3.

141 10 5
                                    

I. sinceridade

— Quase sinto inveja do quanto Louis vai te mimar essa semana, e eu em um quarto de hotel com meu computador e uma infinidade de apostilas e arquivos para ler. — Harry comenta risonho enquanto passa os dedos longos pelos cabides pendentes na arara de seu guarda-roupas. Ele puxa um em que há uma camisa formal, estilo de roupa que raramente usa. Corte simples, sem transparência. Irrevogavelmente sem graça.

— Você deve ter esquecido que não estamos de férias. — Isak ri. No entanto, se pega imaginando uma semana inteirinha na casa de Louis. Acordar com sua voz, seu cheiro e os braços fortes abraçando sua cintura enquanto diz que está muito cedo para levantar, mesmo sendo hora de ambos irem para seus respectivos compromissos.

— É verdade, mas você sabe que ele já comentou algumas vezes sobre como seria incrível se você ficasse lá à noite. Louis faria questão de te levar à faculdade todo dia e eu acho que você deveria aproveitar. — Dobra algumas peças que jogou sobre a cama em que Isak está deitado encolhidinho no canto e o assiste ponderar.

— Não acha que ele pode enjoar de me ver todo dia? — Questiona, muito tentado a ligar pra Louis e perguntar se pode levar uma bolsa de roupas e fazer uma breve moradia em seu loft. É claro que ele não perguntaria, no entanto.

— Não. Não acho que isso seja possível. — Harry suspira, pensando no que vai dizer. — Isak, você precisa aceitar que as pessoas gostam de você por quem você é. Sabe o que Louis não cansa de me perguntar? — Questiona e continua quando ouve um baixo "hum?" — Se você está verdadeiramente gostando do que nós temos, porque ele te sente tão fechado que tem quase certeza que não gosta dele, ou de estar perto dele. — Desembucha o que ouviu na semana anterior e se sente mais leve contando a verdade.

Os últimos períodos após a noite que consolidou a relação dos três têm sido ótimos, Harry não reclama. Contudo, para que aquilo funcionasse, ele não poderia fazer o papel de pombo-correio entre os dois porque a comunicação entre Isak e Louis é estabelecida somente quando estão os três juntos. Além de cansativa, a situação faz com que Louis se sinta um intruso, mesmo que Isak esteja perdida e loucamente apaixonado.

— Oh. — Depois de engolir o sapo que Harry pagou, murmura e procura observar outro ponto no quarto que não fosse o rosto severo do namorado. Dentre todos os reflexos do seu comportamento recluso, o único que não imaginou é que aquilo poderia, de fato, magoar Louis. É difícil absorver a ideia de que alguém além de Harry se importa.

Harry observa o semblante confuso e sutilmente tristonho de Isak e caminha até seu lado da cama, puxa suas pernas, se senta, e as coloca sobre seu colo, acariciando a coxa coberta por uma calça de moletom.

— Eu estou tentando compreender o quanto é trabalhoso deixar alguém entrar. — Diz mais baixo e suave. — Mas você precisa ser sincero com ele. Não podemos nos bastar tirando só as roupas físicas e esperar que o outro entenda nossos conflitos de dentro. — Refere-se a um dos passatempos do trisal. Não são todas as vezes que Isak topa participar, embora. Seus ritmos são diferentes e, felizmente, isso não os impede de estarem juntos.

Ainda que o que Harry diz fosse inteiramente coerente, existe um abismo entre o sexo e o seu interior. Isak pode ter vergonha dos dois, mas se despir de seus medos e mostrá-los a outra pessoa é outro nível de horror. Todavia, esse é um critério inerente à checklist da construção de uma intimidade saudável.

— Não sei como introduzir isso a ele. — Suspira, imaginando as possibilidades. — "Hey, eu sou tão ansioso e desconfiado que mesmo quando você diz que eu sou a melhor coisa que te aconteceu, sinto que é mentira e que, na verdade, você me suporta por ser uma parte obrigatória do contexto." — Desabafa quase brutalmente, sem pensar nas palavras que diz, mas que são visceralmente honestas.

sharing is caring (l.s)Where stories live. Discover now