—Obrigada por não me deixar passar por isso sozinha, Juliano. —Disse com os olhos cheios de lágrimas.

Confesso que ouvi-la me chamar pelo apelido "Juliano" mexeu comigo. Fiquei alguns segundos em silêncio, mas antes que ela corrigisse para "Julian", eu disse:

—De nada, miss simpatia.

Ela finalmente sorriu.

A viagem seguiu em silêncio por um bom tempo, eu estava tenso ao lado dela, não sabia se deveria dizer algo, ou simplesmente curtir a vista em silêncio.

No momento do desembarque seguiríamos cada um para o seu destino e talvez, não nos veríamos mais novamente, e isso não seria nada agradável, mas eu estava sem coragem de dizer algo, também tinha dúvidas se deveria iniciar essa conversa, afinal, ela está com aquele cara agora.

—Sei que não é um lugar propício, talvez nunca haverá um lugar pra isso, mas... eu gostaria de me desculpar com você, por mais que eu não me lembre de quase nada daquela noite, sei que te magoei. Me arrependo todos os dias. —Kira diz repentinamente, ela parecia ter tirado um peso das costas ao dizer aquilo.

—Eu também preciso me desculpar, também fiz a maior burrada por estar triste, e por mais que não lembre de tudo, sei que te magoei também, sinto muito. —Respondo.

Ficamos mais um tempo em silêncio novamente.

E então caiu a ficha, foi como se uma lâmpada acedesse sobre minha cabeça como nos desenhos animados.

—Percebeu o mesmo que eu? —Pergunto.

—O quê?

—Nós não nos lembramos de muita coisa, quero dizer, e se o que acreditamos que vimos não for a verdade?

Kira assente, como se subentendesse o que eu queria dizer.

—Me lembro de estar muito mal, muito lenta, e mal conseguir andar, eu não sei porque estava daquele jeito, eu estava bem antes. —Inicia, buscando no fundo da mente o que aconteceu.

—Já eu, não conseguia ficar parado, mas eu me lembro que a última vez que estávamos juntos, eu bebi a água que estava na sua mão e desde então eu fiquei louco.

—A Água. —Ela pareceu assustada. —Também fiquei lenta após tomar aquela água.

—Aquela água... —Inicio, mas sou interrompido.

—Foi o Tácio que me deu. —Ela diz imediatamente.

Pra mim, já estava mais do que claro que o mestre cuca tinha drogado a água para que a Kira ficasse vulnerável ao ponto de conseguir forjar uma traição.

Antes que eu pudesse dizer algo ela completa.

—Quando você sumiu, quem me encontrou e levou pro lado de fora da balada, também foi o Tácio.

—Isso não pode ser coincidência. —Digo tentando controlar minha raiva. —Quem me arrastou para fora da balada foi a Maressa, e justamente para onde você estava junto com esse cara.

🏀🏀🏀

Kira

Como eu não percebi isto antes?

Agora tudo faz sentido. Vi o nome dela nos contatos dele, e quando eu perguntei, ele disse que é o nome de uma nutricionista.

Maressa sempre foi apaixonada pelo Julian, e o Tácio sempre demonstrou aversão ao Julian e muito afeto à mim.

Acha que... isso pode ter sido um plano alinhado entre o Tácio e a Maressa para separar a gente?—Pergunto.

—Tenho certeza. —Julian diz olhando nos meus olhos.

Naquele instante, o estrondo de uma explosão ecoou pela cabine. O avião tremeu violentamente, nos assustando. Minhas mãos se agarraram com força ao Julian. Logo um alarme sonoro começou a tocar, dificultando a comunicação com os pilotos.

—O QUE ACONTECEU? —Julian perguntava em vão.

O cheiro de fumaça invadiu o ar, máscaras caíram de um compartimento de cima, o pânico começou a se espalhar como fogo, mas a voz do piloto soou firme pelo sistema de alto-falantes, tentando acalmar nossos nervos abalados.

—Julian e Kira, mantenham a calma, perdemos uma de nossas turbinas, teremos de fazer um pouso forçado, mas iremos ficar bem, fiquem em seus lugares. Ele explicou a situação com uma serenidade que contrastava com o caos que reinava à nossa volta.

A turbina à minha esquerda estava em pedaços, despedaçada em uma explosão de metal e fogo. Olhei para a janela, mas a visão era turva devido à fumaça que se espalhava pelo ar. O avião inclinou-se perigosamente, e senti o estômago se revirar em resposta à mudança brusca de altitude.

—Não posso correr o risco de não te dizer isso uma última vez. Eu te amo, miss simpatia. Te amo desesperadamente.

Encarar a possibilidade de um adeus parecia tortura, meu corpo tremia dos pés a cabeça, mas consegui dizer:

—Eu te amo pra sempre, Juliano. —Eu o beijo com urgência.

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