37- Emma

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Tenho passado as últimas horas chorando descontroladamente. Acho que nunca senti tanto medo na minha vida. Para minha sorte, quando recebi a ligação de um número desconhecido contando que Saya estava no hospital Joshua tinha acabado de chegar. Se não fosse por ele eu estaria paralisada até agora no meio da sala sem conseguir respirar e com o tênis colocado pela metade.

-Desculpa mesmo. E-eu deveria ter te ajudado com a situação e assim nada disso teria acontecido- Digo entre lágrimas assim que nos abraçamos com todas as forças.

Saya estava com os olhos inchados pelo choro e havia alguns pontos logo acima de sua sobrancelha. O corpo estava tomado por hematomas e pequenos cortes feitos pelos cacos do vaso.

-Nada disso foi sua culpa. Não tinha como saber que uma coisa dessas aconteceria- Uma mulher na faixa dos trinta e poucos anos entra segurando a mão de uma menininha travessa muito parecida com Saya- O que importa é que ela está bem.

-Saya! Essa é a sua amiga que vimos na pracinha- Ela aponta um de seus dedinhos gordos para mim- O que ela está fazendo aqui?

-Sente-se aqui Susie. Quero te contar uma coisa- Diz Saya o mais tranquilamente possível. Ela agia com tanta calma que parecia ter passado por um ótimo dia e não por um pesadelo- Ela se chama Emma e não somos amigas.

-Ah não?

-Somos namoradas. Não é Emma?- Sua mão aperta a minha me lembrando de que devo falar alguma coisa também.

-Sim. Eu e sua irmã nos amamos imensamente.

-E não há problema algum nisso- Completa Laila com um sorriso doce como mel.

Eu também sorrio. Saya também sorri. E Susie apenas esboça um sorriso e volta a explorar o pequeno quarto, fuçando em gavetas. Laila confere se Susie está longe o bastante e se inclina como se fosse contar um segredo.

-Saya vai morar um tempo com o pai enquanto a mãe coloca a cabeça de novo no lugar. Não prestamos nenhuma queixa, pois ela parece arrependida. Mas agora eu só quero ver vocês duas felizes. O amor de vocês é tão grande e bonito!- A mulher segura o rosto de Saya com uma das mãos, acariciando a pele com o polegar- Estou tão orgulhosa de você.

Os olhos de Saya se enchem de lágrimas assim como os meus. Primeiro vem o alívio por minha namorada estrar bem e ser tão forte quanto uma armadura. Depois vem a emoção de saber que existem pessoas que são livres do preconceito e não nos vê como um pecado.

Nos juntamos em um abraço apertado e cheio de soluços. Independente da situação em que nos encontrávamos, a guerra parecia ter chegado ao fim.

*

Chega de mentiras.

Depois do ocorrido chegamos à conclusão que levamos nossa situação adiante demais. A mentira era tanta que estava virando uma bola de neve de sentimentos e confusão, e precisamos passar por tudo isso para abrirmos os olhos e vermos que passamos do limite. Já tínhamos guardado muito segredo.

Os pais da Saya finalmente sabiam sobre a gente. A mãe ainda se recuperava do ódio de saber que a filha é lésbica por uma foto enviada anonimamente, mas com o tempo aceitaria a filha e poderia recebê-la novamente em sua casa. Enquanto isso não acontece, Saya permanecia aos cuidados do pai que a acolheu com muito carinho. Ela disse que ele tem sido mais presente nesses últimos dias do que foi em todos os anos desde que seus pais se separaram. Apesar de trabalhar bastante ele a levava para jantar fora, tomar sorvete e, às vezes, quando o trabalho permitia, assistiam a um filme e comiam pipoca com manteiga.

Em relação à Pam, posso dizer que ela não ficou feliz com a novidade. Dessa vez a reação dela foi menos exagerada e contamos para que ela não espalhe mais besteiras sobre nós. Matias foi babaca como sempre, mas nem os mais idiotas serão capazes de nos derrubar.

Fico feliz por as coisas finalmente estarem dando certo com nossos pais. Os meus ficaram extremamente chocados com o que aconteceu com Saya e se ofereceram para me levar todos os dias até a casa do pai para visita-la. Felizmente seus ferimentos não foram graves, então se recuperaria rapidamente. Mesmo assim, aceitei a carona e tenho surpreendido ela a cada visita.

Os tons de rosa do meu arco-íris Onde as histórias ganham vida. Descobre agora