Capítulo 1: O pior dia da minha vida

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Luíz

Era um dia como qualquer outro. O céu estava todo nublado, as ruas estavam movimentadas como sempre e minha mãe estava fora de casa, trabalhando, tentando ganhar o mínimo que fosse para que pudéssemos sobreviver! Eu odiava ter que ficar em casa, sempre dizia que eu também poderia trabalhar, ela não precisava se esforçar tanto e ganhar tão pouco, se eu trabalhasse junto com ela... mas ela nunca parava para me ouvir, ela queria me ver crescer, ser alguém na vida e não acabar igual ela!
Apesar de ainda ser uma criança, eu entendia a gravidade do problema, haviam dias em que minha mãe não comia nada e deixava tudo para mim, eu sempre acabava deixando algo para ela comer, afinal, ela pode ser adulta, mas continua sendo um ser humano que como eu precisa de comida! Não haviam parentes, amigos, nada, éramos apenas minha mãe e eu no mundo, lutando para sobreviver mais um dia e a cada dia que passava, a batalha se tornava cada vez mais difícil!
Se existe algum Deus, ele ou ela provavelmente estava nos testando ou algo do tipo, não importava o quanto a minha mãe tentasse, poucas pessoas viam ela com bons olhos; muitos pelo simples fato da nossa herança indígena, sempre que ela usava algum colar ou algo do tipo, todos pareciam a julgar com os olhos e eu odiava tudo isso, odiava todos eles!
— O que foi? Nunca viu um colar não, é? — Eu diria para todos que ficassem encarando a pessoa que mais amo no mundo com maus olhos, ela não merecia isso, não merecia nada disso, ela merecia uma vida melhor e digna de uma mulher tão batalhadora como ela! — Seus índios sujos! Voltem para a floresta de onde vieram! — Eu odiava comentários do tipo, parte de mim queria meter a porrada em pessoas desse tipo, porém, mamãe sempre dizia que haveria mais chances de eu ser preso do que aquelas pessoas nojentas e eu sabia que apesar de doloroso, era verdade.
Hoje era para ser um dia especial; bem, todo dia que eu acordava com vida deveria ser um dia especial, porém, hoje seria mais especial que os outros já que era meu aniversário de 12 anos e mamãe havia prometido que íamos comemorar juntos, porém, ela não havia aparecido até agora do seu turno da noite como empregada doméstica e eu estava ficando preocupado! Teria algo acontecido com ela? Teriam os chefes dela feito algo com ela? Diversos pensamentos corriam pela minha cabeça, porém, apenas alguns minutos haviam passado da hora que ela disse que estaria aqui, ela poderia apenas ter se atrasado, mas e se fosse outra coisa?
Felizmente, meus tremores são cessados quando pela porta entra uma linda mulher com cabelos negros e lisos, olhos castanhos e uma pela perfeita que qualquer modelo invejaria, ela tem um sorriso tão contagiante que me faz sorrir também, assim que a vejo, logo vou ao seu encontro e a abraço:
— Mãe! Eu estava preocupado, achei... achei que algo tivesse acontecido com você!
— Ah, querido! Não se preocupe, eu estou bem, o ônibus apenas demorou, mas não pense que esqueci que dia é hoje! — Ela me pega no colo com certa facilidade, algo que me surpreendeu já que ela estava com muitas dores nas costas ultimamente. — Hoje é o aniversário do meu menininho e nós vamos em um lugar muito especial!
— Onde? — Acabo ignorando o que acabou de acontecer com essa notícia pois pensava que íamos apenas ficar juntos e talvez assistir algo na TV, já seria um ótimo presente, ter a companhia dela e ser o filho dela era o meu maior tesouro!
— Vamos naquele parque de diversão que não é muito longe daqui que você tanto me pediu! — Ela diz em um voz bem animada, porém acabo franzindo a testa com suas palavras. — Mas, mãe, você não disse que não tínhamos dinheiro para isso? — Indignado pergunto, não podíamos nos dar o luxo de gastar dinheiro com algo tão fútil, nosso dinheiro era pouco e devia ser usado com moderação; ela ri de minhas palavras como se eu tivesse falado a melhor piada que ela já ouviu.
— Ah, não pense muito nisso, filho! Hoje é seu aniversário, só se faz 12 anos uma vez na vida e devemos comemorar, não acha? E também, eu venho guardado dinheiro para este dia já faz um tempo, não se preocupe, não vai atrapalhar com as despesas! — Ela me dá um beijo na bochecha ao dizer isso, apesar disso me aliviar um pouco, continuava achando o comportamento dela bem esquisito, mas decido ignorar isso também, afinal, era meu aniversário, mereço um pouco de diversão.
Vou para o quarto, pego uma de minhas melhores roupas que ainda assim não era grande coisa, mas faziam eu me sentir bem vestido e era isso o que importava. Mãe também pega um de seus melhores vestidos que na minha opinião era lindo, cheio de flores e bem longo, ela parecia uma rainha!
— Vamos então, querido? Quanto mais cedo formos, mais cedo voltamos! — Aquele mesmo sorriso não saia de seu rosto, sorrio de volto e concordo, após trancarmos a casa saímos em direção ao ponto de ônibus, felizmente, não era muito longe.

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