Capítulo 11

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Será que as pessoas podem mudar tanto, e ainda assim se manterem as mesmas?

Nas semanas que se seguiram a festa, me senti alheio a tudo o que acontecia. Treinando todos os dias em um ritmo mecânico. Atuando de maneira quase protocolar nos jogos. Tive que me explicar com Antonella sobre meu sumiço durante a festa, um discussão que começou explosiva e terminou em nada. Não me surpreende. É óbvio que ela desconfia do que acontece. É mais óbvio ainda que esta é uma conversa inevitável que está prestes acontecer, mas não vai ser agora.

Pouco acontece para me situar no momento de agora. Navego pelos dias, de jogo em jogo, de treino em treino e quando dou por mim, três meses se passaram desde o início da temporada, e da chegada de Suárez. Temos uma final de campeonato a disputar. Isso pode ser bom, ter um objetivo maior sempre é bom. Nos dias que antecedem a decisão, consigo focar mais e trabalho arduamente para trazer mais esse título para o Inter Miami. Afinal, foi para isso que eu vim.

Vão dizer que é o seu último título, faz tempo que inventaram de dizer isso. Não acredite. Você ainda é capaz de coisas incríveis. Para a Copa do Mundo de 2026, espero que possamos estar juntos. A Argentina precisa de nós.

A mensagem de Rodrigo no meu celular, logo de manhã no dia da final, transborda carinho e um subtexto que não me passa desapercebido. Espero que possamos estar juntos. Respondo com gentileza, porém não deixo espaço para brechas. Me conhecendo como me conhece, acho que Rodrigo não espera mais do que isso, e por garantia, não vou além também.

Ainda me pergunto, assombrado, o que mais teria acontecido naquele escritório se não tivessem batido à porta. E ainda assim, de tudo que aconteceu entre aquelas quatro paredes, as lembranças mais caras, as mais queridas para mim, são os beijos de Suárez, seus olhos cravados em mim, sua voz dizendo com simplicidade que me ama e sempre me amou.

A lembrança dele entrando na sala e me olhando de uma forma que não consegui decifrar, isso é o que mais me destrói. O que ele sentia? Raiva? Decepção? E, na verdade, não. Algo que não vou entender tão cedo. Não nos falamos muito desde então. Só o trivial de duas pessoas que trabalham juntas, como conversas de vestiário, trocas rápidas durante os treinos em dupla, coletivas de imprensa onde nos forçam a falar como representantes do time. Depois de tanta franqueza regada a álcool, sinto que nossa espontaneidade morreu.

E como é difícil viver esse luto.

Então acontece a final, uma partida truncada que não flui como esperávamos, mas por fim acaba dando certo. Diante de um estádio lotado de torcedores fervorosos e celebridades curiosas, minha atuação em dupla com Luís mais uma vez é o que leva um time adiante. Neste caso, o Inter Miami, que vence o jogo, leva a taça e quase mata Beckham de orgulho e alegria.

Comemoramos no estádio, nas ruas no entorno, é tudo um grande caos. Um ótimo caos. E é só o começo, Beckham pontua, rouco de tanto gritar. Ainda vamos conquistar muito mais, ele continua, e meu olhar procura o de Suárez na outra ponta do trio elétrico no qual cruzamos a cidade em festa. Suárez está olhando para mim e sorri quando nossos olhares se encontram.

Acho que não existe ninguém no mundo que eu ame mais do que ele, o que é a pior e a melhor coisa que poderia me acontecer.

A noite cai e, de volta ao centro de treinamento, cada um toma seu rumo. Estou exausto, muito feliz, mas ainda falta algo. Problema meu, não vai se resolver nem agora e nem nunca. Mais uma vez, tive a minha chance e a desperdicei pela mais completa incapacidade de entender o mundo ao meu redor. Surgindo do nada, não entendo como um homem tão bonito pode ter uma presença tão discreta, Beckham chega e me para uma última vez, antes de eu entrar no carro.

— Leo! Preciso te agradecer de novo. Sem você, nada disso seria possível.

— Quem precisa agradecer a oportunidade sou eu, Becks. Dia feliz, hein?

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezWhere stories live. Discover now