VI. Gloss de morango.

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Província de Gyeonggi, Incheon. 16 de agosto, 2019.

⁖ Im Nayeon

Os lábios doces de Jeon pareciam se projetar pra dizer algo, que, mesmo que ainda eu não soubesse do que se tratava, queria muito saber. Do Kyung-soo fez questão de atrapalhar no exato momento. Cortou seu suspiro fundo e junto, o meu. Por sua vez, ela ressoou palavras frias, — "Acho que você já tem quem ponha suas luvas, Im. Preciso ir." — fitou-me, profunda. As maçãs do meu rosto congelaram.

— Como senti sua falta, meu amor. — Disse ele, vindo em minha direção. Meus olhos estavam em seu longo e castanho cabelo, que ia saindo da sala logo após você. Ele estava completamente desfocado pra mim. Nunca havia sentido repulsa, mas sempre há primeiras vezes. De modo algum, Kyungsoo parecia malicioso, pelo contrário, mas eu me incomodava. Queria que fosse Jeongyeon. Se aproximando e tocando minhas mãos.

"Meu amor" se referindo a mim, dele soava desafinado. Destoava da minha verdade.

— Peço perdão, Sr. Do. — Retirei meus punhos debaixo dos seus, sem anseios. — Acredito que ninguém tenha te dito, mas eu não me lembro das memórias recentes. "Fratura no crânio e algumas significativas convulsões no cérebro" causaram isso — exatamente com tom de Yoo me explicando o que havia acontecido, em seu jeito gentil, o repliquei — então não me recordo de você. Nem nada que supostamente tivemos. Sinto muito.

— Nayeon... — Suas sobrancelhas arqueadas murcharam. — É sério que não se lembra nenhum pouquinho...? Por favor, tente. Hm? — Minha nuca latejava se forçasse algo. Mal sabe ele que sequer tenho interesse em reviver alguma recordação. Estou mapeando a melhor maneira de fazer aquela mulher voltar pra esse quarto.

— Sinto muito. De verdade. — Finalizei.

(...)

Kyung foi embora. Depois de um longo tempo encarando a pequena televisão no canto do quarto, decidi não mais esperar; Ir até ela. Levantei-me com dificuldade tentando não desconectar os acessos enfiados nas minhas veias e contornando meus braços do ombro à ponta dos dedos. Meus passos eram fracos e desordenados mas de alguma maneira, se eu me esforçasse, tinha certeza de que a encontraria.

Mal precisei passar muito da porta. Jeongyeon estava bem ali. Meu sorriso se desenhou espontâneo. Uma risada fugiu entre meus dentes. Ela dormia como um anjo sobre as cadeiras de plástico que ficam ao lado de todos os quartos. Deitada em seu próprio cotovelo, encolhida como quem sente frio. Claramente não havia dormido naquela madrugada. Apareceu tão cedo... eu não tinha ligado os pontos, não me veio à cabeça a falta de sono que poderia lhe causar.

— Jeonggie... — Toquei seu ombro. — Não deveria dormir aí. — Ela desesperadamente se levantou. Com os olhos esbugalhados, apavorada.

— Que diabos você tá fazendo aqui fora, Im?! Tá muito gelado. Seu soro ainda não terminou de pingar. — Pronta, ficou de pé, me checando inteiramente com as pupilas prestes a explodir. Falando e fazendo o biquinho adorável que costuma fazer. Indignada em cada silaba.

— Você ficou deitada aqui por quanto tempo? — Perguntei, risonha. Seu rosto fugia do meu.

— Vamos voltar pra dentro. — Não me respondeu, ainda sem permitir que sua face ficasse de frente com a minha. Agarrou um dos meus braços, e com a outra mão empurrou o ferro com rodinhas que seguravam as bolsas de medicação, em direção ao quarto novamente. — Sua trança está se desfazendo. O enfaixe pra cobrir os pontos vai se desprender dessa sua cabeçona se manter assim. Se mexeu muito essa madrugada?

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⏰ Last updated: May 19 ⏰

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Diante de Você - 2YEONWhere stories live. Discover now