13-Emma

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Meu corpo treme descontroladamente embaixo da toalha de banho. Saya estica as mãos sobre o fogo crepitante para se aquecer. Meu pai assa pão de alho em um longo espeto, e Joshua termina de arrumar as barracas.

Pego meu óculos de cima da minha mochila e o limpo com minha toalha deixando a lente mais embaçada do que já estava.

-Eu não estou enxergando nada- Choramingo para meu pai fazendo beicinho.

-Ninguém mandou as duas pularem no lago. Agora estão encharcadas com o risco de pegar uma gripe danada- Ele vira o espeto para assar o outro lado do pão.

-Culpa da Saya- Digo me encolhendo dentro do abraço quentinho da toalha- Ela que se segurou em mim.

-Mas foi você que começou a guerra de água.

- Do que ia adiantar? Já estávamos ensopadas.

-Terminei de montar as barracas- Joshua se levanta e alonga os músculos, estica as costas e meche a cabeça. Depois fareja o ar em busca da comida- Está com um cheiro muito bom.

-Venha comer! Você já trabalhou demais por hoje- Meu pai distribui os pães de alho enrolados em papel toalha e queimados nas bordas. Ele entrega uma porção caprichada para Joshua, meu primo era como um filho ele- Podem comer a vontade. Tem mais para assar.

Mordo um pedaço quente do pão. Eu nunca enjoo daquilo. O sabor de tempero invade toda a minha boca e me lembra dos churrascos de domingos de quando eu era criança, onde meu pai ficava na beira da churrasqueira enquanto minha avó balançava as pernas lentamente na borda da piscina e eu nadava alegremente sentindo o cheirinho dos assados. O meu preferido sempre foi pão de alho.

-Isso está ótimo- Saya passa a língua no lábio superior e lambe cada um dos dedos.

-Caramba. Você estava com fome- Digo ao ver que ela havia devorado um pão em um minuto, enquanto eu mal havia começado a comer.

-Digamos que eu não estou acostumada a andar muito.

-Logo vocês vão poder entrar na barraca e descansar. Veja o lado bom, vocês já tomaram banho- Diz papai, também devorando o pão de alho como se não comesse há dias.

Reviro os olhos e rio. Eu não estava planejando tomar banho dessa forma, no lago gelado e de roupas. Termino meu pão de alho e limpo os dedos na minha calça ainda úmida. Saya boceja ao meu lado e esfrega os olhos.

-Parece que a Saya não vai ficar para ver nossas histórias de terror- Diz Joshua.

-Não. Já é assustador demais acampar no meio da floresta- Ela boceja novamente- E eu estou morrendo de sono.

-Vamos juntas pra barraca. Quero dormir cedo para ver o amanhecer.

-Boa noite meninas! Fechem bem a barraca para os monstros não as carregarem para fora- Brinca meu pai.

-Boa noite pai- Grito.

Caminhamos em silêncio até nossa simples barraca amarela encardida. Saya entra primeiro se estirando no colchão de ar e afofando o travesseiro.

-Aqui está quentinho. Eu estou morrendo de frio.

-Eu até te emprestaria minha jaqueta, mas ela está ensopada.

Suas bochechas coram por um segundo antes de um sorriso aparecer em seu rosto.

-Ei! Não foi minha intenção.

Deito-me ao seu lado, encarando o teto e misturando seus cabelos azuis com meu curto cabelo escuro.

-Está brava comigo? - Ela me pergunta.

-Claro que não- um bocejo me escapa- Só estou tentando te irritar.

Conto por quantos segundos nós ficamos em silêncio. Dois minutos. Saya se meche ao meu lado se virando para ficar de frente para mim. Eu faço o mesmo.

-Emma.

-Oi.

-Eu... Obrigada por ter me convidado para acampar.

-Tudo bem.

-De verdade. Está sendo muito legal. A paisagem, a comida, a sua companhia... Tudo.

-Que bom que esteja gostando. Eu estava morrendo de medo de você estar louca para ir embora.

-Sabe- Os olhos de Saya escurecem- No começo eu achei que você tinha me convidado apenas para ficar com seu namorado. Eu achava isso até descobrir que ele é seu primo.

-Eu também achava coisas. Pensava que você estava aqui só para descobrir alguma coisa esquisita sobre mim e espalhar pro seus amigos.

-Emma. Eu não faria isso.

-Desculpa se eu não gosto dos seus amigos, mas eu ouvi o que eles falaram sobre mim.

-Ah. Desculpa-me. Eles são meio sem noção.

Encaro o teto novamente. O dia de hoje passou muito rápido e cada momento foi bom, até quando nós caímos no lago. O sorriso dela... Acho que foi uma das melhores partes. A maneira como seus olhos enrugam quando ela sorri é tão perfeito quanto seus dentes. Eu gosto da amizade de Saya. Acho que ter ela como amiga não é ruim igual eu imaginava.

-Saya- A chamo, mas vejo que ela já pegou no sono.

Fecho meus olhos também. Repasso o dia na minha cabeça e planejo o de amanhã até cair em um sono leve. 

Os tons de rosa do meu arco-íris Where stories live. Discover now