Capítulo 4

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Louis faltou dois dias a escola e só o encontrei no terceiro dia à tarde, na arquibancada da quadra fechada. Por causa da chuva forte que caia do lado de fora, nosso treino seria ali.

Ele pareceu indiferente ao barulho de vinte caras entrando juntos e continuou concentrado ao desenho que produzia, com os maravilhosos olhos azúis indo de um lado para o outro na folha de papel e as mãos trabalhando incansavelmente.

- Olha a sua vítima! - Sussurrou Scott quando passou atrás de mim. Depois do acontecimento na noite da festa de Marie Elizabeth, falei para ele que não iria mais participar daquela aposta idiota e que não ligava se Louis fosse gay ou não. Infelizmente, Scott era muito persuasivo e acabou me convencendo de que seria apenas uma brincadeira para saber a verdade, mas ninguém iria saber disso, só nós.

Por fim, a aposta prosseguiu.

O treinador apitou e começamos com um aquecimento, que era só passar a bola de um para outro em zig-zag o mais rápido possível. Não sei o que deu em mim, mas ergui os olhos para o Garoto-Morcego e o flagrei olhando fixamente para mim com suas duas bolotas azuis.

A bola bateu nos meus braços com força e caiu com um ruído surdo no chão.

- Sr. Styles! Onde pensa que está com a cabeça? - Gritou o treinador Hedge, deixando sua cadeira e vindo até nós. - Todos farão 100 abdominais a mais por terem um Capitão que parece agarrado aos anéis de Saturno!

Todos me olharam com raiva e não olhei para a arquibancada nenhuma outra vez durante aquele tempo.

Quando o treino acabou, eu estava encharcado de suor, cansado e louco para ir para casa. Louis não estava em nenhum lugar.

- Harry! - Hedge me chamou enquanto todo o time se dirigia para o vestiário. Sentei-me ao lado do homem.

- Você tem que se manter focado. - Começou - Nosso jogo é daqui à uma semana e temos que ganhar. Nossa vaga nas quartas de final depende só da nossa vitória.

E ele continuou falando, contando sobre as táticas de jogo e quem substituiria quem em caso de alguma mudança de última hora. Em determinado momento, o meu time por completo deixou o vestiário, deixando tudo vazio e silencioso após saírem da quadra.

Hedge percebeu isso.

- Vou deixar você ir agora. Mas lembre-se de tudo que falei hoje.

Ele foi embora e caminhei com passos lentos até o vestiário. Tudo estava tranquilo e havia água em cada centímetro quadrado do piso do banheiro. Alguns armários estavam abertos desleixadamente.

Joguei minhas coisas sobre o banco, tirei a roupa e entrei no quadrado onde vários chuveiros estavam enfilheirados.

Deixei a água fria tirar todo o calor que sentia e, quando menos percebi, meu olhos já estavam fechados.

LouisEngraçado como a primeira pessoa que me veio à mente foi ele. Quase uma semana havia se passado e eu não sabia o que fazer para me aproximar. Depois que Scott me chamou de "covarde" na frente de todo mundo, ganhar a aposta tinha virado uma vingança pessoal.

Mas, bem lá no fundo, me senti mal por buscar isso usando o garoto dos olhos azuis. Infelizmente, eu não tinha escolha.

Desliguei a água, sequei-me e vesti uma calça jeans escura limpa. Peguei meus tênis no armário e sentei no banco para amará-los.

Nessa hora, ouvi a porta se abrir. Alguém andou pelos corredores de armários e parou na frente do que eu estava

Duas bolotas azúis me olhavam.

- Achei que não tivesse mais ninguém aqui.

Soltei o ar. Nem tinha percebido que tinha prendido.

- Tive que ficar mais tempo. - Expliquei, mesmo sem ter motivos para isso. Louis tentou se aproximar, mas acabou escorregando em uma poça de água do chão e caindo para trás.

Pulei para frente e agarrei seus braços, mas neste momento, o caderno que ele segurava voou longe e uma enorme quantidade de folhas se espalharamm por todos os lados.

- Merda! - Sussurrei e então percebi que Louis e eu estávamos muito próximos: eu de pernas abertas, aguentando grande parte de seu peso com os braços e ele me olhando com uma expressão assustada. Ele se colocou de pé com um movimento brusco.

Virei e peguei uma folha, a que estava perto dos meus pés.

O desenho era impeçável e parecia mais uma foto em preto e branco. Um mulher estava sentada em um banco qualquer de uma praça com um livro aberto entre as mãos. Ela mordia o lábio inferior e uma lágrima descia por sua bochecha direita. Cada detalhe estava no lugar, cada linha, cada traço.

Olhei para Louis, que parecia em choque por eu estar vendo aquilo.

- Você que fez?

Notei como a sua franja castanha caiu sobre seus olhos.

- Sim. Observo pequenos momentos e tento reproduzi-los.

Olhei para os traços novamente e disse:

- Bem, você tem um dom.

Ele começou a pegar as folhas do chão: algumas molhadas, outras secas.

- Obrigado. - Respondeu, baixinho.

Eu estava impressionado com aquilo. Todo o meu corpo pareceu formigar e perdi um pouco do chão quando percebi um pequeno detalhe:

- Quando você desenhou isso?

Ele ergueu o rosto:

- Eu fiz o desenho essa semana, mas usei como base uma foto tirei quando tinha 11 anos.

Meu olhos se encheram de lágrimas e virei de costas para que ele não visse o que estava acontecendo.

Aquela era minha mãe.

Ela costumava passar as tardes lendo enquanto eu andava de biclicleta por todo o parque. Às vezes eu passava perto dela e ela sorria, carinhosa. Às vezes tinha lágrimas nos olhos, principalmente quando lia livros de amor impossível.

Parecia irreal justo Louis ter capturado esse momento.

- Ei, o que foi? - Ele perguntou com um tom um pouco rude, ou talvez eu estivesse sensível demais. Segurei as lágrimas e virei com um sorriso falso no rosto.

- Nada, só estou surpreso. Nunca soube que você desenhava assim.

E, desta vez, vi mais do que um menino excluído que gostava de vestir preto o tempo todo. Eu estava diante de uma pessoa que parecia sentir mais que as outras. Perceber isso me deixou ainda mais confuso.

- Meu desenho - Disse, estendendo a mão e eu devolvi a folha.

Louis foi embora sem nem mesmo dizer um "tchau".

E foi nesse momento que a ideia me surgiu...

Como não te amar? (Larry Stylinson AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora