade, a acusação e seus olhos vidrados ainda me causavam pesadelos, o terror que passou pelo meu corpo depois de cair no chão. Parecia que meu coração estava se partindo de novo, mesmo depois desse tempo todo, eu jamais esquecia aquele dia, até os detalhes mais sórdidos de tudo o que aconteceu. A opção mais sensata seria simplesmente seguir a minha vida, continuar aproveitando esses momentos especiais com meu filho, finalmente eu estava em um emprego estável, Noah frequentava uma creche ótima e todos da vizinhança nos amavam. Era um bom lugar para se viver longe do pânico que me atormentava em Londres, mesmo que ele estivesse chegando até aqui de maneira avassaladora.

Me sobressaltei quando ouvi batidas leves na porta, meus olhos se arregalaram por um segundo e meu coração foi a mil. A pergunta simples de "e se for ele?" rondava a minha cabeça, e se realmente fosse ele parado na soleira da porta? O que eu poderia dizer para que fosse embora? Me levantei calmamente enquanto deixava Noah brincando com seus novos brinquedos favoritos, passei as mãos suadas pela camiseta antes de abrir a porta e soltar um suspiro de alívio quando percebi que na porta estava Liam.

Liam Payne sempre fora um grande amigo desde que cheguei na cidade, grávida e sem sequer um teto em cima da minha cabeça. A pequena casa em que eu morava, era um de seus aluguéis. Liam havia herdado algumas casas depois da morte dos pais, e fez bom uso delas, agora algumas casas viraram pequenas conveniências ou salas comerciais. Aos trinta anos, Liam era considerado o maior partido da cidade, mas não parecia nenhum pouco inclinado a mudar esse status e entrar em um relacionamento.

— Como você está tão aliviada em me ver hoje, não vou nem cobrar o aluguel hoje. — O sorriso em seu rosto me fez sorrir também. — Não sei se vocês já comeram ou não, mas fiz um bolo pro Noah.

Finalmente notei que em suas mãos havia um bolo simples de chocolate, com cobertura e confetes coloridos, do jeito que Noah sempre adorou. Meus olhos lacrimejaram.

— Oh, Liam... Não precisava, entra logo. — Dei passagem para ele, que não esperou muito antes de entrar em minha casa. — Noah, olha quem chegou para te visitar!

    Não houve tempo algum antes que Noah abraçasse as pernas de Liam e se divertisse durante o resto do dia, aproveitando seu aniversário como se fosse o último dia de sua vida — pelo menos, era o que parecia. Noah era uma criança intensa, comunicativa e cativante e todos a sua volta percebiam isso, pois acabavam presos pela sua aura. Liam não teve chance alguma quando Noah o arrastou para brincadeiras com folhas e canetas, ou quando o fez correr atrás dele pela pequena casa. E Liam estava se divertindo mais ainda do que Noah. Eu era extremamente grata a Liam por todo seu apoio a mim e ao Noah enquanto passei pelos piores/melhores meses da minha vida, como um porto seguro.

— Vou dar um banho em Noah, será que pode esperar um pouquinho? Vou fazer o jantar depois. — Murmurei para Liam enquanto ele estava com Noah no colo.

— Eu posso ir fazendo o jantar enquanto você vai lá, se quiser. — Ele respondeu com um sorriso bobo no rosto.

— Vem, bebê. — Chamei Noah para meu colo e o dei um beijo na bochecha. — Vamos tomar banho enquanto Liam faz o jantar, o que acha?

— Sim. — Meu bebê assentiu com a cabeça e bateu as  mãozinhas enquanto eu o levava até o banheiro.

   Não demorei muito em dar banho em Noah, mas me deixei ficar entretida enquanto ele brincava e jogava água para todos os lados do chuveiro, molhando todas as paredes e todo o box do chuveiro. Ele era uma criança feliz, apesar de tudo. E como frequentava uma creche simples, quase não tomava que as crianças que iam com ele tinham pais e mães. Noah nunca me perguntou sobre o pai e eu esperava que demorasse um pouco até faze-lo, pois eu contaria a ele. Falaria que ele tinha um pai mas que estava muito longe dele agora. O rancor em meu peito só aumentou enquanto secava Noah, pois Harry havia perdido a chance de ser pai para uma criança incrível, para a luz na minha vida. Ele havia perdido um amor tão incondicional que era capaz de me derreter e me moldar várias vezes ao longos dos anos.

    Não prestei muita atenção quando ouvi batidas na porta da frente, mas vesti Noah enquanto Liam gritou que iria atender a porta. Penteei seus cabelos castanhos e o levei para fora a tempo de ver a figura na porta e uma voz grave em um tom afiado dizendo:

— Boa noite, eu conheço você?

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