— Quer dizer, acordamos com as canções dos faunos na floresta! Eu nunca havia visto nenhum deles na minha vida! — começamos rir. — Essas criaturas não se dão bem em Frosthaven... e acho que nem eu conseguirei mais.

— Em Solaria há alguns, mas são praticamente domesticados. O que me lembra que preciso achar um jeito de proibir que cacem eles... — Hendry falou, ficando sério. — Acho que achei uma resposta para a sua pergunta.

— E qual é? — perguntei, encarando meus pés.

— Temos a obrigação de voltar. Não podemos ser egoístas e ficando aqui, enquanto tem pessoas que sofrem nas mãos deles. Principalmente pessoas que amamos.

Automaticamente Ava, minha mãe, os BGF e Eldric vieram em minha mente. Olhei para a pulseira no meu braço e meu peito se apertou. Eu não estaria verdadeiramente livre, se eles também não estivessem. Ficamos em silêncio por mais alguns minutos.

— Você tem razão... — foi a única coisa que consegui dizer. — Vou sentir saudades daqui. Pensar que não iremos voltar, dói.

— É o melhor. Temos que ajudar a deixar esse lugar seguro — ele falou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

Olhamos ao mesmo tempo para uma grande silhueta voando em nossa direção e nos levantamos. Éry estava retornando de seu banho "laval". Constantemente, em algum momento do dia, ele ia até um vulcão ativo nas proximidades; era longe o suficiente para a cidade não correr riscos. Éry disse que as iniciações dos feiticeiros eram feitas lá, pois era o ponto mais alto que a lua alcançava, e os Dracárianos eram imunes ao fogo.

— Que demora, lagartixa. Foi ao banheiro? — Hendry falou rindo, quando Éry pousou à nossa frente.

"É, eu estava soltando algo parecido com você!", Éry respondeu, estendendo a asa para subirmos e soltando sua risada rouca.

— Oi, grandão! — falei me aproximando. Éry desceu a cabeça até mim e abracei seu focinho.

Subimos em suas costas e voltamos para o palácio. Ao entramos, vimos outro veado morto no chão do salão de bailes; provavelmente o nosso almoço. Era o que Éryagonn trazia quase sempre.

— Hoje é sua vez de cozinhar, e não adianta reclamar, é o revezamento que você propôs semanas atrás — falei, olhando para Hendry. 

Ele fez uma expressão de súplica, pois a única coisa que sabia fazer era ensopado.

— Droga! — retrucou.

Dado por vencido, Hendry pegou o animal e jogou por cima do ombro, dirigindo-se à cozinha do palácio.

"Sinto pena do seu estômago", Éry referiu, deitando-se no chão.

— É um bom ensopado — sorri.

"Bom, é você quem come aquilo... Baixinha, em algumas semanas, será lua cheia. Eu estava olhando o vulcão, e ele está preparado... caso você queira... sabe", o encarei.

— Você sabe que não irei fazer, Éry. Me atirar em um vulcão é coisa de louco, e eu ainda não alcancei esse estágio. 

"Você é muito teimosa, sabia?"

— Já me disseram — ele bufou. 

"Só acho que você poderia reconsiderar. Apenas..."

— Éry, precisamos ter aquela conversa — o interrompi, mudando de assunto.

"Precisa ser agora? Estou um pouco cansado e com sono", falou, fingindo fechar os olhos lentamente.

— Disse que me contaria tudo quando fôssemos embora. Iremos amanhã — me sentei, de frente para ele. — Você prometeu.

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