Fiquei olhando-o, sem saber o que dizer. Hendry sempre soube como acalmar qualquer tempestade emocional. Nos últimos meses, eu acordava assustada com o mesmo sonho recorrente, e ele sempre aparecia, ficando comigo até eu conseguir pegar no sono novamente. Sem perceber ou forçar, ele se tornou uma parte importante da minha vida.
— Obrigada — agradeci, quase em um sussurro.
— Eu quem te devo agradecimento — ele sussurrou. Assenti.
— Tem algo que precisamos conversar — falei, deixando a seriedade assumir.
— Aconteceu algo?
— Quero voltar ainda hoje para Frosthaven — falei cabisbaixa. — Há coisas que preciso saber o mais urgente possível.
— Que coisas seriam essas?
Pressionei os lábios, recordando da conversa que tive com Éry e das informações que Valandriel havia compartilhado.
— Tem a possibilidade de eu... não ser filha dos meus pais.
Hendry ergueu as sobrancelhas, surpreso. Piscou algumas vezes, antes de questionar:
— Como assim?
— Éry costuma me chamar de "filha de Dracária", certo? — ele assentiu. — Ele me explicou a razão, e, sinceramente, faz todo sentido. Mas, ao mesmo tempo, acho que não quero que seja verdade, sabe? Seria incrível ter o sangue das pessoas que viveram nesse lugar, mas não consigo abrir mão de Frosthaven assim. É o meu lar há quase dezenove anos — baixei o olhar. — Aceitar isso não está sendo tão fácil quanto eu imaginava.
Hendry franziu o cenho, parecia ponderar sobre.
— Como se sente com isso? — perguntou.
— Confusa... mas se realmente tiver possibilidade, tenho que descobrir.
— E quais informações Valandriel passou para você?
— Está acontecendo algo em Frosthaven. Valandriel falou que tem a ver com as minas.
— Foram atacadas?! — indagou, tenso.
— Ele garantiu que não. Mas eu preciso saber se está tudo bem.
Ele abaixou o olhar, parecendo se entristecer; eu conhecia bem o motivo. Hendry também tinha uma ligação profunda com Dracária. Ficamos em silêncio por alguns minutos.
— Tudo bem. Voltaremos hoje a noite, então — assenti, com um sorriso amarelo.
— Você deve estar com saudades de casa, não? — perguntei, sentido uma tristeza súbita em meu coração.
— Kaly, — ele falou com firmeza, sua expressão tornando-se séria. — Este é o meu lar agora. Não sei se Éryagonn me expulsaria por dizer isso, mas este lugar se tornou a minha casa. E não me refiro apenas ao palácio; eu poderia viver entre árvores, se necessário... — suspirou. — Dracária se tornou o meu lar.
Abri um largo sorriso. Sentia-me exatamente como ele; em casa. No entanto, havia muitas questões para resolver, e não adiantava mais adiá-las.
— Bom, então somos Dracárianos honorários — cruzei os dedos. Hendry sorriu.
— Dracárianos honorários — repetiu o gesto.
Baixei o olhar. Lembrei do que precisava pedir. Mesmo com ele dizendo o contrário, ainda não estava convencida de que tudo o que aconteceu não foi por minha causa, e senti que aquele era apenas o começo de muitos problemas.
— Preciso que faça algo por mim.
— E o que seria? — ele franziu o cenho ao ver minha expressão. Hesitei.
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Além da Neve
FantasíaNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...
Capítulo 23
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