CAPÍTULO 1

Depuis le début
                                    

O cabelo preto desfiado com algumas mechas que teimam em cair-lhe próxima aos olhos é um contraponto a suas feições sérias.

Que tipo de homem de negócios tem o cabelo desse tamanho, quase ultrapassando o colarinho da camisa?

Este pequeno detalhe demonstra que ele é um homem que não se incomoda com o que as pessoas pensam, é a cereja do bolo e uma pitada irresistível de ousadia e irreverência a uma moldura austera de empresário.

É uma figura diferente e desconcertante.

O seu olhar me persegue, só que de onde estou parada, não consigo ver a cor dos seus olhos, disfarço e abaixo a cabeça.

O café pelo visto não está de seu agrado, ele desistiu de tomá-lo, deixando a xícara de lado, concentrando-se logo em folhear um livro com o ar impaciente.

Paulo chegou logo em seguida apressado, ele é o dono da Galeria Cravo e Canela, onde eu trabalho há quatro anos.

Foi diretamente para a mesa do moreno misterioso, eles se cumprimentam com um aperto de mão firme. Paulo parece nervoso, passando as mãos enormes pela testa franzida, a conversa dos dois demora um tempo, analisam o que parece ser um documento e eu retorno a minha realidade que é catalogar peças e organizar a exposição dos quadros que será daqui a poucos dias.

Em menos de duas semanas o moreno misterioso se tornou habitué da Galeria.

Não sei se é a quarta ou quinta vez que o vejo, mas o ritual é sempre o mesmo, ele se senta na mesma mesa e pede um café, me olha novamente daquele seu jeito de quebrar a espinha e repuxa os lábios, imitando algo que parece ser um sorriso.

Será que é proibido em algum tipo de estatuto, os homens de negócios sorrirem abertamente?

Ai, Minha nossa senhora, ele está se levantando.

Anda em direção a mim e eu me encolho toda por dentro, meu coração está do tamanho de uma ervilha.

Calma Antônia, respire, é bem simples, é só respirar pelo nariz e soltar pela boca, eu tento me concentrar nessa missão, respirar pelo nariz e soltar pela boca, não há nada tão difícil, em se manter sexy.

Você é uma mulher acostumada a ser paquerada, é só colar aquele sorriso de comercial de creme dental no rosto e se manter calma.

Calma é o cacete!

Analisando-me de cima abaixo, eu concluo: Eu sou mesmo uma besta quadrada, bem que eu poderia ter escolhido uma roupa melhor se eu soubesse que ele viria hoje.

Eu estou numa pegada tipo básica, casual insossa, camiseta preta, sapatilhas e um jeans lavado que pelo menos deixa o meu bumbum delineado.

Terei que invocar a Cleópatra que vive dentro de mim, irresistível até em sandálias havaianas, a confiança em pessoa, é disso que eu preciso.

Eu do alto de meus um metro e cinquenta e oito, olho para cima e constato que caminha em minha direção, cerca de um metro e noventa de altura e mais de noventa quilos de puro macho levemente bronzeado, arrematado em um terno cinza chumbo tão bem cortado, que parece uma segunda pele.

E com os botões do terno abertos, dá pra ver os músculos de seu peito moverem-se através da camisa branca. Não sei se e fico parada ou se fujo.

Permanecer parada é a melhor opção.

Até por que eu não sinto minhas pernas, elas não me obedecem, tento fazer de tudo para controlar esse nervosismo. Ele sorri de forma contida e me encara.

Os seus olhos, meu Deus do céu! Por que a mãe natureza foi tão perversa em dar-lhe aqueles olhos?

É algum tipo de ironia divina, será que precisava mesmo criá-lo bonito daquele jeito e ainda presenteá-lo com esses olhos?

OS VÉUS DE ANTÔNIAOù les histoires vivent. Découvrez maintenant