Zaranler - Parte II

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ATO III (Zilevo)

O silêncio reina. A visão da amada enterrada se repetindo cruelmente na mente do sorumbático deus, uma tortura psíquica que o impede de encontrar qualquer alívio no choro, no sorriso ou mesmo em pensamentos fugazes. Convivendo apenas com o soturno silêncio, cada minuto mais forte. Dominando. Dominando. Até ser morto abruptamente por um alto estrondo vindo da floresta.

Bucu, com uma expressão de espanto gravada em seu rosto, direciona sua atenção para a origem do estrondo, as sobrancelhas franzidas em surpresa. - O que foi isso? - Ele questiona.

Subitamente, do coração da floresta, dois seres imponentes emergem, trajando armaduras negras que brilham com a luz refletida dos cristais arcririsianos. O primeiro, de estatura mais baixa, ostenta uma adaga presa à cintura, seu elmo adornado com chifres diagonais, sob os quais brilham olhos cintilantes, emanando uma aura de perigo latente. O segundo ser, uma figura de grande porte físico, exibe um poderoso machado de duas lâminas de um gume, cada uma forjada do mesmo cristal arcririsiano preto.

Com um sorriso debochado, o ser menor rompe o silêncio tenso que havia se formado. - Parece que interrompemos algo importante, não? - ele ironiza. O riso que se segue é desdenhoso, enquanto ele desembainha a adaga primordial, um movimento fluido e confiante que destaca a periculosidade implícita em sua presença.

Meus punhos se fecham, tremendo ligeiramente com a crescente raiva. - Onde conseguiu essa adaga? - Pergunto, minha voz baixa, vibrando com uma ameaça contida.

O baixo guerreiro, com uma voz arrogante que distorce suas feições sob o elmo, responde: - Com teu falecido irmão! - Sua provocação atinge meu âmago, provocando minha ira.

Impulsionado por ela, avanço em direção aos dois seres. A poucos metros do alto guerreiro, me preparo para desferir um soco em seu rosto, mas sou surpreendido por um golpe rápido do pequeno guerreiro. Seu chute, veloz como um vulto, atinge meu abdômen com força, arremessando-me ao chão.

- Achei que seria mais difícil te derrubar - zomba o pequeno guerreiro. Seu riso é cruel, os olhos cintilantes no elmo reluzindo com escárnio. - Se bem que pensei o mesmo sobre seu irmão - ele continua, seu riso debochado falhando ao me perceber me erguendo do chão sem nenhum resquício de dor.

Apesar de ter me derrubado, o impacto do golpe foi desprezível para mim. - Um ser insignificante como você... - rosno, minha voz retumbando com fúria. - Como ousam? - minha respiração se elevando. - Como ousam...

O pequeno ser, destilando desdém, zomba com voz sibilante, imitando cada palavra minha em tom de escárnio. - "Como ousam." "Como ousam." Mas que droga! Só sabe falar isso?

Bucu, visivelmente afetado pela tensão crescente, intercede com um grito de raiva. - Este é um lugar de luto, não um campo de batalha! Lésnar merece respeito! - Um apelo para a decência em meio à loucura que nos cerca.

- Luto? Que tristeza patética - o pequeno guerreiro retruca com frieza. - Respeito é para os vivos. Os mortos não precisam...- sua frase interrompida por um ato de fúria incontida.

Lanço-me contra ele com uma velocidade surpreendente, meus punhos prontos para desferir um golpe devastador. Ele tenta se defender, mas minha força é superior. Com um soco poderoso, acerto seu torso, o som do meu soco conectando-se com seu torso é um estalo brutal, o ar se expulsando dos seus pulmões com um grito abafado. Ele cambaleia para trás, seu corpo dobrando-se sob o impacto avassalador do golpe. Suas mãos procuram apoio no chão.

- Continue de joelhos! - Ordeno. Meu olhar se desvia do pequeno ser prostrado e se fixa no alto guerreiro, que assiste à cena.

Avanço em direção ao alto guerreiro, porém o pequeno se levanta e tenta me atacar pelas costas, entretanto, no último momento, viro-me, interceptando seu pulso, os espinhos de sua manopla perfurando minha mão, mas ignoro a dor e torço seu pulso violentamente, forçando-o a soltar a adaga.

As Crônicas de Marum - O PrimordialWhere stories live. Discover now