26 | life is surrender

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Há títulos que uma pessoa pode receber ao perder alguém, órfão para quem perde um pai, viúva para quem perde um esposo

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Há títulos que uma pessoa pode receber ao perder alguém, órfão para quem perde um pai, viúva para quem perde um esposo. No entanto, assim como uma mãe não muda seu nome ao perder um filho, eu nunca ouvi falar de como se chama alguém que sabe que vai morrer e nada pode fazer além de aceitar e esperar.

Talvez seja porque nada muda o fato de que continuamos sendo quem somos, de um jeito mais distorcido e até irreconhecível aos olhos externos, devemos lidar com nossa própria bagagem. Diferentemente de um órfão que perdeu seus progenitores e ganhará um guardião para lhe proteger, que poderá chorar nos braços de alguém, eu simplesmente posso chorar para mim mesma, secar minhas próprias lágrimas e abrir os braços para a morte.

Já havia se passado um tempo desde que eu havia ganho a autonomia de cuidar de mim mesma, perder pessoas que você ama, faz isso com você. Mas perder a si mesmo talvez custe um pouco mais do que eu já pude imaginar em algum momento, e assim talvez por isso eu simplesmente decidi que nada mais me custava.

A morte inevitavelmente já havia me alçado muito antes de me levar, rodeando-me em uma dança com passos complexos que me fizera parar exatamente onde eu estava, na varanda de entrada da mansão Cullen.

Quando desci o último degrau respirei profundamente, sentindo o cheiro de terra molhada e deixando com que o ar invadisse meus pulmões como se o gesto me trouxesse coragem.

— Alice? — Chamei encarando os pinheiros que se estendiam à minha frente envoltos pela neblina vinda da chuva na noite anterior.

Esperei, mesmo sem saber se ela havia me escutado, imaginando que como nos filmes, ela possuísse uma audição muito mais aguçada que a minha. E então, ela surgiu em um piscar de olhos, a uma distância que talvez imaginasse me deixar mais segura.

Seus olhos dourados correram de mim até a mochila que eu havia deixado largada no chão da entrada, sem mais ter certeza de que deveria fugir.

— Você não vai mais partir... — Um rastro de esperança atravessou suas feições. Pisquei confusamente pela sua conclusão antes mesmo que eu tivesse falado alguma coisa.

— Eu preciso entender o que está acontecendo primeiro. — Esclareci, erguendo a mão quando ela começou a se aproximar. — Como tudo isso pode ser possível? — Perguntei soltando a respiração de uma única vez, ainda incrédula.

— Como você pode ver coisas que não deveria? Coisas que não fazem parte do seu passado? — Perguntou retoricamente. — Estava destinado nos encontrarmos, Selene. Você é minha família e eu a sua.

— Somos mesmo parentes? — perguntei considerando pela primeira vez que deveria duvidar de tudo o que havia sido contado por ela.

— Eu não menti, pelo menos não completamente. — justificou-se tão rapidamente que eu quase não a entendi. — No entanto, não sou sua prima. Eu estava investigando por meus parentes e isso me levou até você. Sua avó, Anne, era minha irmã mais nova.

Alice passou a me contar sobre os detalhes de sua vida humana, dos que ela se recordava ao menos. Sua vida no Missouri e como foi levada a um manicômio por ter manifestações de seu dom ainda quando humana, havendo um grande burado em sua história até o momento em que se via acordando como uma vampira em meio a um bosque. Me contou de como não se tornou uma selvagem por conta de ter visões com uma família ao seu lado, Jasper, os Cullen e a mim, no momento em que decidiu investigar sobre sua vida.

— Eu sabia que me envolveria em sua vida, no momento em que decidi procurar por meu passado, nosso futuro se uniu e se solidificou. — Explicou-me lentamente, como provavelmente faria com uma criança.

— Então, você já sabe tudo o que vai acontecer? Tudo o que eu vou lhe falar? — Perguntei curiosamente.

— Não tudo, principalmente se tratando de você, de agora.

— Como assim?

— Você está confusa, em conflito, assim o futuro vai se ramificando conforme suas decisões.

— Você disse que eu ficaria... — Apontei confusa, me referindo a sua fala minutos atrás.

— É o que o futuro me mostra, como antes me mostrou você fugindo.

— Eu estava assustada. — Me envergonhei pela proporção de minha reação anterior.

— Eu sei disso. — Ela me ofereceu um sorriso reconfortante, aproximando-se finalmente e segurando minhas mãos.

Agora eu entendia o porquê da grande diferença entre nossas temperaturas. Como eu entendia a estranha faceta de cores em seus olhos, a forma como estava sempre tão disposta, sem nunca parar para descansar ou tomar fôlego.

A verdade é que eu já havia reparado em diversas coisas que diferenciavam os Cullen das demais pessoas, eu apenas deixava de lado, sem julgar, tudo estava mais do que perfeito para alguém como eu.

Uma família que me acolheu, cuidou e se importou comigo mais do que qualquer pessoa que me conhecia desde que minha mãe partiu. Subitamente senti falta da presença deles, haviam saído na noite anterior e não haviam retornado até então.

— E os outros?

— Acharam que você se sentiria mais segura conversando apenas comigo.

— Pelo amor, essa é a casa de vocês... — Senti minhas bochechas esquentando.

Um por um todos foram aparecendo, seus olhos queimando em âmbar.

Meu sentidos ainda estavam em alerta, parecendo querer me mostrar perigo próximo, mas eu o empurrei para o mais fundo da mente, assim como todo o constrangimento e receio. Pararam em uma distância estrategicamente segura, mas já não mais tão distantes quanto da noite anterior.

Ao atravessarem por entre as árvores, deixando para trás as sombras das árvores e se expondo ao fraco sol da manhã, um pequeno lampejo reluziu sobre seus rostos e pele exposta. Minha respiração engatou enquanto eu os observava com fascínio.

— Eu sempre pensei, tinha uma pequena intuição, que vocês eram diferentes. — Me senti na obrigação de dizer algo, seguindo meu olhar por todos os membros da família. — Não são como as pessoas normais, vocês são melhores.

E ali estava eu fazendo uma escolha para meu futuro, ou o que me restava dele. Adentrando e me rendendo a um mundo que eu sequer sonhava existir há poucos meses.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 27, 2023 ⏰

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