ASSISTIA A ENZO preparando seu sorvete, as costas curvadas, os cabelos penteados para trás com alguns fios rebeldes caindo sobre seu rosto. Observou-o colocar a colher em um pote próximo a si e se virar para Martina, exibindo o cone de biscoito recheado com uma massa de sorvete branca e roxa.
— Sabor merengue de frutas vermelhas! — Disse animado, tirando uma risada da menina.
—Tá bom, sorveteiro, minha vez agora — implicou, chegando mais perto do freezer.
— Nem pensar — respondeu, tomando o cone de biscoito de sua mão. — como você disse, eu sou o sorveteiro, eu faço os sorvetes! Qual sabor você quer?
— Esse de cereja — murmurou relutante, recebendo um sorriso vitorioso como resposta.
COM UMA PISCADELA, ele se virou para o freezer, fazendo o mesmo processo mais uma vez. Enquanto segurava a sobremesa de Enzo, a jovem contemplava as famílias sentadas às mesas da sorveteria, as crianças sorridentes, os casais apaixonados, todos tão imersos em sua própria felicidade que a fazia questionar se isso era realmente possível. Ao desviar o olhar, encontrou o rapaz a encarando, com seu sorvete em mãos.
— Seu sorvete, senhorita — disse divertido.
— Muito obrigada, senhor — falou, com um sorriso nos lábios.
— De nada, linda — respondeu, caminhando sozinho até o caixa.
MARTINA FICOU onde estava, estática, já havia notado que Enzo era um homem charmoso e se questionara sobre o tanto de mulheres que já haviam se entregado ao seu charme, mas não imaginara que pudesse se tornar uma delas. Avistou-lhe conversar com a mulher do caixa e pagar pelos dois sorvetes, voltando para perto da jovem de cabelos avermelhados, com um sorriso galanteador. Saíram da sorveteria lado a lado, caminhando mais um pouco para adentrar na grande avenida conhecida como La Rambla de Montevideo, a jovem adorava tudo o que aquela parte da cidade poderia oferecer, comidas ótimas, danças típicas e atrações turísticas. Enzo contemplava discretamente o encantamento da mulher, o brilho que invadira seus lindos olhos castanhos, o sorriso que se formara em seus lábios quando avistou um casal dançando tango no grande calçadão da orla, suas expressões o fascinavam.
— Tina, vem cá, me deixa tirar uma foto sua — enunciou, chamando sua atenção.
— O que? Pra quê? — Perguntou desconfiada.
— Sei lá, acho que pra não esquecer esse momento — disse, pegando a câmera de sua mão. — Vai, faz uma pose!
— Ah... tá bom, calma aí. — Se posicionou contra o mar, o cone de sorvete em suas mãos, seus óculos de sol segurando sua franja, e sorriu.
O RAPAZ OBSERVOU A CENA atentamente antes de fotografá-la, guardando-a dentre suas memórias, havia algo de especial sobre aquele momento, talvez a sensação de que se conhecessem há anos ou a reminiscência que aquela parte da cidade causava em si. Enzo era natural de Montevidéu, mas nunca se acostumava com as belezas da cidade, sempre as deslumbrava como um turista recém chegado.
— Pronto, linda — disse, entregando-lhe a câmera.
— Até que não ficou tão ruim, senhor — implicou, arrancando uma risada do rapaz.
— A modelo deixou o trabalho mais fácil, sabe — respondeu observando Martina corar.
A JOVEM SE ADIANTOU em caminhar na frente, disfarçando o rubor que invadira suas bochechas e divertira seu companheiro, se esquivou da companhia de Enzo por algum tempo, evitando caminhar lado a lado com ele. O rapaz se deleitava com suas múltiplas tentativas de segurar risadas ou sorrisos, esforçando-se ainda mais para fazê-la rir. Caminharam pela avenida usufruindo de tudo o que oferecia, dançaram candombe junto de um grupo de dançarinos e músicos, comeram garrapiñadas e saborearam a típica cerveja norteña, a noite se aproximava sem que percebessem e, finalmente conseguindo descansar, assistiam ao pôr do sol sentados na beira do rio enquanto dividiam um cigarro.
REFIZERAM O TRAJETO da longa avenida, dessa vez em direção ao apartamento de Martina, o rapaz insistira em acompanhá-la até em casa, caminhavam sob a luz do luar e a brisa noturna vinda do mar. O movimento ao redor do prédio residencial era grande, devido aos muitos restaurantes e bares localizados na mesma avenida e, ao pararem em frente a portaria do grande edifício, a noite estava apenas começando para as muitas pessoas que caminhavam por ali.
— Então é isso, você quer...?— a menina falou timidamente, apontando para a porta.
— Eu adoraria, mas vamos deixar pra próxima — disse com um sorriso amável, — mas eu aceito o seu número, sabe?
— Ah, claro! — respondeu entre gargalhadas. — Me dá o seu celular.
— Como você acha que vamos marcar a próxima se eu não tiver como falar com você? — Perguntou, entregando o aparelho.
— Por carta, talvez — provocou, divertindo-se. — Prontinho, senhor.
— Gracias, bonita. — Sua voz saiu quase como em um sussuro, seus olhos vidrados na mulher a sua frente.
— Adiós, Enzo. — respondeu, com um sorriso nos lábios, aproximando-se e deixando um leve beijo em sua bochecha.
VIROU AS COSTAS para o rapaz, deixando-o parado no meio da calçada, encarando-a. Enzo recobrara a consciência minutos depois, ao ver a luz da portaria se apagar, avançando em direção a seu próprio apartamento, revisitando os últimos momentos em sua memória. Não sabia se era racional se sentir assim, mas não podia esperar para rever Martina.
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Oii amores!! Nesse capítulo citei algumas coisas que eu acho que merecem ser explicadas, para a melhor experiência de vocês, então vamos lá:
1. Rambla de Montevidéu: uma extensa avenida que costeia o Rio de Prata, em Montevidéu. Como citado no capítulo, ela tem grande importância turística.
2. Candombe: Dança típica do Uruguai, que incorpora elementos de culturas africanas, como atabaques.
3. Garrapiñadas: Algo como amêndoas cristalizadas, não sei se é feito apenas com amêndoas. É um doce popular, muito vendido em barraquinhas nas ruas.
4. Cerveja Norteña: Cerveja artesanal típica do Uruguai.
É isso, leitores!! Muito obrigada pela leitura de vocês, não se esqueçam de votar e comentar
