Capítulo 1

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Mamma Mia! – Guy sussurrou enquanto caminhávamos até perto do palanque de eventos, quando nossos coordenadores pediram para que nos reuníssemos lá. – Aquele homem é nota oito deitado, meu bem! – disse, se referindo ao símbolo do infinito. Até hoje ele só deu a nota oito deitado para uma única pessoa e ela se chama Hugh Jackman. Inicialmente eu não concordava com a nota, mas depois que assisti Austrália não pude evitar bater palmas para a análise de Guy. – Qual a probabilidade dele ser gay?

– Zero – todos nós respondemos, fazendo-o fechar a cara.

– Fala sério, Guy. Pare de querer pegar todos os homens lindos para você! – Erin falou, tirando risadas dele.

No momento em que paramos em frente ao palanque, me peguei na dúvida entre permanecer ali, quase de frente para o local onde os dois ficariam, ou me esconder atrás da equipe. Não que eu esteja receosa sobre Enzo se lembrar ou não de mim, pode até ser que ele seja o irmão gêmeo de Enzo, o que seria uma tremenda sorte para mim e eu poderia, talvez, reconsiderar imaginar como ele seria sem a... Bem. Sou uma mulher adulta, não deveria pensar nesse tipo de coisa com tanta facilidade. A questão é que sei que não quero ter de encará-lo novamente. Não gosto de lidar com ironias e Enzo sempre tira o pior de mim.

Dei alguns passos para trás e não tive dificuldade em me esconder, porque todas as mulheres – solteiras, noivas, casadas – e os gays do andar estavam desesperadas para pegar a frente e ver melhor a beleza "incomum em nosso cotidiano" de Enzo. Não as culpo, admito que me pegarei observando-o por um longo tempo, principalmente porque minha mesa terá uma vista privilegiada do escritório dele – se ele manter as persianas abertas, claro. Pensando bem, talvez seja uma boa hora de negociar meu lugar com alguém que senta do outro lado do corredor. Eu não preciso entrar no Facebook pelo computador, se isso quiser dizer que posso ter a vista para a rua.

Enquanto perdia meu tempo pensando nos prós e contras de me manter no lugar em que estou – aqui, parada em pé e na minha mesa –, Barbara apareceu com Enzo e os coordenadores à tiracolo. As equipes importantes da fábrica – coordenadores e gerentes – estavam aqui também, um verdadeiro milagre, já que as duas equipes (escritório x fábrica) não costumam se envolver por questão de afinidade. As pessoas que planejam e as pessoas que executam geralmente possuem modos diferentes de pensar e sem pensar, a culpa dos erros sempre caem naqueles que põem a mão na massa.

– Bom dia a todos – Barbara começou a falar, sua expressão séria. Talvez seja o botox, ou talvez ela não queira realmente sair de sua posição. Honestamente, se eu estivesse para me aposentar, estaria muito feliz de finalmente poder começar a viver uma vida de luxos ao invés de ter de comparecer todos os dias em um escritório e ser odiada pela maioria de meus subordinados, mas vai entender a cabeça de uma workaholic. – Vocês já devem ter ouvido falar sobre minha decisão de passar o negócio para meu filho – com a palma da mão esticada, indicou Enzo, logo atrás de si. – Hoje, tal decisão tomará lugar. Enzo é o novo presidente da Lower e fará um excelente trabalho dirigindo todas e cada equipe pertencente ao nosso grupo. Há anos ele tem se preparado para este momento e não deixará a desejar em nenhum aspecto. Antes de passar a palavra a ele, gostaria de declarar minha satisfação com a empresa à qual me dediquei com tanto afinco nos últimos cinquenta anos. Espero de todos uma dedicação tão impressionante quanto à minha – e com um aceno de cabeça, mostrou-se agradecida a todos nós, porque a palavra "obrigada" jamais sairia de sua boca.

Batemos palmas polidamente e a observamos se encaminhar até uma cadeira para que descansasse seu corpo quase idoso. Enzo – ou seu irmão gêmeo com o mesmo nome? – deu alguns passos para frente com um sorriso no rosto, provavelmente satisfeito por finalmente colocar as mãos no que é seu por direito.

Às Escuras [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora