Capítulo 6

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Eu disse para o Beckham: para de mandar pote de mel aqui em casa ou a Sofi vai descobrir sozinha que assinei com você, e eu quero contar eu mesmo.

Eu quero contar eu mesmo para todas as pessoas, quero que elas saibam por mim. Por isso exigi confidencialidade de Beckham. E sei como foi difícil para ele seguir isso à risca. A partir do momento que falamos ao telefone e eu dei ok à sua proposta, ele não sossegou. Queria fazer um circo, convocar coletiva de impressa para o dia seguinte, fazer anúncio mundial em seu perfil nas redes sociais, o diabo. Foi preciso muito jogo de cintura e muita conversa para convencê-lo de que seria mais interessante um efeito surpresa: fazer uma coletiva de imprensa no primeiro dia de treino da temporada, e eu simplesmente aparecer para ser apresentado como um novo reforço inesperado.

E depois, sim, poderíamos fazer um grande evento, uma festa para todo o time e amigos comemorarem juntos. O que também não me agrada, para ser sincero, mas isso eu resolvo depois. Se eu fizer tudo certo hoje, quem sabe consiga demover Beckham dessa ideia de festa depois.

Por hora, ando bem ocupado. Tive pouco tempo entre convencer Sofi de que tomei a decisão correta e organizar nossa mudança para a Flórida. Nem preciso mencionar que ela odiou ser apenas informada de uma decisão desse porte, e como esse meu gesto ia contra tudo o que combinamos em nosso casamento desde a renovação dos votos. Sofi não desconfia de nada sobre mim, mas para algumas coisas não se pode dizer que é confiança exatamente o que ela sente. Não por completo. No entanto, não vai a fundo no que desacredita, deixa tudo no terreno do não dito.

As crianças amaram a ideia de mudar, e foi nisso que me apeguei para contornar o clima fúnebre que tomou meu casamento de assalto. Já estabelecidos na cidade, passei os dias até o primeiro treino enclausurado em nossa nova casa, tentando fazer as pazes com Sofi.

Não quero perdê-la. Mas tem outras coisas que, eu descobri, não quero perder também.

Meu primeiro dia de trabalho começa de um jeito confuso. Quase perco a hora, saio de casa todo atrapalhado. Jogo o endereço no GPS e me lembro de um tempo mais simples, quando jogávamos no Barcelona e morávamos no mesmo bairro, e eu passava na casa de Messi todo dia, ele ia de carona comigo para o treino. Ele ia comigo para os jogos. Ele ia comigo quando íamos juntos deixar nossos filhos na escola. Éramos tão próximos, o mundo era só eu e ele. Como fui deixar tudo isso se perder?

Aqui em Miami, ainda não sei onde Messi mora. Devo descobrir em breve, imagino. Chego ao clube atrasado, o vestiário já está vazio. Todos estão no salão de imprensa para a preleção do técnico.

Esse é o momento pelo qual tanto esperei. De alguma forma, sem que eu me desse conta, tudo o que fiz foi para estar aqui, e por um motivo. Adentro o salão de imprensa e todos já estão em suas cadeiras. O técnico, alguns auxiliares e Beckham estão no palco. A imprensa ladeia o auditório, todos a postos com seus equipamentos para fotos e perguntas.

Nem tenho tempo de cumprimentar as pessoas na plateia, sou conduzido direto até o palco. Beckham é o primeiro a me cumprimentar, em um aperto de mão mais forte do que qualquer certeza que já tive na vida. Seu sorriso não cabe no rosto. Ele está quase chorando, na verdade. Se vira para a platéia e a imprensa:

— Desde que decidi fazer do Inter Miami o meu maior projeto em vida, venho lutando para trazer, e formar, os melhores jogadores do mundo. Estamos conquistando muito. E ainda vamos conquistar muito mais. A temporada de 2024 será a nossa melhor e eu sei disso por um motivo: o pistoleiro está conosco. Luis Suárez é nosso!

O salão irrompe em aplausos, todos ficam de pé, batendo palmas e gritando felizes. Entre todos os rostos felizes, um se destaca. Após se levantar devagar, Messi finalmente cede e bate palmas, claramente sem a menor vontade. Seu ar é de ultraje, seu lindo rosto está pálido e ele olha diretamente para mim. Ao contrário de absolutamente todas as pessoas naquele salão, Messi não sorri.

Isso não impede que Beckham o chame para o palco também. Tudo já virou uma grande bagunça, todos falando alto e rindo. Postado ao meu lado, Messi se limita a olhar para a frente, sem me dar atenção. É enervante. Não acho que eu mereça. Beckham toma a palavra novamente.

— A dupla de ataque mais importante da história do futebol agora é nossa! Messi e Suárez! Vocês têm ideia da felicidade que é ver vocês juntos novamente?

Messi cora imediatamente. Eu dou risada, é involuntário. Quando me vejo em uma situação constrangedora demais, minha resposta é rir. Messi fica mais contrariado ainda, acha que estou debochando. Tiro o microfone das mãos de Becks e me dirijo à plateia formada pelos jornalistas e pelos meus novos colegas de time.

— Obrigado, Beckham. Preciso agradecer publicamente aqui a oportunidade de estar representando o Inter Miami. Vamos construir coisas lindas juntos. Agradeço também a chance de estar novamente com meu colega Leo Messi. Acho que ele sabe da importância que tem em minha carreira e da falta que me fez durante todos esses anos que estivemos longe. Bom, é hora de recuperar o tempo perdido e fazer acontecer novamente. Vamos nessa!

O salão vem abaixo em aplausos, gritos, assovios. Me surpreendendo, Messi me abraça com força diante de todos e percebo que seus olhos estão marejados. Quem sabe eu não esteja tão errado no que eu sinto. Quem sabe exista, sim, uma chance.

Só preciso entender os meios para fazer essa chance se tornar realidade. De algum modo, agora essa é a minha única prioridade. Entender como eu e Messi podemos ficar juntos novamente.

Pra ter você | Livro 06 | Messi & SuárezOnde as histórias ganham vida. Descobre agora