Capítulo 4

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_______ Caldeirão furado _______

Ouvia pânic at the disc no volume alto na minha JBL, enquanto malhava peitoral no balcão da cozinha, minha academia improvisada por falta de dinheiro. Quando de repente meu telefone toca.
- Antônio? – Theo falou com tom estranho.
- Fala Théo!  - Respondi.
- Precisamos conversar! – Falou com tom mais estranho ainda – Você sabe o quanto te considero.
Théo por muito tempo foi minha melhor amiga, nos conhecemos no colégio, ele se chamava Eloisa, vivia isolada no canto da sala, cabelo preto no ombro e roupas pretas. Como naqueles filmes clichê de adolescentes, ela era da galera do roque e eu era do grupo popular que adorava zoar a galera "estranha". Um dia, meu amigo Venicius me chamou para uma social na praia: Álcool, cigarro, garotos e garotas. Claro que eu iria!
Lá eu bebi muito vinho barato e fumei cigarro de menta, já estava muito embriagado e fui falar com Eloisa, conversamos sobre Evanescense, magia negra e religião de matriz africana. Nunca imaginei que ela fosse tão legal, e desde então ficamos bastante amigos.
Lembro-me bem quando Eloisa chegou a minha casa de cabelo cortado em um modelo
masculino, de cara eu achei muito engraçado, mas depois comecei a gostar. E foi depois desse dia que começou sua transição, eu sempre o apoiei, inclusive escolhi seu nome: Théo.
- Pode falar irmão – Falei pelo telefone.
- Precisa ser pessoalmente, posso ir aí? – Ele quis saber.
- Estava pensando em ir a uma calourada da UFC, aproveitar minha folga, quer ir comigo? –
perguntei.
Umas das coisas boas do trampo que consegui, era a carga horária, trabalho três dias na semana e folgo quatro. Assim poderia continuar vivendo a vida como sempre gostei.
- Sim, claro, podemos nos encontrar lá. – Ele disse.
- Combinado irmão – Falei desligando o celular.
Tomei um banho rápido, vesti uma regata e coloquei meu jeans velho que tanto amo, sei lá, me sinto bem nele. Fui até o estacionamento e tentei ligar minha moto, para minha surpresa ela não funcionou - pensei – Nossa que novidade, minha moto deu problema hehe. Na verdade estava surpreso dela ainda não ter apresentado um problema na ultima semana. Fiquei triste, pois lembrei que eu não estou mais trabalhando na oficina para conseguir peças usadas. Tentei todas as técnicas de mecânica que eu sabia e ela não funcionou. Já atrasado, decidir pegar um ônibus.
Ao passar pela avenida sete de setembro, vi Claudia, ela estava em frente a um bar, olhei para
a placa: Caldeirão furado. Acho que deve ser o bar temático de Harry potter que abriu
recentemente. Ela estava de costas, mas ainda pude ver o quanto estava linda com aquela saia vermelha e um cropped preto, até pensei em descer, mas segui minha viagem, precisa encontrar o Theo, ele tinha muito que me falar. Eu estava ansioso!
Cheguei a calourada: Em minha direita jovens bebendo, à minha esquerda jovens fumando maconha, em minha frente jovens dando beijo triplo. Ah, como amo esse lugar! Olhei em meus bolsos e fiquei muito feliz pois tinha seis reais. Precisava beber algo, pedi uma garrafa de vinho barato em um camelô, acho que o nome dele é Marcos, era um tio bem legal, onde
eu ia sempre beber no período da faculdade.
Theo chegou com uma regata do lakers, tenho que frisar aqui, Theo tem muito estilo!
- Opa Antonio. – Falou estendendo a mão.
- Opa Theo – Respondi ao mesmo tempo que apertava sua mão
Falamos um pouco sobre uma serie nova que lançou, além de outras bobagens, mas eu tinha
que chegar logo ao assunto que me levou até ali.
- Cara, e a Claudia? De onde você conhece? – Perguntei de forma direta, sem arrodeio.
- Eu conheci a Claudia na época do Vila prime. – Ele falou.
Vila prime era um bar da rua Edithe, uma rua no centro da cidade, durante o dia é uma rua comercial e durante a noite abre varias casas noturnas de prostituição e cinema pornô.
- Todos a chamavam de Claudinha – Theo falou.
- Corram! Corram!
- Socorro!!!
- Eles estão loucos! - Gritaram.
Ouvia gritos de todos os lados. Olhei rápido e vi um carro passando, um homem com o meio corpo exposto para fora da janela da porta do passageiro, estava com uma arma e atirando
para cima.Pessoas corriam de um lado para outro.
Perguntei a um homem que passava eufórico.
- O que aconteceu? – Perguntei.
- É uma briga de gangues, a briga começou no bar do Harry Potter e fizeram uma chacina lá. – O homem disse.
A voz do homem ecoava em minha mente: ... No bar do Harry Potter ... Harry Potter… Chacina.
No caldeirão furado! Minhas pernas ficaram bambas, começou um suor frio em minha testa.
- Espera Theo – Falei.
Corri para a parada do ônibus e peguei um ônibus voltando, entrei junto a varias pessoas que estavam gritando e chorando.
Eu não tinha o dinheiro da passagem.
- Desculpa cobrador – falei ao mesmo tem que pulava a catraca– é uma emergência.
Passaram 10 paradas e parecia uma eternidade. Dei sinal e desci. Olhei para a placa: Caldeirão furado. Corri entre as pessoas e encontrei uma moça de saia vermelha e blusa preta, era Claudia deitada ao chão, estava sangrando na perna. Corri em sua direção, a peguei pelo braço de costas e virei seu rosto. Não reconheci aqueles olhos azuis, não era a Claudia. Eu estava ficando completamente maluco!

Antonio - Por trás da verdade. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora