Cartas & Corações

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Acabada de chegar à escola, percorri os corredores até chegar ao meu cacifo que é ao lado do da Lia.

As manhãs continuavam chuvosas e por vezes trovejava, acompanhado de uns gritinhos surpresos das alunas, assustadas do grande estrondo. A única luz que havia era a dos candeeiros que pendiam do teto dos corredores e emitiam uma luz amarelada, inquietos, e a pouca luz matinal que conseguia transparecer através do céu nublado.

- Olá! - saudei a Lia, que estava de cabeça enfiada no cacifo.

- Hey! - cumprimentou-me com um grande sorriso, típico dela - Vê só o que eu fiz!

Da maneira como ela acentuou a palavra "eu", era óbvio que não tinha sido ela. Estendeu-me uma grande pasta feita de cartolina rosa, cheia de corações.

- Isto o que é? - perguntei, abrindo a pasta.

- Vá, vê! Eu fiz isto tudo ontem, depois da ideia que tu e o Mason me deram de fazer de admiradora secreta! - ela tirou-me a pasta das mãos e começou a tirar papéis perfumados, repletos de corações vermelhos apaixonados e uma caligrafia esplêndida, que não era da Lia, mas era-me familiar.

- Wow! Lia, isto está tão bonito! - arregalei os olhos - Mas... ontem estavas tão contrariada quanto à ideia de faz...

- Foi o Brandon! Ele ligou-me e rapidamente combinamos e ele foi lá a casa ajudar-me! Esta letra é a dele, que a minha é muito desengonçada, ele deu-me as ideias todas e foi ele que me convenceu!

O Brandon. Como é que não me lembrei? Os corações, a letra, o perfume... Só ele teria tido uma ideia tão romântica!

- Bom dia meninas! - Brandon apareceu por trás da porta aberta do cacifo de Lia.

- Falando no diabo... - murmurei.

- Estavam a falar de mim? Ah, já sei, estavam a dizer como é que me iam partilhar quando me casar com as senhoras... - disse ele, num tom irónico.

- Não, por acaso estávamos a discutir de como é que íamos fazer para nos separarmos de ti, depois desse suposto casamento... - rematou Lia.

Brandon fez-nos uma careta em sinal de resposta e começou a falar a sério:

- Quando é que vais meter isso no cacifo do Mason?

- Shhhh! Fala baixo! Não vez que estão a passar pessoas? - ralhou-lhe Lia.

Brandon olhou para o lado e viu um grupo de raparigas que passavam a olhar para ele, tentado perceber o que se passava. Havia muita gente no corredor àquela hora da manhã.

- Não, não vejo.

- Bem, - sussurrou-me Lia - eu vou meter-lhe diariamente um bilhete com pistas no cacifo para ele descobrir quem eu sou, a começar por amanhã. Assim, no último dia, marco um sítio para nos encontrarmos e pronto!

- Era para ser ontem, agora vai ser amanhã? Amanhã já tem ele o cacifo cheio! Já tens as coisas prontas, agora é só meteres lá! - exclamei.

- Okay, calma, calma! Nós metemos hoje, pronto! - esclareceu ela - Queres ler?

- Sim - peguei na carta que ela me deu e comecei a ler em voz baixa. À medida que lia, o Brandon acompanhava a minha leitura, olhando para o teto e soletrando sem emitir nenhum som.

Querido Mason,

Já faz algum tempo que nos conhecemos cá na escola e, com esta carta quero explicar-te tudo o que sinto por ti.

É um carinho tão especial, que é difícil expressá-lo. E agora, como comemoramos o Evelin, decidi trazer-te algumas pistas em forma de enigma para seguires, se quiseres descobrir quem sou. É como um puzzle, só precisas de encaixar as peças.

1ª pista: Este questionário ajudar-te-à a descobrires um enigma:

Qual é o único céu que não tem estrelas?

Quem varreu as suas estrelas?

De que cor é o céu?

De que cor ficou essa suposta vassoura?

A minha ficará da mesma cor. Boa sorte.

A tua admiradora secreta

- És doente, mulher. Ele vai sentir-se perseguido! - reclamei. - Mas que raio de enigma é este? Se continuares assim, chega o Evelin e ainda estamos aqui.

- Nah! O Mason é super inteligente, a Sonia é que me contou! Ele adora enigmas! - tranquilizou-me ela, mas sem efeito.

- Como queiram meninas, vamos meter a carta no cacifo dele? - perguntou o Brandon, já todo contente.

A campainha soou.

- Sam, é a tua deixa... - empurrou-me Lia, colocando-me a carta nas mãos.

- Porquê a minha? - disse, mas quando me voltei para ela, já tinha sido varrida por um rio de alunos apressados para irem para as aulas, vendo-me obrigada a ir meter a carta no cacifo dele.

Encostei-me a uma das parede do corredor e fui coladinha à parede até chegar a um cacifo, diferente de todos os outros. Apesar de também ser pintado de vermelho garrido, estava cheio de assinaturas de miúdas escritas a marcador preto e um grande "M" reluzia na porta do cacifo.

Comecei a dobrar a carta de modo a que entrasse na ranhura do cacifo, mas no preciso momento em que a enfiei por uma das três ranhuras, uma voz soou em alto e bom som por entre toda a confusão no corredor:

- Hey! O que estás a fazer?

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⏰ Última atualização: Jun 23, 2015 ⏰

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