Capítulo dezesseis

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ARIZONA McGREGOR

Olhando para Zane, não dá para imaginar que ele enterrou sua mãe ontem, seu semblante não é de tristeza, muito pelo contrário, é de alivio. Sua irmã está na lateral da quadra, gritando histericamente para Hunter fazer uma cesta de 3 pontos para ela, Lizzy, por sua vez, está feliz e mostra isso para todo mundo. Nenhum deles chorou durante o velório, nem quando abaixaram o caixão e se despediram para sempre da mulher que os criou. Não queria ter ido, sou a hater número um de velórios, mas, Zane me pediu para estar ao seu lado, mesmo que de forma discreta. Então, eu fui e fiquei ao seu lado do início ao fim.

– Vamos, Hunter! – grito quando o menino está quicando a bola no chão da quadra, indo em direção a cesta, para fazer uma cesta de um ponto, pois é inviável tentar jogar de longe – isso aí!

É um pouco impressionante ver como ele fica camuflado entre os meninos de 10 anos, ficando impossível de dizer que ele tem 6 anos de idade. Seus tênis o impulsionam do chão, fazendo-o voar para cima, colocando de uma forma tranquila a bola alaranjada dentro do arco. Aplausos explodem dentro do ginásio, todos encantados com o talento do meu menino, talento que foi passado de seu pai para ele. Porque, ao vê-lo ali, jogando da mesma forma que Ethan um dia jogou, mostra que tudo que passei, valeu a pena. É como se fosse uma segunda oportunidade para o sonho do meu marido.

– Boa, Hunter – Zane grita ao meu lado, com sua mão direita em meu ombro.

Seus olhos claros encontram nós dois, meu filho sorri abertamente e joga um beijo em nossa direção, deixando Lizzy um tanto brava. O jogo está na metade e o time que meu filho integra está na frente por nove pontos, o que deixa o jogo em uma posição mais confortável para eles. Volto a sentar na arquibancada, cruzando minhas pernas e com os lábios reprimidos, apreensiva com cada passo que meu pequeno dá.

– Seu filho é um ingrato – a loira murmura subindo os degraus, parando ao lado do irmão – perdeu a sua maior torcedora.

– Eu sou a maior torcedora dele – rebato e ela mostra a língua para mim – olha isso, Zane.

– Ela é uma criança no corpo de uma adolescente – o rapaz murmura sem dar muita bola, com os olhos fixos na partida.

Zane está afetado por tudo que houve, por mais que não diga com todas as letras, ele está e isso de não compartilhar com ninguém, irá piorar tudo. Encosto os meus dedos na palma de sua mão, tentando criar alguma ligação com ele. Contudo, está difícil isso, e sinto que Zane não consegue confiar em mim ao ponto de compartilhar todos os seus problemas e medos. Tento colocar em minha cabeça que esse é o jeito dele, que Zane não foi criado dessa forma e irá demorar para aprender que não é bom guardar tudo para si.

– Seu pirralho é bom – Lizzy comenta sentado no meu outro lado, observo sua barriga, por ela ser bem magrinha, já é perceptível uma saliência, mas isso vai muito de genética de cada mulher – quando ele for profissional, vou falar para todo mundo que conheci Hunter McGregor ainda pequeno.

– Bem, eu vou poder falar que pari ele – jogo uma mecha do meu cabelo para o lado e a menina ri do gesto.

– Vocês estarão orgulhosas demais para falarem que conhecem ele – Zane murmura concentrado no jogo.

Por mais que ele fale uma realidade, sua voz é um tanto dura e após isso, ele não diz mais nada até o final da partida. Logicamente que o time de Hunter ganhou, com cerca de 30 pontos de diferença. Como ele ainda é pequeno, não há olheiros para essa idade, mas eles sabem sobre meu filho, o prodígio que joga contra meninos 4 anos mais velhos e os coloca no chinelo. Um dia, e acredito que será logo, chegará um homem em meu apartamento, falando que viu Hunter jogar e que quer coloca-lo em um time de base. E, eu, como qualquer outra mãe, ficarei com o coração na mão, mas, ao contrário do que minha mãe e minha sogra fizeram, irei deixar meu filho voar, antes que seja tarde para ele realizar seus sonhos.

Lucky loserWhere stories live. Discover now