O Estranho

Neux

A três horas dali, um homem acendia um cigarro enquanto assistia às notícias na TV. As reportagens detalhavam uma série de assassinatos brutais contra pessoas negras e homossexuais, um padrão perturbador que mantinha a cidade em estado de alerta. Uma lufada de fumaça se dissipou no ar frio quando o telefone começou a vibrar, interrompendo a tranquilidade da noite. Ele olhou para a tela e reconheceu o número. Era da agência de investigações para a qual ele trabalhava.Suspirando, ele atendeu. "Aqui é Neux," disse ele, sua voz rouca de exaustão e nicotina.

"Boa noite, Neux", saudou uma voz firme do outro lado da linha. "Temos um novo caso para você. Um soldado aposentado foi encontrado morto no parque, próximo da sua área de residência. Acreditamos que seja do seu interesse."

Neux ouviu atentamente, seu olhar se fixando na noite escura à sua frente. "Entendi. Estou disponível para assumir o caso. O que sabemos até agora?"

"Ele era um soldado alemão aposentado, de idade avançada. Encontraram seu corpo esta noite, aparentemente assassinado. O parque já está isolado para a investigação. Podemos contar com você?"

"Claro", respondeu Neux, apagando o cigarro e jogando-o no chão. "Estou a caminho."

Ele desligou o telefone, deixando a fumaça do cigarro se dissipar antes de se mover. Neux era conhecido por sua astúcia e meticulosidade nas investigações. Vestindo seu sobretudo escuro, ele saiu de casa, adentrando o desconhecido que o esperava no parque.

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A noite estava fria e úmida quando Neux chegou ao local isolado do crime. As luzes dos carros policiais piscavam, iluminando o contorno do parque, transformando-o em um palco macabro para o que havia acontecido ali.

Ele foi abordado por um dos policiais, que o guiou até o corpo, já coberto por uma lona preta. Neux fez uma breve análise visual da cena, notando marcas de luta próximas ao local. Ele se aproximou do corpo, abaixando-se para examiná-lo mais de perto.

"Neux, é você?", chamou uma voz conhecida entre os presentes.

Neux virou-se para encontrar o investigador de polícia Miller, um colega com quem já colaborara em casos anteriores. "Miller, o que temos aqui?"

Miller se aproximou, franzindo o cenho enquanto explicava. "Parece que houve uma briga. O velho soldado foi esfaqueado. Não há testemunhas até agora, mas estamos investigando."

Neux assentiu, seu olhar perscrutador varrendo a área em busca de pistas. Ele analisou minuciosamente cada detalhe ao redor, desde as marcas no chão até possíveis vestígios nas proximidades.

Enquanto o tempo passava, Neux mergulhava cada vez mais fundo na cena do crime, sua mente afiada trabalhando para conectar os pontos e desvendar os mistérios que cercavam a morte do soldado aposentado. Ele examinava meticulosamente o local, seus olhos treinados capturando cada detalhe.Foi então que ele notou uma série de pegadas profundas marcadas na lama endurecida pela chuva anterior. Eram pegadas de uma bota grande, aparentemente feitas recentemente, que seguiam em direção a uma pequena trilha na mata próxima. "Algum de vocês andou nessa direção?" perguntou Neux aos homens no local. Todos negaram ter se aventurado por ali.Decidido a seguir as marcas, Neux começou a caminhar pela trilha. Após alguns minutos, percebeu outras marcas feitas recentemente no caminho. Ao emergir da mata, ele se viu diante de um antigo bar. As luzes fracas do local emitiam uma atmosfera sombria, contribuindo para a aura enigmática do ambiente. O som de música antiga e baixa preenchia o espaço, ecoando entre as paredes desgastadas do estabelecimento.

Neux respirou fundo, sentindo o ar frio da noite misturado com o cheiro de tabaco e álcool. Ele empurrou a porta pesada do bar, que rangeu em protesto, e entrou. O bar estava parcialmente cheio, frequentado por rostos cansados e desinteressados, todos envolvidos em suas próprias conversas abafadas. À medida que o investigador adentrava o ambiente, sentia os olhares desconfiados voltarem-se na sua direção. Eram olhares carregados de curiosidade e desconfiança, como se o estranho ambiente já estivesse habituado à presença de forasteiros em busca de respostas obscuras.

Neux, mantendo sua postura investigativa, examinou o local com olhos perspicazes. A decoração antiga e a mobília desgastada contavam histórias de um passado que se recusava a ser esquecido. As fotografias antigas adornando as paredes pareciam sussurrar segredos há muito guardados, enquanto a música de época preenchia o ambiente com uma melodia nostálgica.

As poucas pessoas no bar mantinham-se em suas conversas sussurradas, mas seus olhares de soslaio acompanhavam cada movimento do investigador. Neux sentiu-se como se estivesse mergulhando em um mundo paralelo, onde cada gesto, cada detalhe, era carregado de significado e possível revelação sobre o mistério que buscava desvendar.

Enquanto ele observava o ambiente em busca de pistas ocultas, a sensação de estar no cerne de um enigma impenetrável pairava no ar, aumentando ainda mais a sua determinação em descobrir a verdade por trás da morte do soldado aposentado.

Neux aproximou-se do balcão, onde um homem de poucas palavras estava atrás. Pediu uma dose de conhaque, observando atentamente o dono do estabelecimento.

"Qual é o seu nome?", perguntou Neux, sua voz calma contrastando com a tensão do ambiente.

"Sou Cloves", respondeu o homem, servindo a bebida sem desviar o olhar do investigador. Seus olhos pareciam guardar histórias de um passado obscuro, uma mistura de desconfiança e cautela evidente em seu semblante.

Neux, percebendo a tensão no ar, decidiu abordar diretamente o mistério que o levou até ali. "Estou investigando a morte de um soldado aposentado. Pode ser que você tenha alguma informação sobre."

Cloves esboçou um sorriso irônico. "Me diga, onde estava você quando um incendiário tocou fogo neste bar?"

O investigador ficou momentaneamente surpreso com a pergunta inesperada. "Eu não estava aqui naquela noite. Estou apenas investigando um caso. O que isso tem a ver com a morte do soldado?"

Cloves continuou sorrindo, seu olhar fixo no investigador. "Tudo está interligado, meu caro. Às vezes, nossos passados se entrelaçam de maneiras surpreendentes. Não acha?"

O ambiente ao redor estava impregnado com a sensação de tensão e mistério. A música antiga continuava a preencher o bar, mas agora, cada nota parecia carregada de um tom sinistro.

Neux, cauteloso, respondeu: "Não sei do que está falando. Estou aqui em busca de informações sobre o assassinato do soldado. Nada mais."

Cloves inclinou-se para frente, seu sorriso desaparecendo lentamente. "Sabe, investigador, é intrigante como certos eventos podem estar tão entrelaçados. A morte do soldado pode não ser apenas uma coincidência em sua vida."

O investigador sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O jogo de palavras e o tom misterioso de Cloves deixaram-no intranquilo. Enquanto tentava desvendar o enigma em torno do assassinato, percebeu que estava cada vez mais envolto em mistérios que transcendiam a investigação em si.

A troca de palavras entre Neux e Cloves aumentava a tensão no ambiente já carregado de mistério. Neux sentia o peso das acusações de Cloves pairando sobre ele.

"Você, investigador, é negligente quando se trata de crimes contra os mais pobres", acusou Cloves, seu olhar fixo em Neux, buscando uma reação.

Neux tentou se explicar: "Naquela noite do incêndio, cinco anos atrás, eu estava em outra cidade resolvendo outro caso. Não estava envolvido na investigação do incêndio deste bar."

Cloves parecia relutante em acreditar nas palavras do investigador. "Não importa onde você estava. Eu sei quem incendiou meu bar naquela noite. Foi aquele soldado aposentado, o mesmo que você está investigando a morte agora."

Surpreso com a revelação, Neux questionou com cautela: "Você está me dizendo que o soldado incendiou seu bar? A polícia encerrou as investigações?"

"Sim", confirmou Cloves com um olhar sombrio. "A polícia fez pouco caso e fechou o caso rapidamente."

A revelação intrigou Neux, que ousou perguntar: "Você foi quem matou o velho soldado, não foi?"

Cloves, entre um riso irônico e um olhar soturno, respondeu: "Infelizmente, não fui eu. Mas gostaria de ter sido."

O clima pesado e tenso no bar antigo tornava-se mais opressivo a cada palavra trocada entre os dois homens. A revelação de Cloves trouxe à tona uma nova camada de mistério no caso, enquanto Neux tentava juntar as peças soltas de um quebra-cabeça que parecia mais complicado a cada momento.