Cuida da Minha Filha

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Depois de um mês e meio de espera,  finalmente chegou o dia de ir para o St. James.
Kara já estava bem na medida do possível e o término do seu relacionamento era apenas uma lembrança incomoda que ela veementemente se obrigada a se esquecer ou ignorar.
A professora terminou de arrumar sua mala e olhou ao redor do quarto. Seria um ano fora, mas ela manteria o apartamento e aos fins de semana ou nos feriados prolongados ela voltaria para casa.
Depois de colocar a última mala no carro e se certificar que a casa estava devidamente trancada, a loira entrou no carro e foi em direção a casa da irmã, já que ela também iria levar a sobrinha.
A distância entre as casas das irmãs era pouca, então em dez minutos Kara já estava esperando a porta ser aberta.
A porta foi aberta por Kelly, esposa de Alex, que recepcionou a cunhada com um abraço carinhoso.
- Onde estão seu óculos? - Alex disse antes mesmo de aparecer no campo de visão da irmã.
- Os dois estão na mala. - Kara entrou na casa se abaixando para receber uma lambida carinhosa do filhotinho de husky da sobrinha. - Oi Bebê, também senti saudades.
- Você não vai receber mais meu abraço. - Alex avisou com a expressão levemente enojada e se afastou passando pelo pequeno corredor que tinha até a sala. - Se você soubesse onde esse bicho passa a língua.
- Ai Alex, você é muito chata. - Kara reclamou surpreendendo a irmã com um abraço, onde ela propositalmente passou o rosto babado no da ruiva.
- KARA... que nojo.
- Até parece que o Husky não te lambe as vezes. Eu já vi. - Kara riu colocando o casaco no encosto do sofá.
- Eu nego. - a ruiva revirou os olhos descontente. Kara sempre quis saber de onde tamanha simpatia poderia ter vindo. - Esme, sua tia chegou. - a mulher avisou, mesmo que fosse um acontecimento óbvio. Kara tinha avisado que ia, então a menina sabia que quando a campainha tocasse, seria sua tia pronta para irem para o colégio.
A adolescente gritou algo que provavelmente ninguém no mundo entenderia. A não ser seus amigos próximos.
Em poucos minutos ela desceu as escadas com o irmão caçula, Andrew, no colo. Os dois eram muito grudados, mesmo com a grande diferença de idade.
- Mãe, o Drew jogou o rolo de papel no vaso de novo. - Kara sorriu para os sobrinhos pegando o caçula de três anos no colo.
- Não era pra você estar tomando conta dele? - Kelly perguntou séria.
- Eu pisquei, ele jogou. Não foi culpa minha. - Esme beijou a bochecha da tia e rapidamente sumiu pelo corredor que dava até a cozinha.
- Você ainda pode mudar de ideia. - Kelly avisou indicando que elas deveriam ir até a cozinha.
- Eu não faria uma maldade dessas com a menina. - Kara respondeu, seguindo a cunhada.
Esme estava sentada a mesa mexendo no celular. Era compreensível que ela estivesse aproveitando as últimas horas para poder se despedir dos mais próximos.
Estudar no internato contava com algumas regras básicas, e uma delas era não ter acesso ao celular nos dias de aula. O que limitava bastante o contato entre os adolescentes.
- Kara, você está com fome? - Alex perguntou enquanto temperava o que a loira imaginou ser filé, a comida preferida de Esme.
- Vou querer só as batatas.
- Vai querer o que eu oferecer, eu em. Eu por acaso vou na sua casa escolher o que você vai me servir. - Alex se virou novamente para a comida.
- Você só pisou na minha casa duas vezes.
- E não fiz nenhuma exigência.
- Tia, o Drew esta passando chocolate no seu cabelo. - Kara olhou para baixo observando o estrago nas suas pontas loiras.
- Andrew - Alex se virou para o filho que começou a rir. - Amor, o Andrew.
Kelly pegou o filho e explicou calmamente que seu comportamento era inadequado, e que ele deveria pedir desculpas para a tia.
- Culpa. - Kara sorriu para o menino despreocupada e aceitando as desculpas para apoiar a educação que as mães davam ao menino.
- Vou tentar limpar isso.
- Você sabe onde fica qualquer coisa. Fique a vontade. - Kelly falou pegando a cadeirinha para sentar o caçula.

Depois de ajeitar os fios novamente loiros, Kara voltou até a cozinha e se sentou no lugar vago.
- Coloquei um pouquinho de alho torrado, que eu sei que você gosta. - Alex avisou tirando o celular da filha e o colocando em cima da mesa. - Você sabe as regras.
- Desculpa. - a menina pegou o celular colocando no bolso do moletom. - Então tia, ansiosa?
Esme cortou um pedaço de filé e colocou na boca antes de levantar a cabeça para olhar a mulher.
- Um pouquinho. - Kara confessou.
Ela não era professora a muito tempo, tinha quatro anos de experiência em sala de aulas, mas com alunos "comuns", não com filhos de embaixadores ou diplomatas.
- Você vai se sair bem. É uma ótima professora. - Kelly disse dividindo a atenção entre o seu almoço e Drew que estava com a péssima mania de querer comer sozinho. - E você filha?
- Eu estou tranquila. - Esme balançou os ombros da mesma maneira que Alex fazia quando estava mentindo. - Li o manual que a tia me trouxe quatro vezes. Sei todas as regras, horários, aulas que eu vou escolher para atividades complementares. Estou levando meu kindle, e acho interessante viver um pouco sem tecnologia. Não estou tentando parecer que eu não ligo, mas acho que na vida tudo é experiência, não é?
- Desde que você não experimente bebida alcoólica, use drogas e faça sexo. Acho que sim. - Alex sorriu para a filha.
- Você acha normal se preocupar com isso e não com homicídio, roubo ou bullying? - Kara perguntou pegando os talheres e provando a comida.
- Posso estender para você também?
- É o meu trabalho Alex, não vejo nenhuma das três opções como algo viável.
- Nunca se sabe. - a ruiva balançou os ombros. - Você não contou como foi a visita a instituição semana passada.
- Foi normal eu acho. O local é enorme, duas vezes o tamanho do shopping, fora os dois prédios enormes que ficam os alojamentos. - Kara explicou quase que detalhadamente toda a estrutura dos vários prédios. - Tem também um bosque, mas eu senti zero interesse em ir conhecer e a direitora menos ainda em mostrar.
- O prédio dos dormitórios são bem afastados um do outro, não são? - Alex cruzou os braços ao fazer a pergunta.
Esme que já estava finalizando o almoço se virou para encarar a mãe.
- Sim Alex, são muito afastados. - Kara riu. - E mesmo se não fosse, tem regras bem rígidas sobre meninos nos dormitórios das meninas e vice versa. Ou sobre namoros.
- Como se tivessem que se preocupar com isso. - Esme resmungou.
- Mudando de assunto. Você tem certeza de que quer ir agora? - Kara se virou para a sobrinha. - As aulas só começam semana que vem.
- Quero sim, vai ser bom me adaptar a escola antes das aulas começarem. Não quero ficar perdida entre prédios a maior parte do tempo. E quero deixar meu quarto já arrumado, as roupas guardadas, não quero ser a aluna que chegou depois e tem que tentar ser a educada.
- Um doce de menina. - Kelly brincou. - Ela só quer se livrar da gente que eu sei.
- Meu DNA corre nas veias dela, ela nunca vai se livrar de mim. - Alex sorriu beijando a lateral da cabeça da filha. - Vou sentir saudades de você bufando pela casa a cada vinte minutos.
- Alex, acho melhor você começar a chorar depois que formos embora. - Kara sugeriu voltando atenção para sua comida. Provavelmente já estava mais que fria, porém agora ela estava com fome.
- Cuida bem da minha filha pra eu não precisar cuidar de você Kara Danvers. - Alex fingiu seu melhor tom de ameaça, mas qualquer pessoa no mundo sabia que ela confiaria qualquer coisa a irmã de olhos fechados, inclusive os filhos.
- Ameaça a essa hora? Para né.

As horas começaram a passar mais rápido e já estava na hora de pegarem estrada.
Esme não sabia bem se deveria chorar para agradar as mães, ou se poderia ir feliz, mas como ninguém estava chorando, ela também não chorou. Não era como se ela fosse ficar muito tempo longe. Ela poderia voltar pra casa aos finais de semana se quisesse e as mães fossem buscar, ou se Kara a levasse.
Antes de entrar no carro, onde a tia já a esperava, Esme deu um último abraço apertado nas mães, e um mais demorado no irmão caçula, sem dúvidas seria de quem ela sentiria mais falta, além do seu filhotinho que estava a observando da janela da sala com as orelhas caídas.
- Eu vou ligar quando chegar. Amo vocês.
Kara sorriu uma última vez para a irmã enquanto esperava a sobrinha colocar o cinto de segurança.
- Pronta? - Kara girou a chave na ignição fazendo o carro ganhar vida.
- Pronta.

Demorou um pouco mais de duas horas para as duas chegarem a entrada do internado.
- Voilà. - Kara disse enquanto esperava o portão abrir.
O local estava silencioso, o que deveria ser apenas momentâneo, quando as aulas começassem, provavelmente seria difícil ter silêncio.
- É maior que eu pensava. - Esme olhava admirada para a entrada do prédio.
- Esse é o prédio principal. - Kara explicou enquanto finalmente estrava pelos portões. - A maioria das aulas são aqui, mas as outras são em prédios diferentes.
A instituição contava com um time de seguranças impecáveis. Tinha quatro apenas protegendo a entrada da escola.
- Será que tem um mapa?
- Pior que tem. Vou pedir para alguém que talvez tenha e te entrego.
Kara estacionou o carro na vaga que ela já sabia ser dela.
- Essa é a minha vaga, então será o nosso ponto de referência. Tudo bem? - Esme concordou um pouco menos segura do que estava em casa. - Vai ficar tudo bem. Qualquer coisa que acontecer, você promete me contar? Tanto como educadora da instituição, quanto sua tia.
- Como assim?
- Esme - Kara adotou um tom mais sério, as duas olhavam para a frente. - Essas crianças são de outro mundo. Nem todas são legais, nem todas são educadas e eu sei que você é esperta o suficiente pra saber isso. Só que aqui não vai ser o ensino médio que você experimentou ano passado. Então como sua tia, eu vou fazer de tudo pra te proteger, não importa o quão longe e babaca eu precise ser pra isso.
- Tia...
- Se você não me contar, e eu descobrir, eu chamo sua mãe. - Kara disse de forma calma. - E nós duas sabemos que não importa se o filho da Presidente estiver aqui, por você ela acaba com todo mundo, independente da idade.
- Eu prometo tia, não vou deixar ninguém me desprezar por ser quem eu sou. - Esme sorriu. - Agora, onde é o meu quarto?

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