Abóbada Celeste

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"Seja qual for a maneira como algo acontece,
sempre poderia ser muito diferente."
— Jostein Gaarder —


Há muito tempo, tanto tempo que nem me lembro quanto, resolvi visitar um profeta, sem saber que mudaria minha vida para sempre. A ideia surgiu inocente em minha mente, mas me corroeu pouco a pouco, convencendo-me de que realmente seria melhor saber o que o futuro me reservava — ou reservava para o mundo.

Visitei o homem em sua casa, uma caverna nem um pouco confortável nas Montanhas do Norte, onde poucos de nós iam. O Deexesp não precisava de tantos funcionários dada toda a sua automação, e os Laboratórios não gostavam da movimentação perto dos foguetes. O profeta era um ermitão que desistira de seu emprego, mas sabia demais para ser enviado embora ou finalizado, então o mantiveram intacto e bem.

— Quem semeia ventos, colhe tempestades! — foi a única coisa que ele me disse, além da usual saudação educada, em meio a um sorriso terrível, enfático e fatídico.

Contei para meus amigos e colegas do Detecli, que disseram "O velho está louco" ou "Ele apenas inventa tudo" — por isso não dei muita importância ao ocorrido e segui com minhas pesquisas, que consistiam no desenvolvimento e aperfeiçoamento do Domo e do Céu, como foram dramaticamente chamados pela imprensa.

O Domo era usado desde sempre e estava praticamente perfeito, mas o Céu seria lançado em poucos dias e precisava dos toques finais. Consistia em uma estrutura em forma de icosidodecaedro truncado, formada por cento e vinte satélites de controle climático. Faltavam apenas alguns detalhes de alinhamento, então não tinha muito para dar errado.

Mas deu.

Os satélites se comunicavam por ondas de rádio, e não levamos em conta que, ao aquecer a atmosfera abaixo, eles também aqueceriam um solenoide e criariam, por consequência, um campo eletromagnético que distorceria as mensagens de posição e altura relativas. Trombando uns com os outros, uma catástrofe aconteceu. Uma tempestade assolou o mundo inteiro, retirando as gotas de chuva e nuvens de qualquer corpo da água que estivesse mais próximo, secando e inundando continentes inteiros, simultaneamente.

Houve uma tentativa de desativação do Céu, inefetiva dado o problema de comunicação com os satélites. Resultado: os Laboratórios se isolaram definitivamente do mundo e continuaram trabalhando em segredo.

A culpa é minha por não ter pensado que isso poderia acontecer.

Minhas histórias estranhasWhere stories live. Discover now