Capítulo 8 - Lembranças Dolorosas

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E a forma como eu agi deixou tudo claro para ele, com certeza meu irmão notou o meu interesse pela garota, e com certeza Dominic verá isso como uma competição na qual ele sempre sai ganhando. Com meu irmão mais próximo posso garantir que a minha paz acabou.

Apanho meus prontuários e sigo em direção ao meu primeiro paciente do dia, caminho distraído olhando o prontuário e mais uma vez esbarro em alguém, mas dessa vez não derrubo nada ao chão; olho para a moça a qual eu havia trombada e imediatamente o ar me falta, ao encarar seu belo rosto a garota deixa um sorriso escapar.

No mesmo ato eu sorrio de volta.

Ela ajeita a bolsa em seu ombro e arruma a franja em sua testa.

— Parece que nossos encontros estão sendo um pouco bruto. — Ela brinca com a situação. — Me perdoe.

— Está tudo bem. — A voz falta e é apenas o que consigo pronunciar.

A moça me lança outro sorriso e caminha se distanciando de mim; eu não poderia deixá-la ir embora outra vez.

— Ei?! — Chamo por ela e a mesma se vira pra mim. — O dia está lindo, não é?

Você é tão idiota, Victor

Ela observa pela janela o céu nublado e chuvoso, seus olhos caem em mim novamente e um sorriso gentil se abre.

— É, está sim! Nos vemos mais tarde?

— Acho que sim.

Minhas pernas estavam bambas e eu mau conseguia me mexer, eu sentia meu coração bater descompassado e minha respiração ofegante entregava meu nervosismo. Uma garota que eu mau conhecia tinha um efeito inexplicável sobre mim, meus sentidos mudavam, minhas mãos suavam, e tudo o que eu podia sentir eram as borboletas no estômago.

Me recomponho e volto a atenção para o que estava indo fazer; atendo meus pacientes e assino a alta de alguns, eu estava ali em corpo presente mas os meus pensamentos eram todos dela. A todo momento eu me pagava sorrindo sozinho, até meus pacientes notaram a minha mudança de humor.

— É impressão minha, ou o doutor está mais sorridente? — Minha paciente questiona sorrindo.

— Porque diz isso, Alice? — Rebati, checando seus batimentos com o estetoscópio. 

— Você sempre foi fechado, doutor Evans. Era difícil te ver sorrir e ultimamente você tem estado bastante alegre.

— Eu estou levando a vida com mais leveza.

— Ou está apaixonado!

Ao ouvir aquelas palavras, meu cérebro pareceu reiniciar o sistema; nunca pensei em me apaixonar novamente, não mesmo, meu coração se trancou e não a nada que possa abri-lo.

— Vamos encerrar por aqui — termino o pré operatório, e encerro o assunto. — Vou pedir para os internos virem lhe preparar para a cirurgia, nos vemos amanhã.

Caminho pelo corredor e encontro um quarto vazio, abro a porta e entro no cômodo. Me encosto na porta e sinto meu coração se apertar dentro do peito, sinto o ar faltar e afrouxo a gravata na esperança de que pudesse voltar a respirar. Busco apoio do móvel ao meu lado, e caminho até a poltrona que havia ali e me sento.

Aquela questão me trouxe lembranças dolorosas, lembranças que eu já havia superado; a dor daquele dia voltou como se eu estivesse vivendo tudo novamente. 

A alguns anos atrás eu perdi minha esposa em um acidente, e aquela maldita dor voltou a me consumir. Elisa era tudo o que eu tinha, ela era a minha vida, o ar que eu respirava, e depois que ela se foi tudo perdeu o sentido para mim. Meu coração se fechou de uma maneira que eu prometi a mim mesmo, que jamais amaria alguém novamente.

Tínhamos pouco tempo de casados, nos casamos ainda na Califórnia e logo depois nos mudamos para Siattle. Um ano, foi o tempo em que nós fomos felizes.

Tudo nela era lindo.

O cabelo, o sorriso, os olhos, e principalmente o seu jeito de tratar as pessoas ao seu redor.

Minha cabeça não parava de lembrar daquele maldito dia, o dia em que eu a perdi para sempre.

Com o celular em mãos eu esperava ansioso por sua ligação, Elisa estava chegando de viajem, ela tinha ido visitar os pais em Vancouver no Canadá. Não ficava tão longe, umas horas de viajem no máximo; mas como Elisa era teimosa ela optou por ir dirigindo o que deixava a viajem ainda mais longa e demorada. As horas se passaram e nada da minha esposa aparecer.

Era noite de natal, e nessas datas sempre costumavam acontecer muitos acidentes nas estradas, e isso me deixou ainda mais preocupado.

Eu insistia em ligar mas as chamadas só davam na caixa postal, aquilo já estava me deixando nervoso e preocupado. Elisa nunca demorou tanto para retornar uma ligação, a aflição e o aperto no peito foram inevitáveis.

Me sentei na poltrona que havia na sala de sobreaviso na esperança de me acalmar, minha perna balançava involuntariamente demonstrando que eu já estava ansioso. Estava distraído quando de repente Lucy adentra a sala parecendo um furacão, ela fecha a porta e se encosta na mesma.

Sua expressão não era das melhores, parecia estar assustada, os olhos arregalados demonstravam pânico. Ela passa as mãos pelos cabelos ajeitando os fios rebeldes, seu olhar pousa sobre mim e só naquela hora que ela nota a minha presença na sala.

— Victor! — Ela diz espantada, certamente não esperava me encontrar ali. — Eu não vi que estava aqui.

— Eu percebi, está tudo bem? Você aparece aflita. — Me aproximo dela. — Aconteceu algo?

Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela caiu num choro compulsivo.

— Lucy, porque está assim? Me conta o que aconteceu.

— Victor, eu nem sei como te dizer isso.

— Me fala logo, por favor, Lucy!

Seus olhos marejados encontraram os meus.

— Elisa deu entrada no hospital, ela está sendo atendida neste momento.

Ao ouvir aquilo meu mundo parou, estava tudo em câmera lenta. Sem pensar muito saio correndo daquela sala e vou em busca da minha esposa; chego na emergência e de longe vejo o seu corpo deitado em uma maca, estava coberta por uma manta térmica, seu pescoço envolto por um suporte protetor.

Ela estava desacordada, e uma máscara de oxigênio a ajudava a respirar.

Me aproximei devagar e ao vê-la mais de perto eu não pude acreditar no que vi, levei as mãos a cabeça em desespero; chego próximo o suficiente e me debruço em cima de seu corpo, acaricio o seu rosto e seguro em suas mãos que estavam frias.

— Elisa! Elisa, acorde, não faça isso comigo meu amor. — Eu dizia em tom baixo na esperança dela me ouvir.

Uma enfermeira se aproxima de mim e me segura me tirando de cima de Elisa.

— Por favor doutor Evans, nos deixe trabalhar. — Ela dizia e me olhava com pena.

— Salvem ela, salvem o amor da minha vida, não a deixem morrer. — Eu dizia aos prantos.

Eles a levaram para um quarto onde iriam tentar fazer seu coração voltar a bater.

— Victor! — Lucy aparece e eu me jogo em seus braços. — Ela vai ficar bem, eles são ótimos profissionais.

Nos sentamos nas cadeiras de espera que havia ali, Lucy me contou que encontraram o carro de Elisa em uma ribanceira, o mais depressa possível chamaram os paramédicos e a resgataram; seu estado era delicado e grave. Durante aquele tempo de espera todos os momentos felizes que eu havia passado ao lado de Elisa, estavam vivos em minha memória.

Depois de algumas horas um dos médicos veio até mim para me dar a pior notícia de toda minha vida, Elisa havia me deixado, seu coração não resistiu a reanimação.

Naquela noite eu também havia morrido, mas ninguém percebeu, pois não havia sangue, só havia uma alma vazia e incompreendida que perdera para sempre o colorido de seus dias.

A Garota dos Meus Sonhos Where stories live. Discover now