A visão embaraça demorou a se acostumar com a claridade. Tudo ao seu redor aparentava ser branco sem indicar ainda onde exatamente estava, mas isso pouco lhe importava, pois a atenção estava totalmente focada na figura em sua frente. Era um homem, identificou de imediato, mas os olhos azuis e os cabelos loiros só foram reconhecidos segundos depois quando sua vista melhorou, fazendo a garganta fechar e os olhos arderem.

— Steve? — Soou como um sopro inaudível até mesmo para os próprios ouvidos.

Só então percebeu o quão fraca estava e o quanto sua garganta se encontrava seca, arranhando na palavra. Teve o vislumbre de um meio sorriso, típico do amigo. Estava jovem, sem os cabelos grisalhos e as rugas das quais se lembrava, mas ainda era ele. Como aquilo era possível?

Não importava.

Realmente não importava, porque ele estava bem na sua frente como tanto havia desejado e implorado aos céus vezes em prantos soluçantes encolhida no canto do banheiro pelo duro golpe do luto sofrido, vezes num choro silencioso e discreto em sua cama quentinha e confortável, camuflada na escuridão do quarto para não acordar e alertar ao marido que dormia ao seu lado. Mal percebeu a lágrima escorrer por sua bochecha.

— Eu senti tanto a sua falta — sussurrou-lhe outra vez a confissão de todo o coração.

Finalmente pôde lhe dizer pessoalmente o que sentia. Os lábios tremeram querendo dizer mais. Havia tanto o que contar, desabafar e o que pedir de conselhos, mas o nó na garganta a impedia e a sensação era de que se tentasse abrir a boca, se afogaria em lágrimas e soluços. Queria poder se jogar em seus braços e desmoronar por todas as vezes que precisou fingir ser forte quando o mundo inteiro desabou em seus ombros, sufocando-a tantas vezes que por tantas vezes pensou que não sairia viva dos destroços.

Estava cansada de fingir ser forte. Queria apenas se aconchegar e ser uma menininha assustada, confortada pelos braços do melhor amigo. Não importava o problema, Steve Rogers sempre saberia a melhor forma para resolvê-lo. E que falta fazia ele.

— Eu também senti a sua — sentiu o toque suave em seus cabelos quando ele aproximou a mão de seu rosto, fazendo um carinho reconfortante. — Você se lembra do que aconteceu?

Daiana franziu o cenho e forçou sua mente, mas nada conseguiu além de uma leve pontada na nuca. A careta era resposta suficiente.

— Você se machucou, querida — contou-lhe diante de sua confusão.

Surpresa, apesar de sentir muito bem as dores no corpo, tinha interesse em saber sobre como aquilo aconteceu. Finalmente desviou os olhos para o seu redor, reconhecendo que o branco de absolutamente tudo alí era característico de um quarto de hospital e a superfície nem plana nem macia demais na qual estava deitada, era uma cama de colchão fino típico daquele lugar. Nela estavam ligados alguns tubos e agulhas, com um painel que indicava seus batimentos cardíacos e algo mais.

— Eu fiquei muito preocupado — a voz mudou abruptamente e Diana arregalou os olhos.

Virar o rosto de volta para Steve a fez tonta por breves instantes, mas piscando algumas vezes foi golpeada pela confusão, pois a pessoa em sua frente não era mais seu amigo Steve Rogers, e sim o homem pelo qual era perdidamente apaixonada há quase cem anos, James Barnes. Cabelos curtos, vestes escuras, olhos azuis expressivos e o braço de metal. Era exatamente ele em todos os mínimos detalhes.

Estranhou que não o ouviu chegar, tendo a certeza de que a porta, que estava em seu campo de visão enquanto observava o outro lado do quarto, não havia sido aberta. Ela teria percebido, não teria?

— Onde ele está? — Referiu-se a Steve, vagando os olhos atordoados pelo quarto, mas não encontrou mais ninguém além deles dois.

— Pensei que eu tinha te perdido para sempre naquela hora — disse ignorando sua pergunta em um o tom carinhoso. A mão de Barnes fazia cafuné em seus cabelos, exatamente da mesma forma que Steve fazia antes de ele aparecer e o outro sumir. — Por isso fiz uma coisa estúpida — riu nasalado, sem vontade alguma.

𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱𝚞𝚌𝚔𝚢 𝙱𝚊𝚛𝚗𝚎𝚜Where stories live. Discover now